quinta-feira, 25 de abril, 2024
26.1 C
Natal
quinta-feira, 25 de abril, 2024

Artigo – A cadeira do poder

- Publicidade -

Tomislav R Femenick – (www.tomislav.com.br)

O jogo político é o jogo dos atores em busca do poder e todos os sistemas políticos estão estreitamente relacionados com os processos do poder e governo. O que diferencia um sistema do outro são fatores próprios do coletivo da sociedade e dos indivíduos que a compõem. Isto é, a forma como a sociedade está sistematizada politicamente, os métodos estabelecidos para organização das diversas facções (quer do ponto de vista jurídico, quer de sua aplicação prática), como os indivíduos se comportam nas agremiações políticas e quais os espaços nelas disponibilizados para eles. O que faz uma sociedade politicamente diferente das demais é o conjunto das suas instituições políticas e sociais, sua estrutura formal e o grau de representatividades e influência que as pessoas, considerada a sua individualidade, têm nas decisões dos partidos políticos.

Na segunda metade dos anos 50, embora se destacasse das demais lideranças que formavam a UDN, quer por sua atuação e visibilidade como deputado federal ou por sua atuação na chamada grande imprensa nacional, no Rio Grande do Norte Aluízio Alves ainda era apenas mais um entre tantos lideres que lutavam para ganhar espaço na linha de frente do partido. Falando do nascimento de sua candidatura para o governo do Estado, disse Aluízio Alves:

– “A minha eleição para deputado federal, na Constituinte de 1946, deu-me condições para ver a política com outros olhos. O meu contato constante com pessoas do nível de Afonso Arinos de Melo Franco, Adauto Lúcio Cardoso, Magalhães Pinto, Herbert Levy, José Sarney, Carlos Lacerda, Aliomar Baleeiro, Bilac Pinto, José Bonifácio de Andrada e outros, até do PSD, resultou em uma abertura na minha maneira de ver a política. Se antes já sabia que o importante não era apenas mudar a pessoa que se sentava na cadeira do poder e que o povo deveria participar desse processo não só com o voto mas como beneficiário da mudança, daí para frente passei a entender a responsabilidade das lideranças políticas nesse processo: o líder tem que ser, ao mesmo tempo, o condutor e o instrumento das mudanças”.

– “O início do processo de minha candidatura ao governo do Estado aconteceu em 1958, quando lancei o programa ‘Um amigo em cada rua’, que alavancou o meu potencial de voto em Natal, onde obtive um voto entre cada três eleitores” – continuou o ex-ministro. “Suponho que esse fato gerou um certo receio em outras lideranças da UDN a ponto de, antes mesmo do lançamento de fato da minha candidatura, fazer com que elas iniciassem a montagem de uma operação de sabotagem ao meu nome”. Um dos fatos, aceito por Aluízio Alves como integrantes desse processo, teria sido o apoio de Dinarte Mariz à candidatura de Dix-huit Rosado ao Senado, em detrimento às pretensões de José Augusto Bezerra de Menezes, o homem que apadrinhou e que sempre esteve com Aluízio.

Analisando esse episódio, o pesquisador Sérgio Trindade diz que “Aluízio Alves tornou-se, já naquele momento, a grande força emergente nessa configuração política norte-rio-grandense. O governador Dinarte Mariz teve então a concorrência não só dos tradicionais opositores do PSD e da esquerda local, mas também da própria UDN, tendo de administrar uma luta interna pelo controle do partido, a UDN, com a força emergente de Aluízio Alves”.

Perguntado o que o teria levado a buscar o cargo de governador e por que ele queria sentar na “cadeira do poder”, Aluízio respondeu:

– “Embora trazido à política pelas mãos de José Augusto, ligado a setores oligárquicos da política do Estado e já tendo vivido mais de dez anos como deputado federal e por alguns analistas classificado como neo-participante do sistema, sempre me senti como um ator não adequado ao papel que representava. Foi por isso que procurei me aproximar verdadeiramente do povo. Queria sentir seus anseios, suas necessidades e até suas ambições. Queria sentir isso sem intermediários, sem lideranças regionais, sem cabos eleitorais. Era uma nova mentalidade, um novo estilo de luta que o Estado necessitava para se modernizar, para acabar com a luta do ‘poder pelo poder’. O interessante é que minha consciência desse fato era uma coisa meio nebulosa, sem clareza, sem linha mestra a seguir, sem estudos científicos ou algo parecido”.

– “Desejava o poder não para ser o poderoso, mas para fazer uso do poder” – prosseguiu Aluízio Alves. “Fazer uso do poder não em benefício próprio, de um partido, de um grupo ou mesmo de umas pessoas. Em benefício do Estado, como ente diretivo, e da população como objeto final da ação do Estado. O Rio Grande do Norte era um Estado atrasado, sem plano de desenvolvimento, sem perspectivas, sem futuro. O mais grave é que isso não parecia preocupar as lideranças tradicionais. Todos, com honrosas exceções, pareciam contentes com o estado das coisas. A pasmaceira, a apatia e a indolência política se reproduzia nos planos da administração pública, da economia, da educação, da saúde, da segurança pública. Enfim, se esparramava por todos os lados, contaminando todos os campos, toda a gente. A maioria dos políticos poderiam ser pessoas cultas, boa gente, mas seriam bons administradores? O critério de escolha dos candidatos estava mais em suas relações de amizade do que em seu potencial em fazer algo pelo povo. Eu queria que as coisas fossem diferentes”.

Entretanto as dificuldades eram grandes, até mesmo para efetivar sua candidatura a governador, em 1960. No seu partido o candidato oficial era o deputado federal Djalma Marinho, um dos mais brilhantes homens públicos do Estado; no PSD o celebre “major” Teodorico Bezerra. Como o governador Dinarte Mariz praticamente massacrou as pretensões de Aluízio dentro da UDN, só havia uma saída: fazer uma composição com o PSD, adversário histórico de sua agremiação de origem. Isso somente foi possível pela interferência direta do presidente Juscelino Kubitscheck, que forçou a realização de uma nova convenção, para substitui o nome de Teodorico, já registrado na Justiça Eleitoral, pelo nome de Aluízio. Esses entendimentos resultaram em um equacionamento da interlocução entre esses atores – políticos, partidos políticos e o poder público –, elementos fundamentais na transformação das forças da sociedade e do poder do aparato estatal.

– “Muito já se falou na campanha de 1960” – continuou o ex-ministro. “Das passeatas, das caminhadas, do verde, do caminhão da esperança, do marketing revolucionário para a época, da composição e da formação das forças políticas que se agregaram em torno do meu nome ou dele fugiram. Já publicaram artigos, ensaios, monografias e livros. A maioria deles, principalmente os tidos como os mais eruditos, insistem em falar em uma campanha populista. Falam ‘populista’ quase sempre com um sentido pejorativo. Ora, o populismo sempre esteve ligado à dissolução das estruturas partidárias e eu sempre estive ligado a um partido político. Somente me afastei da UDN, quando a liderança local queimou meu nome como candidato. Outro aspecto do populismo é sua ligação com oligarquias, antigas ou novas. Mesmo quando ligado a José Augusto, eu representava o novo dentro do partido – naqueles anos não havia partido que não fosse oligárquico”.

Esse aspecto – o contraditório entre os partidos políticos e o povo –  pode ser visualizado em seu discurso de posse como governador do Estado, quando Aluízio Alves disse:

– “Sai dos conciliábulos políticos e fui para a rua, ao encontro do povo. Enquanto os partidos discutiam ou manobravam, pus-me à sua disposição para receber o seu apoio ou o seu combate, sem acenos a compromissos clandestinos, sem renuncia aos ideais que, em 1945, erigi como signo e bandeira da minha vida pública. Não me movia a ambição de governar…”.

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas