A carta nunca chegou ao cantor, pois o editor da revista tratou de guardar como souvenir e muitos anos depois, quando Lennon já havia morrido, colocou em leilão. Um amigo de Tilston arrematou e o presenteou nos seus 70 anos.
Da vida pra arte, da arte de volta à vida, me emociona a história real acontecida em Caicó e que ganhou relevância nacional após ser replicada nas redes sociais e ser estampada no UOL. E também com a essência dos Beatles.
Como milhões de fãs dos Fab Four, Karlo Schneider acumulou por anos discos e outras coisas da banda. Com a chegada do primeiro filho, uma menina que batizou de Bárbara (seria homenagem ao amor de Ringo?), teve uma ideia.
Motivado pela paixão paterna inerente aos corações sensíveis, ele pediu aos amigos mais íntimos que escrevessem cartas para o seu bebê, para que fossem lidas no dia em que completasse 15 anos. E as cartas foram escritas.
As fantasias de criança também fizeram parte daquela ideia e ele imaginou um jogo de caça ao tesouro no futuro, com a filha Bárbara procurando as cartas para ler como um original presente de aniversário, algo maior que uma valsa.
Schneider escondeu as missivas nas capas dos discos dos Beatles e os anos foram passando, a menina crescendo e ganhando a companhia de dois irmãozinhos. Ao seu lado, a esposa Alcione o acompanhava na expectativa.
Mas, havia uma pandemia no meio do caminho e Karlo passou dificuldades como tantos milhares de brasileiros. Talvez ele tenha até lembrado da canção “Help”, “quando eu era mais jovem, eu nunca precisei da ajuda de ninguém”.
Nas vozes dos quatro avisando, “mas agora esses dias se foram”, ele se socorreu colocando à venda as raridades que colecionou nos bons tempos. E os discos foram saindo da sua posse, e se espalhando pelos sebos do País.
Junto com os discos foram também as cartas para a menina Bárbara, que no ano que vem completa 15 anos, a idade que o pai sonhou vendo-a lendo cada mensagem. E há dois meses veio o pior, Schneider pegou Covid e faleceu.
E se para ele, aquelas cartas eram pequenos tesouros para as buscas da filha debutante, era ele próprio o maior dos tesouros que Bárbara guardava no coração. Há poucos dias, a escritora Ulla Saraiva contou o caso no Twitter.
Foi o bastante para emocionar milhares de almas amorosas e naturalmente criar um mutirão para achar as cartas perdidas endereçadas a Bárbara Schneider para que ela possa ter em mãos o tesouro que o pai escondeu.
No desfecho do clássico O Pequeno Príncipe, o autor implora que se alguém vir um menininho fazendo perguntas, escrevam dizendo que ele voltou. Pois se alguém achar uma carta num LP dos Beatles, façam uma filha sentir que o pai retornou para lhe entregar o presente maior da sua vida.
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