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“as dificuldades estão sendo grandes ”

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Felipe Gurgel – repórter de Esportes

Uma das primeiras ações que o presidente do América tomou, quando viu o time ser rebaixado para a série C do Brasileiro, foi contratar um superintendente de futebol. O escolhido foi Sérgio Papellin, ex-bancário, que se envolveu no futebol no time do Fortaleza, em 2004. De lá para cá, conquistou cinco títulos estaduais, obteve um acesso para a série A, com a equipe cearense, e também teve algumas tristezas. Nessa entrevista exclusiva para TRIBUNA DO NORTE, o novo chefe do setor de futebol do alvirrubro, revela os planos do clube para a próxima temporada, as conversas que teve com os dirigentes americanos antes de acertar com o clube, a situação financeira do América, a polêmica envolvendo o goleiro Rodolpho e como estão as situações de renovação e dispensas no clube.

Para o torcedor que ainda não lhe conhece, quem é Sérgio Papellin?

Fui funcionário de banco por 18 anos e  em 2004, fui convidado para assumir o projeto do Fortaleza. Sempre fui envolvido no futebol, fazendo pesquisa de jogadores, trabalhando com times. Comecei como gerente de futebol e consegui ser campeão estadual e conquistamos o acesso para a série A do Brasileiro no meu primeiro ano desempenhando essa função. De 2004 até 2007, quando foi minha primeira passagem pelo Fortaleza, conquistamos três títulos cearenses. Perdemos apenas o de 2006. Em toda minha curta carreira como gerente, conquistei seis títulos estaduais e um acesso para a Primeira Divisão do futebol brasileiro. Infelizmente, não vivemos apenas de alegria. Se o Fortaleza conseguiu ficar n série A em 2005, amargamos o rebaixamento em 2006. Depois, em 2008, fui para o Remo. Conseguimos conquistar o campeonato paraense, mas, mais uma vez, fui rebaixado para a série C, devido a problemas políticos e também extra-campo. Voltei ao Fortaleza ano passado e fomos mais uma vez rebaixado, também para a Terceira Divisão do Nacional. No geral, tenho seis títulos estaduais, um acesso com o Fortaleza e três rebaixamentos.

Como surgiu a oportunidade de vir trabalhar no América?

Sempre tive o desejo de morar em Natal. Nós, que trabalhamos no futebol e viajamos o país todo, pude ver que aqui é a melhor cidade para se viver. Quando o presidente Clóvis Emídio soube que estava me desligando do Fortaleza, me procurou e disse que queria contar comigo aqui no América. Comecei a acompanhar o time ainda durante a disputa da série B. A primeira partida que assisti, foi a vitória sobre o Paraná, no Machadão. Mas, a situação do clube já era muito complicada, dentro da competição. Infelizmente acontecem esses rebaixamentos. Mas, se você conseguir tirar alguma lição disso, pode até fazer bem ao clube. Agora é pensar no que vinha sendo feito de errado, na trajetória do América. Mas, estou muito feliz em estar aqui.

Mesmo com pouco tempo de clube, já está dando para analisar as carências do América, em relação à montagem do time?

Tenho conversado muito com o Dado Cavalcanti, técnico, com o Moura, que é gerente de futebol e com o próprio presidente, que são as pessoas que tomam conta da parte do futebol do América, justamente para fazer essa análise. A dificuldade quando você cai de divisão são muito maiores, primeiro, em termos de receita. Por isso que estamos tentando manter uma base. Nem sempre, quando um time é rebaixado, todos os jogadores são ruins. Sempre é possível contar com alguns atletas que fizeram parte do grupo. Se confirmarmos essa base, vamos começar a contratar em cima das necessidades que o técnico ache necessárias.

O lado financeiro, nesse momento, pesa muito?

O nosso orçamento, dentro da realidade do futebol brasileiro, é muito pequeno. Por termos que disputar a série C, não vamos ter a mesma visibilidade que teríamos se tivéssemos continuado em uma Segunda Divisão. E outro ponto que está dificultando muito, é que o estadual só começa no dia 30 de janeiro. Vamos passar quase dois meses sem nenhum tipo de receita e os jogadores só querem fechar contrato se for para receber o mês de dezembro, coisa que o América não pode fazer no momento, devido a sua limitação financeira. As dificuldades estão sendo grandes, mas, dentro do orçamento que nos foi passado pela direção do clube, estamos selecionando ao máximo, para montar um time já para brigar pelo campeonato estadual, que o América não ganha há oito anos. Se um clube de massa como esse, fica tanto tempo sem conquistar um título, alguma coisa de errado existe. E, para tudo voltar ao normal, o início é sendo campeão estadual. Atingindo esse objetivo, montando uma boa base, devemos fazer umas quatro contratações para iniciarmos a série C.

 Você já conhecia o técnico Dado Cavalcanti?

Não. Tive a oportunidade de conhecê-lo quando cheguei aqui no América. Apesar de ser um rapaz jovem, me pareceu ser um profissional muito competente, estudioso e que, na minha opinião, vai crescer muito dentro do futebol brasileiro. Tenho certeza que ele vai desenvolver um grande trabalho aqui no América.

Qual o projeto apresentado pela direção americana, para você, visando a próxima temporada?

O primeiro motivo para eu vir para cá, foi o lado político do clube. Nas minhas passagens por Fortaleza e Remo, enfrentei muitos problemas por questões políticas dos clubes. Existem pessoas, que mesmo torcendo pelo clube, troce contra determinadas diretorias do próprio clube. Conversei muito com o Ricardo Bezerra, Paulinho Freire, Alex Padang, com Clóvis Emídio e todos eles me  passaram uma tranquilidade muito grande em relação ao ambiente interno do América. Todos afirmaram que estão unidos e, com eles juntos o América fica muito difícil de ser batido. Esse foi o primeiro motivo para eu vir para cá. O segundo, foi o lado financeiro. Sei que não vamos ter um ano excelente para trabalhar, mas, fiquei muito feliz quando, na segunda-feira, logo depois que foi rebaixado, o presidente estava pagando os salários do jogadores. Isso é para ser uma prática normal em qualquer empresa, mas sabemos que no futebol não funciona assim.

E como funciona, então?

Se você for procurar saber, pode ver que a grande maioria dos times que foram rebaixados, em qualquer divisão, os salários vão estar atrasados, dois, três meses. E isso dificulta e muito um projeto. Mas, fiquei muito feliz em saber que o América está cumprindo com suas obrigações. A imagem que o América tem no cenário nacional é de um clube sério e pagador. E isso facilita o trabalho. Então, o projeto que o presidente me apresentou é de resgatar a hegemonia do futebol potiguar, que há muito tempo vem sendo do nosso maior rival, que é o ABC. E por isso que temos que conquistar o próximo campeonato estadual, para também, resgatar a autoestima da torcida.

Como vai ser a montagem do elenco? Serão jogadores jovens ou atletas conhecidos?

Fazendo uma análise bem fria da coisa, um jogador que está disputando a série A ou série B, não vai querer vir jogar em Natal. O campeonato paulista, que é muito forte e rico em finanças, está aberto e leva quase todos os jogadores de qualidade para lá. Então, vamos ter que garimpar atletas. De preferência, jogadores jovens. Até porque, as competições que o América vai disputar em 2011, exigem jogadores jovens, rápidos e de força. Estamos analisando jogadores aqui do Nordeste, do Norte do país, para podermos montar uma equipe jovem, mas, com qualidade para conquistar o título estadual. Vamos procurar jogadores que não estão sendo aproveitados pelas equipes dos grandes centros e tentar trazê-los para cá. Mas, sempre dentro da realidade financeira do clube.

Como estão as conversas de renovações com os jogadores que fizeram parte do elenco americano nesta temporada?

Alguns jogadores estão acertados e outros apalavrados. Mas, só posso lhe dar essa confirmação depois que todos assinarem os contratos. Não adianta ficar especulando, porque isso gera um desgaste muito grande com a torcida. Só vamos divulgar nomes de jogadores quando tudo estiver assinado no contrato. Já acertamos com o Washington, Robson e Elielton. Existem também aqueles jogadores que ainda estão com contrato vigente. O goleiro Tutti, o zagueiro Cléber e o atacante Marcelo Brás interessam ao clube. Se conseguirmos ficar com esses jogadores, já vamos ter uma espinha dorsal do time e assim, o mais breve possível, divulgar os novos contratados.

Com quantos jogadores o elenco do América deve contar na próxima temporada?

Vamos aproveitar alguns jogadores da base, que já vinham treinando com a equipe profissional. Vamos esperar o resultado do time que vai participar da Taça São Paulo de futebol Junior e assim, deveremos contar com cerca de 28 atletas para o início do Campeonato Estadual.

Qual a real situação do goleiro Rodolpho?

A princípio estamos tentando outro atleta para a posição. E acho isso bom para o clube e também para o jogador. Em minha opinião, um atleta não pode ter um ciclo muito grande em um clube, porque ele acaba se acomodando e não rendendo tudo aquilo que é capaz. Por isso acho saudável que ele saia para respirar novos  ares. Fora o fato que o salário dele é muito alto para os padrões do clube e acho que vai ser muito difícil a permanência dele no América.

Você também veio para estruturar a parte física do América?

Com certeza. Já fui conhecer o Centro de Treinamento e pude constatar que precisam de algumas melhorias. Existem dois campos das categorias de base que estão necessitando de reformas, assim como o alojamento dos atletas. Estamos trabalhando para tentar montar uma academia para os jogadores, tudo visando diminuir os custos para o clube. Além de dar um maior conforto para quando os jogadores chegarem aqui para a pré-temporada, marcada para o dia 3 de janeiro, já que eles vão passar um bom tempo dentro do clube, treinando.

A construção de um estádio é importante?

Eu acho importante sim. Principalmente aqui, já que o Machadão deve ser demolido para as obras da Copa do Mundo de 2014. Com ele fechado, vai fazer uma falta muito grande, principalmente para o América. A previsão é de que o Machadão só seja demolido depois do estadual, e isso nos deixa mais tranquilos. Um estádio faz falta, porque ali é sua casa, seu local de treinamento e também se torna seu alçapão em dia de jogos.

As categorias de bases terão oportunidades na próxima temporada?

Senti muito quando peguei a relação do elenco americano e vi pouquíssimos jogadores revelados pelo clube. Aquilo me deixou muito triste. Lá no Fortaleza tínhamos essa preocupação de revelar jogadores. Inclusive vários jogadores daqui do Rio Grande do Norte, foram revelados lá no Ceará. Isso não pode acontecer. Temos que investir nas bases para formar jogadores. E não, perder esses jovens para outros centros e depois, quando eles estão formados, o clube ter que pagar para contratar esses mesmos jogadores que deixamos escapar. O que falta é incentivo. E essa é uma das nossas preocupações minha e do presidente Clóvis Emídio. Temos que voltar a ser formadores de atletas.

Com uma folha salarial reduzida, é possível montar um time competitivo?

Mesmo com pouco investimento, vamos contratar jogadores para conquistar o título estadual. Não viria para cá se não fosse com esse pensamento. Não admito um clube como o América ficar tanto tempo sem conquistar um estadual. Mesmo com um orçamento reduzido, estamos garimpando jogadores bons, dentro da nossa realidade.

A profissionalização dos setores é o futuro dos clubes?

Não vejo outra saída. Já acabou o tempo dos abnegados. Isso não existe. Temos que profissionalizar todos os setores, tanto futebol, quando marketing, assessoria de imprensa, departamento médico, fisioterapia. Tudo tem que estar em ordem para podermos cobrar dos jogadores.

O que você poderia deixar de mensagem para a torcida do América?

Torcedor tem que cobrar, sei que eles querem resultados, e estão certos. Peço que confiem no trabalho que está sendo feito aqui, e  nos apoiem nesse início.

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