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As fortunas

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Vicente Serejo
Outro dia, mergulhado na mesmice e prisioneiro de mais uma manhã epidêmica, cometi um ímpeto de sinceridade – confessei a Valério Andrade que nasci pobre e feio, desprovido das duas fortunas que podem acalentar os sonhos de um homem. Ele, generoso com seus amigos, minimizou meu infortúnio como pôde, mas não convenceu. Compreendi sua compaixão. Ele é suspeito. Brilhou nos maiores jornais e revistas daquele Rio feérico, romântico e consagrador. 
Ora, Senhor Redator, o brilho da beleza ilumina e consagra acima de todos os defeitos, sejam congênitos ou adquiridos ao longo da vida. Ainda cedo encontrei Rejane e, por isso, não precisei procurá-la muito tempo. Casamos em plena juventude, eu repórter de jornal e ela uma jovem, inteligente e jornalista, assessora de imprensa da antiga Ancar, aprovada em concurso e, por isso, lá mesmo se aposentou. Nada mais nos foi dado ser. Só escrevinhadores de jornal.  
 Depois da fortuna material, herdada ou conquistada, só a fortuna da beleza salva a alma dos terríveis perigos desta vida. A feiura espreita a sorte. Pode não ameaçá-la, a ponto de ser fatal, mas exige uma eterna vigilância diante dos dias e das noites. Lembro a genialidade de Guimarães Rosa quando advertiu que viver é muito perigoso. Newton Navarro foi além. Um dia, durante uma entrevista, alertou que viver em Natal era perigosíssimo, ele que era genial.
Imagine, Senhor Redator, enfrentar a vida tendo que aprender a viver a cada dia e com apenas um ofício: trocar palavras por margarina, feijão e pão. Ora, é desafiador. Os bafejados pela sorte, reconheço, muitas vezes nem notam. Levam a vida como se tocassem uma flauta e assim vão indo, sem calços e sem percalços. Comigo, não. A luta é renhida até hoje diante no bestunto de alguns que se imaginam acima de todas as coisas, como centuriões de impérios.
Ganhei o mundo, é verdade, ou boa parte dele, e enganei a própria sorte para nunca ter a tristeza dos vencidos. Trouxe comigo, pelo mundo afora, todas as coisas bonitas que não pude ter de verdade. Fiz das sensações que guardo nos olhos, até hoje, uma fortuna que, se não serve a ninguém, acalenta a mim. Cada um, acredite, inventa seus acalantos, se sempre falta a palavra que enternece. A melancolia tem um lado bom – ensina a acreditar na grande alegria de viver. 
O cronista Antônio Maria disse numa crônica que o feio só sabe que é feio no colégio. Nos desfiles nunca é escolhido para a comissão de frente. Só uma vez fui convidado, numa festa cívica, a sair no pelotão das bicicletas. Pedalando devagar, com todo garbo que a farda de gala emprestava, como se fora uma segunda pele. Mas tinha uma boa razão de ser: com as bicicletas à frente não havia o risco de se atropelar os colegas que vinham logo depois. Foi a única vez.   
CÂMARA – Ninguém pode vislumbrar, com segurança, via citações nas pesquisas, como será o novo plenário da Câmara Municipal. Mas a persistência de alguns é um indicativo plausível.
QUEM – Preto Aquino, Luiz Almir, Kleber Fernandes, Nina Souza, Paulinho Freire, Fernando Lucena e Júlia Arruda estão entre os mais citados na pesquisa Consult. Só as urnas confirmam.
MAS – Um detalhe mostra que o voto para vereador tem forte condimento pessoal: o petista Fernando Lucena, um crítico mordaz do governo Fátima Bezerra, está entre os mais lembrados.
TRISTE – Mais um casarão urbano e histórico corre o risco de tombar, destruído pelas picaretas da especulação: a casa de Tomaz Salustino, em Currais Novos. Vai ser a sede de uma farmácia.  
LUTA – O artista plástico Mocó – reside nos EUA – gravou um vídeo mostrando a beleza do casarão que os herdeiros pretendem vender. Diante da pobreza de consciência das instituições.   
VOTO – A vereadora Júlia Arruda – PCdoB – faz uma campanha limpa no rádio, na tevê e nas ruas, levando suas ideias, projetos e leis. Uma postura de honestidade como o natalense precisa.
SABOR –  Sebrae acerta ao convidar Adriana Lucena para a consultoria do Sabor Potiguar, no início de dezembro. É quem melhor conhece o saber-saber e o saber-fazer da mesa nordestina.
1935 – O jornalista Carlos Peixoto tem um romance no forno, inspirado na revolução comunista de 1935. A história se passa num governo que durou três dias e lançou o jornal ‘A Liberdade’.
ARAÇÁ – Mano Targino manda um pouco da doce safra de araçá nas suas terras, em Macaíba. Araçá lembra os versos de Caetano Veloso: “Araçá azul fica sendo / o nome mais belo do medo”. Lidos, à época, como a triste metáfora de ‘Garrastazu’, o Médici, general da repressão.
OUTUBRO – No dia 15 de um outubro assim, sem nenhum fulgor, tombava sem vida, vítima de enfarte fulminante, Antônio Maria Araújo de Morais que no próximo ano, 1921, faria cem anos. Ele que até ensinou a todos nós, na sua canção, que “a noite é grande e cabe todos nós”.  
JABUTI – Não é pelo conjunto dos seus sambas de grande sucesso que Martinho da Vila está entre os cotados para o Prêmio Jabuti. Mas pelo seu livro – ‘1918, crônicas de um ano atípico”. No próximo dia cinco sai a seleção final com todos os nomes que vão ser submetidos ao júri. 
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