terça-feira, 23 de abril, 2024
32.1 C
Natal
terça-feira, 23 de abril, 2024

As últimas homenagens

- Publicidade -

LENÇO - No adeus a Aluízio Alves, um dos símbolos da campanha de 1960,  é deixado ao lado do caixão por um dos muitos admiradoresA manhã de domingo foi marcada por lágrimas, demonstrações de dor e até desmaios. Por volta das 10 horas, já não havia espaço no Palácio da Cultura para tantas homenagens. O povo aos poucos foi se aglomerando na Praça Sete de Setembro e um carro de som tocando as marchinhas da campanha de 1960 Aluízio dava o tom de saudosismo à ocasião. Na fila, as pessoas faziam coro cantando “Cigano Feiticeiro”, “Trem da Esperança”, “Frevo da Gentinha”, “A Ala da Vitória”, entre outras.

A dona-de-casa Francisca Dutra de Moraes, 84 anos de idade, foi até o velório vestindo verde, homenageando àquele que, para ela, foi o maior líder político do Estado. “Sou tão apaixonada que tenho um filho chamado Aluízio. Foi meu marido, aluizista ferrenho, que escolheu o nome”, disse ela, que também tem um neto chamado Henrique Eduardo – nome de um dos filhos de Aluízio Alves.

Assim como ela, Doralice Silva, 72 anos, estava emocionada. Ela levou um quadro, com a foto autografada do ex-ministro, até o caixão. “Eu acompanhei toda a trajetória dele. Ele vai deixar muita saudade, pois o Estado está perdendo um cristão maravilhoso, que só fazia o bem aos outros.”

O presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do  Norte (TRE), desembargador Dúbio Ferreira Cosme esteve no velório logo cedo, por volta das 6h30, e junto com a esposa, participou de algumas orações rezadas pela irmã Carmem Alves. “A morte dele representa uma grande perda. Não só para os políticos, como para o povo em geral. Aluízio Alves trouxe modernização política à forma de fazer administração pública no Estado.”

Quem também levou os votos de solidariedade foi o engenheiro Rômulo Macedo, um dos técnicos requisitados por Aluízio, em 1994, para elaborar o projeto da transposição de águas do São Francisco. “Aluízio representa a visão do desenvolvimento do Rio Grande do Norte. Tudo que existe de relevante hoje no Estado saiu da cabeça dele.  E o mais impressionante é que tudo tenha sido idealizado cinco décadas atrás. Ele foi um visionário e colocou o RN no mapa do Brasil”, declarou ele, que lamenta o fato de o ex-ministro não ter vivido para ver o projeto de Transposição do São Francisco concretizado. “Nossa missão agora é colocá-lo em prática, pois significa o futuro do Estado”, informou.

Lágrimas, lembranças e uma sensação de vazio

Gente de terno, pessoas de bermuda e chinela, um homem com uniforme de futebol, uma garota levada no colo da mãe. A multidão que se reuniu em frente ao Palácio da Cultura, para o último adeus a Aluízio Alves, era tão diversificada quanto foram seus eleitores em seis décadas de vida pública.

O político que era conhecido como cigano por passar dias e noites viajando entre os municípios potiguares, sem dormir, desta vez fez pessoas de todo o Estado virem ao seu encontro. Na subida da Junqueira Aires, 20 ônibus, de todas quatro zonas de Natal, se aglomeravam. Nas ruas próximas ao Palácio da Cultura, automóveis com placas de São José do Mipibu, Macaíba, Mossoró, Angicos, Pedro Avelino, Pau dos Ferros, Caicó, davam uma noção do prestígio que  Aluízio desfrutava.

Ao meio-dia, o fluxo menor permitiu que os admiradores e amigos se aproximassem em poucos minutos do caixão onde repousava o corpo do ex-ministro. Com o passar do tempo, no entanto, a multidão tomou todo espaço em frente ao Palácio da Cultura e a fila foi se alongando em várias voltas. Muitos sequer tiveram tempo para chegar próximo do caixão onde estava o corpo do presidente de honra do PMDB.

Não foi o caso do auxiliar de serviços gerais, Fernando Alves de Freitas. “Estou desde ontem vindo aqui a toda hora. Ele foi tudo para minha família”, afirmou, ao lado da bicicleta cheia de galhos e bandeiras verdes com que transitou na cidade durante o dia. “Nós viríamos de qualquer lugar para ver Aluízio Alves”, disse a líder comunitária Maria da Silva Cleide que, junto com um grupo de populares de Igapó, carregava bandeiras e fotos do ex-governador.

Por volta das 14h40, quando se iniciou a missa de corpo presente, as músicas de campanha, tocadas em um sistema de som e cantadas pelo público, deram lugar a um silêncio contemplativo de. Acompanhando tudo por um telão instalado do lado de fora do Palácio da Cultura, os “bacuraus” prestaram a última homenagem a Aluízio Alves. Em orações e cânticos, a “gentinha” de Aluízio Alves se despediu do jornalista às 16h10, quando o cortejo seguiu em direção ao cemitério, deixando para trás lágrimas e muitas lembranças.

O adeus a um idealista

Autoridades e dezenas de pessoas anônimas, todos no Palácio do Governo, se encontraram para o último adeus ao político de maior expressão do Rio Grande do Norte, ao anoitecer do sábado passado, durante o velório de Aluízio Alves. Alguns admiradores fizeram questão de levar recordações à época das campanhas históricas que o deputado e ex-governador disputou ao longo da singular trajetória política.

Os filhos Henrique Alves e Aluízio Filho permaneceram até a madrugada ao lado da urna onde estava o homem que destacavam como pai exemplar e inspiração às ações no campo político e empresarial. As homenagens não cessavam e partiam dos amigos ou daqueles que costumavam encontrar o ex-governador a cada novo comício ou peregrinação pelo Estado.

De alguns desses anônimos, vieram homenagens surpreendentes, como um homem de aproximadamente 50 anos. “Morreu!… morreu o maior homem da história do Rio Grande do Norte. E não haverá outro igual a ele”, disse em voz alto que por instantes emudeceu o salão do Palácio do Governo onde o corpo do ex-ministro era velado. O homem deixou o local rapidamente, se perdendo em meio a outros tantos anônimos que subiam a escadaria do prédio.

Até a meia-noite do sábado, vários políticos de todo o Estado renderam homenagens com o último aceno ao ícone da política norte-rio-grandense. Por volta das 21h30 do sábado, a vice-prefeita de Natal, Micarla de Souza, chegou ao velório e deu um longo e demorado abraço de solidariedade no deputado Henrique Alves.

“A gente tem esse elo, esse laço, e era o que estava dizendo para Henrique. Foi uma experiência que já passei, ao perder não só o pai (ex-senador Carlos Alberto de Souza) como o melhor amigo e a referência política, além do líder empresarial. Falei muito para Henrique que sei da dor que ele sente agora e que se permita sentir, sem ficar forte”, disse Micarla de Souza.

“Aluízio foi uma pessoa independente e apaixonante. Ele fez a história dele independentemente de quem estava no poder. É alguém que vai fazer falta. Alguém reverenciado até pelos adversários políticos”, disse a vice-prefeita na tentativa de descrever o ex-governador.

Mesmo de madrugada, muita gente foi ao velório

O vaivém de pessoas no Palácio da Cultura só começou a diminuir por volta de zero hora, quando ficaram a velar o corpo de Aluízio Alves somente os familiares e amigos mais próximos. Mas durante toda a madrugada não parou de chegar gente, em pequeno número, para dar o último adeus ao ex-ministro e jornalista.

O filho, deputado federal Henrique Eduardo Alves, visivelmente exausto, deixou o local por volta de 1h30, e foi para casa descansar. Poucos minutos depois, o corpo de Aluízio Alves, que estava sendo velado desde o fim da tarde em um dos salões do primeiro andar do prédio, foi transferido para o piso inferior, de frente para a entrada do Palácio da Cultura. A família quis facilitar a visitação, que continuaria até a missa de corpo presente. Quem também esteve ao lado do caixão do o filho mais novo de AA, Henrique José Alves, jornalista como o pai, que mora no Rio de Janeiro.

A importância de Aluízio Alves pôde ser medida também pela quantidade de homenagens em forma de coroas de flores. Algumas vieram de todos os setores e partes do Rio Grande do Norte e também de fora do Estado – uma delas em nome do presidente Luís Inácio Lula da Silva.

O ex-deputado federal João Faustino disse que Aluízio Alves soube ser paciente e, ao mesmo tempo, forte na adversidade. “Da mesma forma que soube ser parcimonioso na vitória”, afirmou. Ele acrescentou que o jornalista e ex-ministro pode e deve ser considerado também um pedagogo porque formou uma escola de líderes.

O empresário Alexandre Firmino, amigo da família, lembrou da época que trabalhou com Aluízio Alves durante em uma das duas ocasiões do jornalista como ministro. Mas destacou a criatividade e ousadia do ex-governador no marketing político. Na opinião do empresário, Aluízio foi pioneiro e criou coisas que até hoje são de vanguarda.

Quem também esteve lá foi o artista plástico Cesar Rahsec. Ele esculpiu em argila um busto do líder político. “Meus avós são aluizistas, meu pai, Pedro Gonçalves, era policial e só não perdeu o braço  porque  Aluízio conseguiu leva-lo para o Rio de Janeiro. Pensei em tudo isso enquanto fazia essa escultura.”

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas