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As vozes e gestos da Cantata

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Todos os dias, desde o início do desse mês, o microfone ecoa pelas paredes do Ginásio Poliesportivo de São Gonçalo do Amarante. A voz é da diretora e coreógrafa, Diana Fontes. Ela ensaia diariamente atores e participantes do coro que vão apresentar o grande espetáculo ao ar livre, “Cantata para os Santos Mártires”, em São Gonçalo do Amarante, entre os dias 26 e 30 de outubro, no Monumento dos Mártires de Uruaçu, atividade patrocinada pelo Governo do Estado.

Igor Fortunato encarna Jacob Rabbi: o papel é desafiador

Igor Fortunato encarna Jacob Rabbi: ”o papel é desafiador”

A cena é o massacre de Uruaçu. O personagem, digamos, “do mal”, Jacob Rabbi (interpretado pelo ator Igor Fortunato) é o mercenário alemão contratado pelos holandeses no século XVII, para comandar as negociações que levariam à conversão dos católicos para o calvinismo. Diante da resistência daqueles, Rabbi parte para o massacre. Cada gesto é exagerado e firme. Dentro de alguns segundos, Rabbi “arranca” o coração do leito Mateus Moreira (Gláucio Câmara) na cena. A Cantata é um espetáculo que envolve teatro e canto, geralmente com temática religiosa. As falas dos personagens, escritas pelo diretor musical Danilo Guanais, se misturam com as notas musicais, que são fortes e invadem todos os sentidos do expectador. Impossível não sentir de vez em quando arrepios de emoção.

Tudo acontece ao mesmo tempo durante o ensaio. Enquanto atores e coro passam uma cena ao centro do Ginásio. A atriz e cantora Badu Morais, 27, sentada num banquinho de madeira, ao mesmo tempo ouvia a canção através de um fone de ouvido e a entoava, numa voz irremediavelmente afinada. Fazer esse espetáculo, para ele tem um significado muito forte, porque ela é católica desde criança. “Minha mãe me trazia ao Santuário dos Mártires. É uma emoção diferente, eu me emociono e choro em cena. Sempre fui muito encantada por esse tipo de história. Quando pequena eu desenhava o massacre, cheguei a pintar uma, tela com a ajuda da minha mãe, da Capela de Cunhau”, rememora ela que, quando a Cantata para os Mártires for apresentada, ela entrará em cena fazendo dois personagens: Maria de João (um dos três que contam a história) e Nossa Senhora.

O experiente ator Pedro Queiroga fará o personagem Zé Maria de Amélia. Para ele, já acostumado em fazer autos religiosos, a “singularidade” deste é a montagem, realizada em pouco tempo, contando uma história que faz parte do imaginário da maioria dos atores e pessoas do coro. “Está sendo um ganho para eles poder trocar experiências com a direção. Teve-se o cuidado, nesse espetáculo, de não vilanizar os índios – que foram cooptados pelos holandeses – uma preocupação que foi trazida por eles próprios, alguns mesmo até descendentes de índios. Eu penso que esse espetáculo será um legado para a cidade”, conclui. Do mesmo jeito, pensa o ator Alex Ivanovich, que fará o padre André de Soveral, no palco. “Os atores daqui estão experimentando a música, dentro de um espetáculo teatral. Eles estão criando coisas”, comemora ele, que nasceu em São Gonçalo do Amarante, e está familiarizado com a cena cultural local.

Impossível passar despercebido da vibração de Igor Fortunato em cena. Natalense, que mora em Mossoró, e já chegou a fazer Lampião em Chuva de Bala, Igor diz que fazer Jacob Rabbi é muito desafiador porque, ao contrário de Lampião que tinha receio de entrar em Mossoró, Rabbi “não tinha freios”. Também cantor, ele diz que juntar as duas coisas é maravilhoso. Apesar do intenso trabalhos de cantar e atual, o ator  já está “com todas as falas decoradas” e tanta manter alimentação regrada. “A montagem exige muito da presença do ator. Evito beber, sair muito à noite, para não me arriscar em pegar uma gripe”. O ator Manoel Ferreira, 82, fará um holandês na montagem. É o mais velho em cena. Natural de Orobó (PE), ele chegou em São Gonçalo em 1959. Participou do primeiro Auto sobre os Mártires na cidade. “Estou maravilhado com esse trabalho. A dedicação da diretora e dos atores, que estão aqui de corpo e alma”.

Elenco reúne atores experientes de Natal e São Gonçalo

Elenco reúne atores experientes de Natal e São Gonçalo

Além de Diana na direção geral, a Cantata traz na equipe a produtora Danielle Brito, o figurinista Riccardo San Martini. Também a assistência de direção  de Gleydson Almeida e Flávio Henrique; projeção mapeada de Wilberto Amaral e texto das composições de Danilo Guanais, baseadas nos escritos do padre Antonio Murilo de Paiva e monsenhor Paulo Herôncio de Melo.

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