Assassinatos aumentam 12% de janeiro a abril no RN

Repórter

O número de Crimes de Violência Letal e Intencional (CVLIs) no Rio Grande do Norte  apresentou crescimento de 12,02% no primeiro quadrimestre de 2020.  Em números absolutos, foram registradas 550 mortes violentas de janeiro a abril de 2020, contra 491 mortes no mesmo período do ano passado. Os dados são do Observatório da Violência Letal e Intencional do Rio Grande do Norte (OBVIO/RN).

De acordo com os números, tabulados entre 1º de janeiro de 31 de abril deste ano, foram 405 homicídios dolosos; 64 intervenções policiais; 45 lesões corporais seguidas de morte; 27 latrocínios e nove feminicídios. Confira os dados detalhados e a comparação com o mesmo período do ano passado ao final da reportagem.

Para o cientista criminal e coordenador do OBVIO/RN, Ivênio Hermes, que também faz parte da Coordenadoria de Informações Estatísticas e Análises Criminais (Coine) ligada a Secretaria de Estado da Segurança Pública e da Defesa Social (Sesed/RN), embora o Estado tenha registrado um ano de redução de crimes violentos em 2019, de 26,3%, a estatística não veio acompanhada de aparelhamento das instituições de segurança.  

“Nesse caso, após o ano de redução de quase 27%, sem aumento de efetivo, sem diretrizes nacionais de segurança, sem aumento na disponibilidade financeira para ações de segurança, o Estado começou a experimentar a naturalização de números positivos que não se sustentam sem investimento pesado em segurança”, analisou Ivênio Hermes.

A Polícia Militar do RN aguarda reforço no efetivo, que não tinha concurso público desde 2005. A PM está capacitando cerca de mil novos agentes, aprovados no certame de 2018. Outros 824 suplentes, aprovados e convocados num concurso em meados da década passada, lutam na Justiça para realizarem o curso de formação de soldado, visto que já passaram por todos os processos até a apresentação dos exames de saúde, restando apenas o curso de formação. Um processo movido na Justiça pelo Governo do Estado e Ministério Público do Rio Grande do Norte travou o andamento do caso.

 A pandemia de coronavírus forçou o Comando da PMRN a suspender o curso de formação dos aprovados em 2018. A expectativa do Governo do RN era colocar os novos policiais na rua no segundo semestre deste ano. Em relação à Polícia Civil, um concurso é esperado desde 2016, com 301 vagas – sendo 230 para agentes; 47 para delegados e 24 para escrivães.

Das modalidades de CVLIs expostas pelo OBVIO, três delas apresentaram crescimento em relação ao ano passado: homicídios dolosos, latrocínios e mortes por ação do Estado, que consiste na intervenção da Polícia numa ação criminosa. O cientista criminal Ivênio Hermes explicou que a intervenção policial “segue a dinâmica do enfrentamento dos criminosos a uma polícia enfraquecida em números, aumentando os riscos de embates que resultam num maior número de perdas de vidas, de ambos os lados, mas ainda temos a balança pendendo para o lado dos policiais”. 

Com relação aos roubos seguidos de morte, Ivênio destacou: “os latrocínios tem uma dinâmica interessante, pois varia entre a agressividade do criminoso e a reatividade da vítima, duas variáveis que tem se mostrado cada vez mais constantes. Aquilo que poderia ser um simples roubo à mão armada se transforma num latrocínio a depender dessas variáveis”.

Para o cientista social e professor da IFRN, Francisco Augusto Cruz, a alta nos índices já vem sendo analisada desde fevereiro e os especialistas em segurança pública já esperavam um ano mais violento, segundo ele, pelo fato de outros Estados do Nordeste terem apresentado crescimento no final do ano passado. “A alta nacional segue sendo impulsionada pelo Nordeste. Em 2017, 2018, que já vinha impulsionando para cima o índice no Brasil, foi o que impulsionou para baixo em 2019 e agora está voltando de 2020 apesar desse contexto de isolamento que estamos vivendo”, declarou.

Apesar de os potiguares e dos brasileiros estarem vivendo as situações de isolamento social e até lockdown (medida mais rígida para contenção da pandemia), o pesquisador reflete sobre o aumento nos índices.

“Esse crescimento dos crimes violentos nas ruas têm sido uma reação do rearranjo das organizações criminosas em busca de sobrevivência e manutenção provocada pela queda no tráfico de drogas. Sabemos que o tráfico de drogas diminuiu e os latrocínios têm aumentado no Rio Grande do Norte e no Nordeste como um geral”, ressaltou.

De acordo com reportagem da TRIBUNA DO NORTE do último dia 30 de abril, a violência no Rio Grande do Norte apresentou crescimento no quarto mês do ano, primeiro mês completo em que se vivenciou a pandemia de coronavírus. Entre os dias 1º e 27 do mês, o Estado registrou 142 CVLIs contra 111 no mesmo período de 2019. O aumento foi de 28%.

De acordo com o cientista Ivênio Hermes, com a chegada da pandemia, os criminosos têm tentado buscar outros meios de atuação, “haja vista a perceptível ausência da clientela recorrente”. 

“Outro revés da pandemia é o exaurimento de todas as ações estatais em busca da contenção da Covid-19, levando inclusive as forças de segurança a agirem em outras frentes, além de que, as diárias operacionais antes direcionadas para o combate ao crime, agora precisam ter um direcionamento para a saúde pública”, comentou o especialista.

O ano de 2019 em comparação com 2018 registrou uma redução de 26,3% no número de Crimes Violentos Letais e Intencionais no Rio Grande do Norte. De acordo com os dados da COINE, de janeiro a dezembro de 2019 foram registrados 1.446 CVLIs. Em 2018 foram contabilizados 1.963 homicídios no RN. De acordo com a Sesed, o ano de 2019 registrou o menor índice de homicídios desde 2015.