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Assentados ganham com exportação

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Renata Moura – repórter de Economia

Na última terça-feira, o voo TP146, da TAP, partiu do Aeroporto Augusto Severo (RN) levando mais do que passageiros do Rio Grande do Norte. No porão da aeronave, 768 caixas, carregadas com 2.688 Kg de mamão, seguiram em pallets, com destino à Europa. O embarque marcou a retomada das exportações da Cooperativa dos Produtores de Canudos (Coopec), após quase nove meses de pausa forçada pela crise internacional e o cenário desfavorável às vendas para outros países. Com a retomada gradual do apetite europeu, a ideia é, no entanto, que os embarques sejam feitos semanalmente, de forma ininterrupta. É de olho nesse objetivo que os agricultores  tem trabalhado e investido duro.

Ao todo, 25 famílias da Agrovila Canudos, uma das duas que compõem o assentamento Rosário, no Rio Grande do Norte, fazem parte da cooperativa e encontraram, no trabalho conjunto, oportunidades de ganhar dinheiro com o serviço no campo, de onde tiram ao menos um salário no fim do mês e um inédito poder aquisitivo. A área de produção, em que foram assentadas, no final da década de 90 pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), fica a 50km de Natal, em Ceará Mirim. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o município tem a cultura do mamão como segunda de maior dimensão entre as lavouras permanentes da cidade, atrás apenas da cultura do coco da baía. E é lá, na plantação de mamoeiros, que gente simples como Damião dos Santos e Zacarias Felipe da Silva têm se apegado para mudar de vida.
Em 2009, famílias cooperadas investiram R$ 700 mil na compra de equipamentos.
Colhendo literalmente bons frutos do cultivo, eles estão investindo sem parar na atividade. Só no ano passado, o desembolso conjunto das famílias deles e das outras 23 cooperadas chegou a R$ 700 mil, com recursos próprios. A cifra foi aplicada na compra de produtos  como tratores, adubadeiras, cangurus – equipamentos que elevam o trabalhador para colher o mamão direto na copa – e um caminhão. Com o dinheiro, a fruta também foi certificada, para atender a exigências do mercado externo. Este ano, a previsão é que  destinem mais R$ 250 mil para desenvolver o sistema de irrigação e a plantação na “nova roça’’, uma área que deve aumentar em 7,5 hectares os 15 hectares em que plantaram os mamoeiros.

O poder de fogo dos cooperados é decorrente do próprio trabalho no campo, direcionado principalmente para o mamão, mas complementado por outras culturas. Para dar início ao plantio, há sete anos, eles contaram com crédito bancário, concedido pelo Banco do Brasil. Por meio do Pronaf A, cada família pegou R$ 15 mil emprestados. O financiamento, com carência de três anos, tem prazo de pagamento de seis e é honrado com parte da renda obtida com o que comercializam. Nem todas as famílias – somadas elas são 120 no assentamento – quiseram, porém, investir o dinheiro de forma coletiva.

As que decidiram fazer a aposta, respondem, atualmente, por uma produção de mamão que chega a 20 toneladas por semana. Cerca de 80% do volume é destinado ao mercado externo, em grande parte via empresas parceiras. “Mas queremos cada vez mais eliminar o atravessador, que coloca o selo dele na nossa fruta sem assumir os riscos da produção”, diz a fundadora e integrante da Coopec, Livânia Frizon. “Queremos nós mesmos vender a nossa fruta. E é isso o que estamos começando a fazer, em parceria com outras cooperativas’’, acrescenta.

Cooperativa retoma exportação

O mamão produzido pela Coopec já foi comercializado em parceria com a Caliman Agrícola, que detém mais de 90% das exportações da fruta no RN, e com a exportadora Gaia. A primeira incursão direta da Cooperativa no mercado de exportações foi concretizada em setembro de 2009. Foram três embarques de mamão, no período. Em cada remessa, 384 caixas, com 1.344 Kg da fruta, foram enviadas para uma distribuidora com atuação na Alemanha, na Inglaterra e na Espanha. “Vendemos cada caixa por 4,5 Euros, o que, por embarque, nos rendeu 1.728 Euros. O bom do mercado internacional é que temos preço médio o ano todo, diferente do que ocorre no mercado nacional, onde há muitas oscilações”, diz o presidente da Coopec, Júlio César Souza Melo.

Os mercados lá fora foram prospectados com um consultor. Também foi ele que orientou sobre os passos que deveriam anteceder as vendas. Em cerca de quatro meses, a cooperativa se cadastrou com o Ministério da Agricultura adequou o packing house – área de embalagem das frutas – e conseguiu o certificado da GlobalGap, indicativo de que o processo segue boas práticas agrícolas.

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