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Assentamento instalado por Lula sofre com falta de infra-estrutura

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PROJETO - Carajás II tem capacidade para 1.500 famílias, mas apenas 800 estão instaladas

Edilson Damasceno – Jornal de Fato

Dois anos e nove meses depois da instalação oficial do Assentamento dos Carajás II, em 20 de dezembro de 2003, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a realidade da antiga Mossoró Agroindustrial (Maisa) não remete à promessa de transformar o local em assentamento-modelo na América Latina. Tanto que em 20 de dezembro do ano passado Lula não retornou a Mossoró, como prometera em 2003. Hoje, Eldorado dos Carajás se encontra em fase de aprimoramento dos projetos de irrigação. Das 1.150 famílias que deveriam estar assentadas, cerca de 800 já moram no local, que ainda não possui escola nem posto de saúde. A água usada nas casas da agrovila Pomar, por exemplo, vem de um poço.

Desapropriada em 2003, ao valor de pouco mais de R$ 9 milhões, a antiga Maisa conserva um pouco do que era. A diferença é que a área foi dividida em dez agrovilas, sendo três em Baraúna e sete no território de Mossoró, conforme informações da superintendência estadual do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra/RN).

Aos 71 anos, o agricultor José Pedro diz que ainda espera que a situação do assentamento Eldorado dos Carajás II melhore. “Estamos passando por um bocado difícil. Não estamos colhendo porque falta água.”

Embora a casa em que ele mora disponha de um pequeno reservatório, não existe rede de distribuição de água. O que existe é uma calha (buraco na terra) à espera dos canos que levarão água de uma das quatro caixas – que ainda estão sendo construídas nas agrovilas – às casas. Por enquanto, o que vem é captada em um poço. “A água não chegou ainda. Para buscar é fácil, pois vem em um depósito, de carroça”, diz Rosa de Lima, 56, moradora da agrovila. “Às vezes fico tão perturbada que pergunto a Deus quando as coisas vão melhorar”, diz.

O pomar de acerola, que deveria estar em plena produção, ainda não dá lucro aos assentados. César Uemerson de Almeida, 21, lembra que as chuvas deste ano favoreceram boa safra. Contudo, faltou incentivo e boa parte estragou.

A questão relacionada à irrigação é que a bomba elétrica no poço foi colocada recentemente, depois que os moradores interditaram a BR-304 para pressionar o Incra a agilizar a solução do problema. “A bomba anterior era fraca para irrigação; tinha pouca capacidade de vazão. Agora estamos esperando que o sistema de irrigação seja concluído para que a água chegue ao pomar”, comenta Uemerson.

Outro problema é que, embora exista energia elétrica nas casas – através do projeto Luz para Todos -, falta iluminação pública. José Pedro diz que os moradores pagam taxa de iluminação pública. “À noite é um breu só”, declara, mostrando a conta de luz.

Incra promete instalar  unidades de saúde

Até o final do ano, as 80 famílias residentes no assentamento Eldorado dos Carajás II, localizado nas terras da antiga Maisa, vão dispor de duas unidades de saúde. A afirmação é da gerente executiva da Saúde, Dorinha Burlamaque. Ela acrescenta que os postos tinham a previsão de conclusão para o mês de outubro. Contudo, enfatiza que a obra não seguirá o cronograma inicial. “Acredito que até o final do ano as unidades estarão em funcionamento”.

O atendimento médico aos assentados de sete das dez agrovilas do assentamento está sendo feito na unidade de saúde da Vila Maisa. A gerente informou ontem  que são três equipes (médicos, enfermeiros e demais profissionais da área) atendendo as pessoas. Quando os postos do assentamento estiverem concluídos, cada um terá uma equipe.

Espera pelo Incra já dura um ano

Distante cerca de dois quilômetros da entrada do assentamento Eldorado dos Carajás II, oitenta famílias lideradas pelo Movimento dos Sem-Terra (MST) esperam por ajuda do Incra. Elas estão ali há um ano e seis meses, e até agora, conforme relato dos moradores, ninguém do órgão esteve na área para informar sobre a reforma agrária.

São barracos feitos de madeira e lona que abrigam homens, mulheres e crianças. Neste ano, um menino morreu atropelado na BR-304. São pessoas que vieram de Quixadá e Fortaleza (CE), Currais Novos, Alexandria, bem como de Mossoró, e que não tinham como continuar pagando aluguel. “Vivemos com medo aqui. Uma criança já morreu atropelada”, comenta Edilene Silva, 25, mãe de dois filhos pequenos. A questão é que o acampamento é localizado praticamente às margens da BR-304. As famílias não têm acesso à água. Francisca Vanuza de Lima, 31, mãe de dois filhos e grávida do terceiro, informa que o abastecimento é feito uma vez por semana, por um carro-pipa.

O pior é que as famílias estão há quatro meses sem receber cesta básica por parte do Incra. Como a maioria é desempregada, a situação fica ainda mais complicada. “Queremos que o Incra venha aqui. Dizem que o pessoal só vem quando a estrada é interditada, mas não queremos fazer isso”, diz Antônio Elídio de Oliveira, 51, pai de cinco filhos.

As famílias ocuparam a área pensando na desapropriação de uma fazenda vizinho à antiga Maisa, a Fazenda São João. Contudo, diante do tempo que aguardam resposta do Incra, se a solução for para que eles sejam acomodados no Eldorado dos Carajás II, não há problema. “Só queremos um canto para morar”, diz Francisca Lúcia, 57.

Frases

Lula na Maísa

“Reforma agrária não é apenas dar um pedaço de chão para o agricultor. Ele precisa de escola, posto de saúde, cooperativa de crédito e toda infra-estrutura para trabalhar.”

“A Maisa vai gerar o pão de cada dia para que os trabalhadores assentados possam sobreviver.”

“Eu peço um pouco de paciência. Primeiro precisamos revitalizar o rio São Francisco. Mas nós vamos fazer a transposição.”

Assentados

“Estamos passando por um bocado difícil. Não estamos colhendo porque falta água.” – José Pedro

“Dizem que o pessoal só vem quando a estrada é interditada, mas não queremos fazer isso.” – Antônio Elídio

Às vezes fico tão perturbada que pergunto a Deus quando as coisas  vão melhorar.” – Rosa de Lima.

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