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Assunto de hospedagem

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Gustavo Sobral
Escritor e pesquisador

“Pará, obra prima da Amazônia, você verá escrito num muro perdido de uma rua qualquer de Belém e concordará: a declaração é fato consumado visto a luz do dia e no claro da noite iluminada. Não se espante com o mofo nas paredes, não é descuido, é o clima quente e úmido deixando seu registro impresso. O clima é quente e úmido o tempo todo e deixa vestígios nas paredes e carpete do hotel, aquele mesmo da rede internacional, agora numa configuração mais inusitada.

 Parece que alguém entrou e separou o banheiro em partes, ou foi mais além, bagunçou tudo, espalhou cada parte em um lugar, desmanchou, sei lá. E ficou assim: o boxe tem vista própria para o quarto e a pia fica próxima. O sanitário fica a parte, num cubículo fechado (sem janela, sem ventilação, mas com luz, graças a Deus) e contém uma porta. A gente teme ficar preso ali para sempre, vai que a porta bate, a tranca quebra, se pensa de tudo nesta vida, naquela versão sanitário do beco sem saída.

Resumindo: literalmente o banheiro fica no quarto. Frigobar e telefone também não acompanham nesta versão. Há aqueles que consideram que só pode ter sido inspirado na carceragem da Polícia Federal. Caberia até o slogan: sinta-se na pêefè com conforto, pois temos tevê, ar-condicionado, cama (e travesseio) macia e chuveiro quente. E um detalhe: cada quarto além da cama de casal, conta com um beliche. Nos corredores se vê hospedes solitários e famílias que além de um lugar para ficar encontram ali, como o viajante, a experimentar a moda do quarto sem banheiro, mas preenchido por seus adereços.

Da janela, de qualquer delas se vê a cidade imensa, são muitos edifícios que desenham à noite, um azulão de céu quando anoitece. Belém, Belém, Belém, parece um sino que toca. Entusiasmo que tocou o poeta Manuel Bandeira: “Bembelelém! Viva Belém!”. O poema é 1928 e parece que não mudou nada de lá pra cá. O porto continua moderno e com charme de um espaço de gastronomia nas Docas, a Estação das Docas, mangueiras nas praças arborizadas e castanha do Pará, do qual se faz de tudo até doces e sorvetes e acompanha molho pra peixe. E ainda mais tem “ave de plumagem bonita” e “E o renque ajoelhado de sobradinhos coloniais tão bonitinhos”. Belém é o completo poema de Manuel Bandeira.

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