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Atheneu do passado

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Ticiano DuarteJornalista

O Atheneu foi uma escola de inteligência e saber. As gerações que por ali passaram, conviveram com mestres, professores, ocupando as cátedras por força de concursos de títulos e provas. Examinados por bancas constituídas de valores intelectuais do porte de um Padre Monte, Luiz da Câmara Cascudo, Luiz Antônio dos Santos Lima, Floriano Cavalcanti, Véscio Barreto, Clementino Câmara, Esmeraldo Siqueira, Israel Nazareno, Bruno Pereira e tantos outros.

Foi uma época trepidante, em termos de criatividade, vivência cultural, debates sobre temas palpitantes dos vários períodos da vida brasileira e em particular, de nossa cidade e do nosso Estado.

Na gestão de Alvamar Furtado de Mendonça, que ainda jovem, recém-formado, dirigiu o estabelecimento, realizou-se um seminário com a participação de professores e estudantes, para debater os grandes temas da atualidade. Eram os jovens de então que iriam anos depois, com talento, participar da vida pública e intelectual: Antônio Pinto de Medeiros, João Wilson Mendes de Melo, Luiz Maranhão Filho, Rivaldo Pinheiro, Paulo Luz, Raimundo Nonato Fernandes, Tarcísio Medeiros e outros.

Num certo período, por pouco tempo, um outro estudante passou por ali, marcando sua presença pela rebeldia e brilhantismo. Era o seridoense José Gonçalves de Medeiros, que pronunciara um discurso de protesto contra a direção do velho educandário, por conta da punição de um colega que ele acusava de injusta. Custou-lhe a saída apressada da cidade para prosseguir os estudos, em Recife.

Era uma fase efervescente da vida estudantil de Natal, com o Atheneu liderando as atividades culturais, os seu alunos discutindo literatura brasileira, francesa, alemã, editando o jornal que ganhou tradição, “O Estudante”, para o qual, anos depois, colaborei assinando crônicas e contos. Faziam parte da redação do órgão naquela época, Aldovrando e Adalberto Veras, João Batista Pinto, Deífilo Gurgel, Lenine Pinto, Guaraci Queiroz de Oliveira.

Final dos anos quarenta, foi fundado o grêmio literário “Castro Alves”. Éramos, Gilberto Avelino, Epitácio Andrade, Aderbal Morelli, Roberto Furtado, Amauri Pires de Medeiros, Ferdinando Pereira do Couto, José Fagundes de Menezes, Benedito Maia. Editamos o jornalzinho “Expressão”, que circulou mensalmente com diversos números, impresso numa pequena tipografia no bairro da Ribeira, com muito esforço e amor. Fui o seu primeiro e único diretor.

O poeta Gilberto Avelino, iniciava sua brilhante carreira de poeta, publicando seus primeiros poemas. Era o redator chefe. Escolhia as manchetes de abertura da primeira página. Lembro-me de uma delas, de autoria do grande Rui Barbosa: “A imprensa é a janela por onde os povos respiram o ar da liberdade”. Essa lição muita gente ainda não aprendeu no correr do tempo.

O Atheneu (gosto de escrever com th), traz-me à lembrança a figura do professor Sebastião Monte. Leio nos jornais o convite para a missa de sétimo dia do seu falecimento. Foi mestre respeitado, lecionando com brilhantismo a cadeira de Biologia. Era exigente. Os alunos tinham medo da sua nota e do seu severo julgamento.

Doutor Monte foi uma presença importante na medicina do Rio Grande do Norte. Um dos fundadores da Faculdade e da equipe de docentes que comandou a instalação da Universidade. Se não me engano, um dos primeiros otorrinolaringologistas de Natal, que deixou uma marca de competência e de inteligência. Para mim, especialmente, pois, tirou-me, aos meus nove anos de idade, as amígdalas e adenóide, garantindo o desenvolvimento da criança ameaçada de raquitismo.

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