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Atrasos envergonham alemães

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Berlim (AE) – Apenas silêncio é o que existe no aeroporto que já deveria estar recebendo milhares de passageiros. O Aeroporto Internacional Willy Brandt, em homenagem ao famoso líder alemão dos tempos de Guerra Fria, deveria estar pronto e em funcionamento no fim de 2011, um sinal da transformação de Berlim, ao passar de linha de confronto da Guerra Fria para capital internacional do poder econômico da Europa. Em vez disso, tornou-se um símbolo de como até mesmo para este país altamente desenvolvido as coisas podem caminhar muito mal.
Aeroporto em Berlim: atrasos elevaram valor das obras em mais de 100% e ninguém arrisca data para inauguração
Após anunciar quatro atrasos na entrega do terminal, as autoridades agora reconhecem que o aeroporto não vai ficar pronto nem mesmo na até então última meta estipulada: outubro de 2013. Pior, para evitar mais embaraços, não há novo prazo.

A saga do novo aeroporto de Berlim se tornou uma piada nacional e uma humilhação para uma população conhecida pela pontualidade. No entanto, o terminal é só a maior obra entre diversos projetos – entre eles uma sala de concertos em Hamburgo, túneis ferroviários em Munique e Leipzig, uma linha de metrô em Colônia e uma estação de trem subterrânea em Stuttgart – que sofre atrasos e erros no cálculo de custos.

O fiasco do aeroporto aponta para um quadro de incompetência. A imprensa alemã já divulgou uma lista de diversos problemas técnicos. Entre eles: autoridades não conseguem descobrir nem mesmo como apagar as luzes do terminal. Milhares de lâmpadas iluminam o aeroporto e o estacionamento 24 horas por dia, gastando energia e elevando custos, no que parece ser o resultado de um sistema de computador tão sofisticado que é quase impossível operá-lo.

Todos os dias, um trem vazio percorre o terminal inacabado, em uma distância de oito quilômetros, para impedir que os trilhos colocados recentemente enferrujem, em mais um exemplo de ineficiência. Além disso, centenas de árvores recém-plantadas tiveram de ser removidas porque uma companhia entregou o tipo errado de tílias, escadas rolantes precisam ser reconstruídas porque foram feitas no tamanho errado e inclusive azulejos já quebraram sem um único passageiro ter pisado neles.

O próprio aeroporto indica problemas com o sistema de segurança contra incêndio como causa imediata de atrasos: o sistema possui 75 mil pontos de irrigação, mas falhas na programação dos computadores não permitem avaliar se todos vão lançar água suficiente durante um incêndio. Além disso, o sistema de ventilação subterrânea, construído para dispersar a fumaça, não funciona. Novamente, a tecnologia está atrapalhando: é tão avançada que os técnicos não conseguem descobrir o que há de errado.

Os críticos alegam que as dificuldades em lidar com a complexa tecnologia têm sido agravadas pelo trabalho precipitado e negligente em função de intensas pressões de tempo. Além disso, parece haver uma cultura de desonestidade política. “Muitos políticos querem prestígio associando projetos de grande escala ao nome deles”, disse Sebastian Panknin, especialista financeiro da Associação de Contribuintes da Alemanha. “Para iniciar esses grandes projetos, eles reduzem os custos reais a fim de obter permissão do Parlamento e comitês responsáveis.”

Políticos municipais, estaduais e federais com frequência apresentam novas demandas com a construção em andamento, o que leva a modificações mais custosas. No caso do aeroporto de Berlim, afirmou Pankin, houve cerca de 300 mudanças solicitadas pelos políticos, com os consequentes atrasos e explosões de custo. A última delas, para expandir o terminal a fim de abrigar um shopping.

“O aeroporto é um exemplo clássico da incompetência de nossos políticos”, disse Sven Fandrich, de 28 anos, que trabalha para uma companhia de seguros. “Vimos isso acontecer com muitos projetos de grande infraestrutura na Alemanha. Ninguém se sente responsável. Os políticos estão mais preocupados em vencer as próximas eleições do que trabalhar pela população.”

O novo aeroporto foi assumido pelos governos municipais, estaduais e federal após uma série de disputa com investidores privados. Em 2006, os custos estavam estimados em 2 bilhões de euros, porém, após quatro atrasos, já estão em 4,4 bilhões de euros. Companhias como a Air Berlin, a segunda maior da Alemanha, têm sido severamente afetadas pelos atrasos e estão entrando com processos por perdas de receita. Pequenos negócios – como cafés e restaurantes, que já haviam contratado equipes e investido em novas lojas no aeroporto – estão indo à falência.

Terminal é caro, pequeno e ultrapassado

Berlim (AE) – Como se não bastassem todos esses problemas antes de ser inaugurado, o aeroporto deve enfrentar mais desafios ao entrar em funcionamento. Especialistas em aviação advertem que, quando for aberto, o terminal será pequeno para lidar com o número crescente de passageiros. O aeroporto foi projetado para receber até 27 milhões de passageiros, porém os outros dois terminais em funcionamento em Berlim receberam 25 milhões de passageiros no ano passado – e a cidade segue atraindo mais visitantes a cada ano.

“O aeroporto é muito caro, muito pequeno e está muito atrás de seu tempo”, afirmou o especialista em aviação Dieter Faulenbach da Costa, que recentemente causou polêmica ao propor que o terminal fosse demolido.

Em um esforço para arrumar a bagunça, Hartmut Mehdorn, ex-chefe do sistema ferroviário alemão, com uma reputação de salvar companhias em falência, foi nomeado executivo-chefe do aeroporto no início de março. “O mundo todo diz: não é possível (arrumar a bagunça). Eu digo: deve ser possível. Eu apenas ainda não sei como.”

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