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Austeridade revolta os espanhóis

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São Paulo (AE) – A Espanha está no centro da rebelião política para implementar a austeridade exigida pela União Europeia, e poderá ganhar um aliado de peso se o socialista François Hollande vencer a eleição francesa. Na sexta-feira, os governos das regiões autônomas do País Basco e da Andaluzia anunciaram que vão recorrer e não obedecerão ao decreto do governo central para que aumentem o número de alunos em sala de aula e elevem as mensalidades das universidades em 50%. As medidas fazem parte do corte de 3 bilhões de euros no setor de educação anunciado neste mês pelo governo espanhol.

As reformas no país também incluem cortes nos gastos com saúde, área em que o governo planeja economizar 7 bilhões. Os cortes planejados determinam que os aposentados, que antes não pagavam nada pelas despesas na farmácia, agora terão de cobrir 10% do custo, limitado a 18 euros, de acordo com seus recursos. Os restante dos espanhóis, que pagavam 40% do valor dos medicamentos, passarão a desembolsar 60%, também de acordo com a situação financeira de cada um.

Além dos cortes de 10 bilhões na saúde e educação, o governo espanhol também aprovou neste mês um plano de combate à fraude e evasão fiscal. O especialista em Política Públicas e Gestão Governamental do governo brasileiro, Paulo Kliass, criticou os cortes, e disse que eles estão sendo feitos sem pesar as consequências sociais. Segundo ele, as medidas foram anunciadas em um momento de desespero do governo apenas para acalmar os mercados e mostrar que está cumprindo as regras de Bruxelas. “É o efeito perverso do bom mocismo. Além de comprometer a qualidade de vida da população no curto prazo, as medidas alterarão o desenho da oferta institucional da saúde e da educação no longo prazo”, alertou.

As críticas não são unânimes: o coordenador do curso de Administração do Ibmec em Minas Gerais, Eduardo Coutinho, acha que os cortes são necessários para restaurar a credibilidade do mercado. “Os espanhóis estão pagando a conta pelos excessos que fizeram no passado. A Espanha tem um dos mais altos endividamentos da zona do euro. Os cortes, portanto, não são uma opção, mas uma necessidade.” O professor espanhol Jorge González Gurriarán, da Universidade de Estudos Empresariais de Vigo, também culpou o governo espanhol anterior, comandado por José Luis Zapatero, pela perda da credibilidade do país no exterior. Segundo ele, o governo Zapatero adotou, no início da crise financeira, em 2008, uma política expansionista e imprudente de gastos, que levou o déficit público para cifras “nunca vistas” que superaram 11% do PIB.

A eleição de Mariano Rajoy, do Partido Popular (PP, de centro-direita) espanhol, no fim do ano passado, não trouxe alívio para os espanhóis. A taxa de desemprego anunciada hoje pelo governo subiu para 24,44% no primeiro trimestre deste ano, significando que um quarto da população economicamente ativa da Espanha está sem emprego. Quatro das 17 regiões autônomas da Espanha já têm taxas de desemprego acima de 30%: Ceuta (35,5%), Andaluzia (33,17%), Canárias (32,28%) e Extremadura (32,05%). Em todo o país, apenas a cidade de Madri registrou aumento do número de empregos no primeiro trimestre, de apenas 0,58%, ou 15 900 pessoas.

No começo desta semana, o banco central divulgou que o país entrou em recessão, ao registrar dois trimestres seguidos de queda do PIB. A economia espanhola encolheu 0,4% no primeiro trimestre deste ano, em comparação com o quarto trimestre do ano passado, e 0,5% em bases anuais. Para Gurriarán, as medidas de austeridade que estão sendo implementadas pelo governo não ajudarão a reduzir o desemprego no curto prazo. “A situação continuará difícil. Eu acredito que deveremos começar a melhorar no segundo semestre de 2013 e crescer a partir de 2014”, prevê.

Crise derruba primeiro-ministro da Romênia

Bucareste (AE) – O governo da Romênia, liderado pelo primeiro-ministro Mihai Razvan Ungureanu, caiu na sexta-feira, após inesperadamente perder um voto de confiança no Parlamento. Agora o presidente do país, Traian Basescu, precisa escolher um novo candidato para o cargo de primeiro-ministro. As próximas eleições estão marcadas para novembro, mas podem ser antecipadas se o nomeado do presidente não conseguir apoio do Parlamento atual.

Milhares de romenos protestam há meses contra o governo de Ungureanu, nos maiores protestos políticos desde que o regime comunista foi derrubado em 1989. Os romenos protestam contra a crise econômica e o desemprego. No voto de confiança desta sexta-feira, 235 deputados votaram a favor da queda do governo, com quatro votos a mais que o necessário. Ungureanu ficou poucos meses no cargo e apenas como premiê interino. Ele substituiu o governo do primeiro-ministro Emil Boc, que caiu em fevereiro.

O governo de direita de Ungureanu caiu após perder o apoio de vários aliados, que querem se distanciar do impopular programa de cortes de gastos e também de denúncias de corrupção e nepotismo. “Hoje foi feita justiça”, disse o líder da oposição, Victor Ponta. Segundo ele, o voto contra o governo representa o fim de um “sistema abusivo”. As medidas de austeridade impostas para conter o déficit no orçamento, como parte do programa de ajuda que a Romênia recebeu da União Europeia (UE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI), têm atingido fortemente a população do país, que é o segundo mais pobre do bloco, depois da Bulgária.

Pesquisas de opinião mostram que a aliança de partidos de oposição liderada por Ponta, a União Social Liberal, tem uma popularidade bem maior do que o Partido Democrático Liberal, que forma a base do atual governo de coalizão. A oposição já disse que vai manter o acordo com a UE e o FMI caso seja eleita. Em 2009 o Produto Interno Bruto (PIB) da Romênia teve uma contração de 7% quando o país foi duramente atingido pela crise financeira internacional. O governo recebeu um empréstimo de 20 bilhões de euros do FMI e da UE, mas em troca teve que cortar um quarto dos empregos públicos e aumentar impostos.

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