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Auta de Souza

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woden madruga 
Hoje, 12 de setembro, lua em quarto crescente, é o aniversário de nascimento de Auta de Souza, lá se vão 145 anos. Teremos celebrações? Essa mesma pergunta fiz aqui, quatro anos atrás, quando do 141º do seu encantamento quando tinha apenas 24 anos de idade. Não me lembro se a data foi comemorada, lembrada nas rodas literárias ou mesmo nas classes escolares. Dia desses peguei na estante aposentada (inativa, nunca!) a biografia da grande poetisa escrita pelo mestre Luís da Câmara Cascudo: “Vida Breve de Auta de Souza”. Logo na abertura do livro, concluído em 1958 e publicado em 1961, Cascudo conta como o escreveu, através de leituras, pesquisas, buscas e anotações: 
“Toda a noite trabalhei numa exposição de sistemática etnográfica. Olho os livros, quadros, mapas, cadernos onde guardei as notas de viagens, grutas, museus, leituras nas bibliotecas distantes. Paralelamente a sombra de Auta atravessa minha tarefa com uma doce obstinação de pensamento amoroso.
Auta, Santa Auta é para mim Auta de Souza cujo aniversário natalício ocorre ignorado por todos”.
Ler Cascudo é sempre um encantamento, até mesmo se o livro for publicado em chinês.  Neste começo de setembro voltei a reler “Vida Breve de Auta de Souza”, cujo exemplar tem uma história particular e um valor especial para este velho leitor. Coisas que revelarei no final desses escritos.
Auta de Souza, que era amiga dos pais do historiador, embalava em seus braços o menino Cascudinho para acalmá-lo. Cascudo conta:
“Em princípios de 1900 Auta foi visitar sua amiga Donana, casada com o tenente Cascudo, do Batalhão de Segurança, à casinha de porta e janela na Rua das Virgens. Suspenso ao ombro de minha mãe eu chorava sem consolo impaciente pelo leite que a goma de araruta engrossava. Minha mãe equilibrava o papeiro no fogão de três bocas, aturdida pelo berreiro disfônico. Auta segurou-me, acomodou-me, falando-me, passeando no corredor. O choro mudou de tom, espaçou-se, desapareceu. ” 
Auta de Souza nasceu em Macaíba, as janelas de sua casa abertas para o rio Jundiaí. Morou em Recife e em Natal, pousando também em fazendas da família nos sertões potiguares. Começou a escrever seus poemas ainda na adolescência. Publicou apenas um livro, “Horto”, cuja primeira edição saiu em junho de 1900 com prefácio de Olavo Bilac. Sete meses depois a poetisa falecia em Natal, vítima de tuberculose: dia 7 de fevereiro de 1901. Tinha apenas 24 anos.
Moça airosa e morena
Relendo agora “Vida Breve de Auta de Souza”, que as escritoras e professoras de literatura Diva Cunha Pereira de Macedo e Constância Lima Duarte, em sua antologia “Literatura do Rio Grande do Norte”, consideram o livro “como uma referência obrigatória a todos que desejam conhecer sua poesia”, fico sabendo que os seus primeiros versos chegaram ao público quando ela andava pelos 17 anos. Diz Cascudo: 
“Tornara-se moça, airosa, morena, esculpida em polpa de sapoti, ‘cheia de corpo’, graciosa, mais baixa que alta, com uma voz inesquecível de doçura e musicalidade. A tradição é unânime sobre a melodia velada, envolvente, encantadora, da voz de Auta. Voz de anjo, diziam. Mesmo nos derradeiros meses da moléstia nunca foi esquelética, feixe de ossos, musa de Rolinat.”
O exemplar de “Vida Breve de Auta de Souza” que tenho aqui na estante ao lado pertenceu ao poeta Newton Navarro, autografado por Cascudo. Como chegou às minhas mãos? Emprestado pelo poeta e não devolvido por mim?  Não, encontrei o livro numa dos cantos da Tribuna do Norte, década de 60, começo dos anos 70, se a memória não me falha, e me apropriei da joinha, ressaltando o autógrafo de Cascudo, escrito em oito linhas, ocupando uma página inteira, caligrafia firma do mestre:
“Newton Navarro – uma perenidade que o tempo é apenas dimensão – afetuosamente Luís da Câmara Cascudo. Natal, 24/4/64”.
No verso da página, Newton Navarro com a letra tremida escreveu (metade do escrito ilegível): “A Valter e Luiz Carlos, um… “ (não dá para entender o que está escrito, em seguida, duas linhas de garatujas, rabiscos, garranchos).  Assinatura do poeta aparece na página seguinte, a da abertura do livro. 
O Valter e o Luiz Carlos citados são o jornalista Walter Gomes, então editor da Tribuna do Norte, e o poeta Luís Carlos Guimarães, à época copidesque do jornal. Acho que Newton Navarro, antes de entrar na redação da TN deve ter passado um bom tempo na Peixada Potengi, quase em frente ao prédio da Tribuna, e lá tomado a oitava dose de uísque autorizada pela “anvisa” da Ribeira.  Será que o poeta chegou a ler o livro?
Vou doar o livro, que tem prefácio do grande  Edgar Barbosa, à biblioteca da Academia Norte-Rio-grandense de Letras. Auta de Souza, Cascudo, Edgar Barbosa, Navarro, Luís Carlos Guimarães, todos imortais da Academia. Já nasceram imortais.  Auta, patrona da cadeira 20, cuja primeira ocupante foi a poetisa Palmira Wanderley, seguida de Mário Moacir Porto, de Dorian Jorge Freyre e José Hermógenes. O ocupante atual é o poeta Jarbas Martins.
Biblioteca 
Uma boa notícia: O Colégio Nossa Senhora das Neves reinaugurou no começo do mês, dia 2, a Biblioteca Rui Barbosa que existe desde a fundação do estabelecimento em 1932. Reabre com bancadas para estudos, cabines de estudo individualizado e área para pesquisas.
Já a Biblioteca Pública Estadual Câmara Cascudo continua fechada há quase dez anos.
Delgado 
Perdemos José Augusto Delgado, que se encantou quarta-feira, 08, aos 83 anos. Advogado, juiz de direito, juiz eleitoral, juiz federal, ministro do Superior Tribunal de Justiça, professor de ensino superior. Grande cidadão.
Potiguar nascido em São José de Campestre, bacharelou-se em Direito pela Faculdade de Direito de Natal, em 1964. Ingressou na magistratura em 1965 como juiz da da Comarca de São Paulo do Potengi. Juiz Federal a partir de 1976. Aposentou-se como ministro do Superior Tribunal de Justiça em 2008.  Era imortal da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras e da Academia Brasileira de Letras Jurídicas.
José Augusto Delgado dignificou a magistratura brasileira.
Política 
Da analista política Vera Magalhães em sua coluna de O Globo, de sexta-feira, 10:
– Vale tanto quando uma cédula de R$ 30 a nota em que Jair Bolsonaro usa o marqueteiro de Michel Temer como ghost-writer para ajoelhar no milho diante do Supremo Tribunal Federal e fingir um arrependimento que não tem das ameaças de golpe que sinceramente proferiu no 7 de setembro.

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