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Autorretrato de Dorian Gray

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Maria Betânia Monteirorepórter

Pergunta: o que tem na sua cabeça que faz o senhor criar o tempo inteiro, sem querer parar? Resposta: “Sempre fui uma pessoa que sonhou muito. Quando criança, eu contava para mim mesmo uma história onde eu era o fazedor de coisas. Na fase adulta eu fui ao encontro desta imagem”.

Dorian Gray, 80 anos, é fazedor de muitas coisas. Poemas, ensaios, artigos, livros, quadros, cerâmicas, murais. Mas de tudo o que sabe fazer, ele priorizou a maior delas, a emoção. “Tenho esta coisa mágica do poeta, que não vê de forma oficial. Gosto de provocar a emoção, isso é o que mais me importa”, disse ele ao telefone, por volta das 7h30 da manhã. Dorian será homenageado hoje na Aliança Francesa, eis o motivo da conversa. Mas com o pintor das marinhas nada fica só na pergunta da pauta. Há sempre pano para manga, mesmo ao telefone. Logo cedo já estava preparado para a jornada de atividades. Falou, como sempre, com muita simplicidade e desejo de se fazer compreendido. Não sabia detalhar a noite de homenagens, promovida pela Aliança Francesa hoje, a partir das 19h, mas sabia da companhia dos bons amigos.
Aliança Francesa realiza sarau em torno de Dorian Gray Caldas. Até 2011, serão lançados livros, uma coleção e até um mural em óleo sobre tela nas comemorações dos 90 anos do artista
“Eu serei homenageado. Sei disso. E estarei ao lado de pessoas próximas como Galvão Filho, Nelson Patriota, minha filha Dione Caldas”, explicou. Pois bem. A homenagem rendida ao potiguar é em comemoração aos seus 80 anos de vida e 60 de artista plástico.

O evento acontece no Auditório Patrick Herpin da Aliança Francesa e abre com um miniconcerto de Galvão Filho, que musicou poemas de Dorian Gray, seguido de recital de poesias do escritor com Rodrigo Bico e palestras sobre a obra e o artista com Nelson Patriota, Manuel Onofre Junior, Gilêude Peixoto e Dione Caldas.

A abertura de Galvão Filho será especial. Ele cantará os versos:

“A flor contra o arado/ a flor contra tua mão/ a flor contra espada/ a simples flor no chão/ arado sugando a terra, arado/ mãos cavando a terra, antigo como um enigma/ vê: não podes nada/ a simples folha governa/ mas que tua mão/ a simples folha governa/ vê: tua mão não pode nada/ rebenta outra flor/ se pões nela a mão/ mas pura sem ódio/ sem guerras, a simples flor/ vegetação”.

Os versos são de autoria de Dorian Gray e foram repassados pelo cantor a esta repórter por telefone, numa bela cantoria entoada na companhia de um violão. Talvez as vírgulas não estejam bem colocadas, mas é o que será captado pelo público na noite de hoje.

Galvão Filho lembra que este poema era um dos guardados no bolso do paletó de Dorian Gray. “Ele tem este cacoete de guardar poemas no bolso”, disse o músico e conta como aqueles versos viraram música.

“A gente sempre se encontrava e eu cobrava a Dorian, o meu poema. Um dia nos encontramos na Fundação José Augusto e eu perguntei mais uma vez: cadê o meu poema? E Dorian disse: está aqui. Colocou a mão no bolso e me entregou. Depois fui eu quem disse querer mostrar alguma coisa, era a música”.

Talvez a sintonia entre Dorian e Galvão Filho, presente na música-poema, seja explicada pela habilidade em ver, escrever e pintar. “Dorian uma vez viu um quadro meu na pinacoteca e disse que eu não deveria parar de pintar”, contou Galvão com orgulho. Hoje à noite eles deverão compreender melhor esta afinidade.

80 anos de poesia viva

Este ano o artista potiguar Dorian Gray Caldas completou 80 anos de vida, sendo que 60 deles foram dedicados à arte. As comemorações aconteceram durante todo o ano, começando pela exposição retrospectiva do trabalho do artista, na Pinacoteca do Estado. A exposição foi aberta no primeiro semestre e reuniu obras do acervo da Pinacoteca e do próprio artista.

Em seguida Dorian foi homenageado pelo SESC-RN, numa exposição itinerante, que passou por cidades como Mossoró, Caicó e Angicos. “Esta exposição foi muito importante, pois várias pessoas passaram a conhecer um acervo representativo para o estado”, pontuou Dorian.

Em seguida o artista foi agraciado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, com uma coleção de livros, que deverá ser lançada já no começo do ano que vem. Trata-se da coleção “Dorian Gray Caldas”, que reunirá livros de poemas, ensaios, pesquisas. O primeiro deles a ser lançado será “Da Necessidade do mito”; em seguida está previsto “Do Outro lado da sombra: poesias (quase) completas”; e depois será a vez de “A Hora única”, publicado em três volumes.

Além desses já estão quase indo para a fornalha, outros três livros da série “As Vertentes criativas da gravura brasileira”, que deverá ser publicado no final deste ano ou início do próximo, pela Fundação José Augusto. O livro traz os resultados da pesquisa de Dorian, sobre a gravura no Rio Grande do Norte, no Brasil e no Cordel. “Admiro muito a gravura brasileira. É avessa à arte internacional, que se baseia na produção europeia. Ela emociona pelos traços dramáticos que revela”, disse Dorian.

Além das exposições e dos livros, a série de homenagem a Dorian Gray Caldas inclui também a inauguração do mural “Clara Camarão”, na Assembleia Legislativa. Segundo Dorian, o mural faz parte do Ciclo Heroico, que inclui obras em homenagem ao Padre Miguelinho, e aos mártires de Cunhaú e Uruaçu. O mural tem 2,30 x 1,30 metros de óleo sobre tela e madeira. Apesar do trabalho já está pronto, ainda não tem data para ser inaugurado.

Serviço

Homenagem ao artista Dorian Gray Caldas
Dia: hoje
Hora: 19h
Local: Auditório Patrick Herpin da Aliança Francesa de Natal
Entrada: franca

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