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Vicente Serejo
A vida é dura, Senhor Redator. Por mais batido que pareça, é dura. Mas, vale à pena ser vivida. Dizer não é vitupério, esse pecado praticado de boca própria. E se for, é um pecado maneiro, como as tapiocas alvas e finas que nossas mães faziam na infância. Quando tudo era maneiro. Hoje a leve expressão retornou ao vocabulário malandro e sadio dos jovens diante do desafio pesado que é viver. A palavra apascenta, dizia Gilberto Avelino, poeta da minha terra. 
Aliás, confesso a frustração de não poder exarar abaixo do nome aquela sempre gloriosa relação de cargos e encargos: membro disso, daquilo e daquilo outro. Na outra encarnação, e é forçoso confessar que às vezes acredito numa nova vida, até para só assim reencontrar aqueles que perdi no engano de desejá-los eternos – quero ter o que não me foi concedido desta vez. Se não é muito esperar do destino alguma pouca glória, mas que seja tão doce como favo de mel. 
Oswaldo Lamartine gostava de contar a história de um amigo, nordestino do Ceará, verdadeiro personagem de romance, relojoeiro estabelecido numa galeria de edifício, no centro antigo do Rio. Na falta de uma glória maior, tinha no seu cartão pessoal, esses que chamam de visita, nome, ofício, endereço comercial, telefone, e um aviso escrito assim: “Marinheiro do navio Baependi”. Aquele, abatido na Segunda Guerra Mundial por um feroz submarino alemão. 
Era um cartão mais ou menos assim que encheria esta alma da mais sadia vaidade e, de tal forma singular, que não causasse inveja a ninguém. Imagine poder ser o guardião das chaves da clausura do Mosteiro de São Bento, em Olinda, onde num fim de tarde mereci ouvir os sinos da alegria tocados por Dom Policarpo, o doce conterrâneo? Ou, poder dizer ter sido durante a guerra um moço de convés de uma navio singrando os mares distantes para enfrentar o inimigo?
Não há vida mais tola, Senhor Redator, do que essa de envaidecer a alguns, os que levam dias, meses e anos colecionando penduricalhos tolos, sem nenhum valor. Ora, de que servem os berloques a quem deseja apenas uma vida simples? Feita da grandeza humana das pequenas e gloriosas vaidades, da coragem de ser despojado de tudo, descarnado dos adornos que reluzem seu brilho inútil, do falso ouro, casca de besouro, muito mais que o ouro de tolo dos vaidosos? 
O vaidoso é prisioneiro do medo. Emil Cioran, grande filósofo do ceticismo, um romeno que deixou seu país para viver em Paris, com vários livros traduzidos no Brasil, e de quem sou leitor e visitei seu túmulo no cemitério de Montparnasse, dizia: são muitos os infelizes, mas poucos os conscientes. Para ele, os carcereiros são infelizes, ao contrário dos prisioneiros, pois eles sequer podem sonhar com a liberdade. E há quem passe a vida sem perceber a prisão…  

AGENDA – O prefeito Álvaro Dias vai lançar o filho deputado estadual em 2022. Homenageia aquele que tem o nome do seu pai, o ex-deputado estadual Adjuto Dias. É hoje sua prioridade. 
FUTURO – As boas fontes confirmam: Dias cumpre seu mandato de prefeito, consolida a sua liderança em Natal, põe o filho na Assembleia e navega dois anos até a hora apontar na esquina.  
JOGO – Álvaro estaria convencido de que pode cumprir o mandato de prefeito e esperar para disputar o governo ou o Senado. É bem testado na luta. Não atropela o curso natural das águas. 
ANOTE – Henrique Alves evita o assunto antes do tempo, mas é candidatíssimo a retomar a cadeira de deputado federal. E deve sair das urnas como um dos mais votados dos oito eleitos. 
DEUS – A editora Planeta foi rápida: já traduziu e lançou no Brasil “Deus e o mundo que Virá”, as belas e indispensáveis conversas do vaticanista Domenico Agasso com o Papa Francisco I.
GOLPE – A edição da ‘Isto É’, nas bancas, não tem mais dúvidas quanto aos planos golpistas de Jair Bolsonaro e com o apoio dos militares. E anuncia na sua capa: “A preparação do Golpe”.

VIDA – De Mariliz Pereira Jorge, a colunista da Folha de S. Paulo, diante da morte estúpida da modelo Kathlen Romeu, 24 anos, fuzilada nas ruas: “A vida é muito curta para morar no Rio”.  

OLHO – De Nino, o filósofo melancólico do Beco da Lama, o olho de lince flagrando o falso nas folhas da aldeia: “O artigo ou é um artigo de fato ou não passa de filho bastardo do Google”. 
SILÊNCIO – Recebo de Aluísio Lacerda e assino embaixo: a Academia de Letras, fundada por Câmara Cascudo, silencia na agressão à sua maior obra, ‘Dicionário do Folclore’? Ah, as nossas instituições! O silêncio, Aluisio, pode anotar: às vezes só esconde o feio da condição humana. 
PERIGO – Meu medo, Júlia Arruda – sou seu eleitor e setentão o suficiente para temer – é que virando um lugar oficial, o Beco da Lama perca sua vida de beco, o jeito clandestino, sua alma vadia, e ele acabe no triste destino de substituir seus velhos pecados por virtudes novas e inúteis. 
PRÊMIO – A Dois A Engenharia recebeu o famoso selo GPTW – Great Place to Work, ou o atestado de qualidade dado pelos próprios funcionários como um excelente lugar de trabalho. Flávio Azevedo, o filho Sérgio e Toninho, o genro, que juntos e unidos tocam a empresa, estão de parabéns. 
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