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Azeitando o palco para o mundo

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Ramon Ribeiro
Repórter

Num estado carente de políticas públicas voltadas para as artes cênicas, como é o caso do Rio Grande do Norte, um festival de teatro chegar a quinta edição consecutiva é um feito. Assim é “O Mundo Inteiro É um Palco”, evento criado pelo grupo Clowns de Shakespeare em 2013, que novamente tomará os palcos de Natal em 2017. A organização define a programação enquanto busca recursos financeiros para viabilizar a edição, tanto através de patrocínio direto ou via leis de cultura. O “O Mundo Inteiro É um Palco” está aprovado em duas leis de incentivo cultural: Rouanet (federal) e Câmara Cascudo (estadual).

O festival vai acontecer entre os dias 23 e 30 de setembro, com dois palcos dividindo a programação: Barracão Clowns, em Nova Descoberta, e ABoca Cultural, na Ribeira. Dos espetáculos confirmados, estão “Alegria de Náufragos”, do Ser Tão Teatro (PB), “A Invenção do Nordeste”, que o Carmin (RN) estreia nesse segundo semestre, “Tratados de Mim Mesma na Infertilidade”, da Sociedade T (RN), que deve estrear nos próximos meses. Dentre os solos, atores de grandes grupos, como Renato Ferracini, do grupo Lume (SP), e Eduardo Moreira, do Galpão (MG), estão garantidos. Para o público infantil, os cearenses do grupo Garajal marcam presença.

Convidados estrangeiros
A edição 2017 também reserva outra novidade. Pela primeira vez um grupo de fora do país participa do festival. Com mais de 25 anos de atuação, o grupo Malayerba, de Quito, no Equador, chega a Natal com dois espetáculos: “Nuestra señora de las nubes” (2000) e “La Razón Blindada” (2006). A participação do grupo no Festival conta com a parceria da Associação Brasileira de Pesquisa e Pós-graduação em Artes Cênicas (ABRACE), cujo congresso nacional acontece no final de setembro em Natal.

“É um dos grupos mais importantes do Equador, referência de teatro na América Latina, tem muita história. Conseguimos essa parceria com a ABRACE e estão conseguindo incluí-los na programação”, comenta a atriz Titina Medeiros, uma das organizadoras do evento. Ela também confirma o tradicional cortejo de abertura do festival, com o Boi Marinho e o Boi Galado – o boizinho do teatro potiguar – percorrendo as ruas de Nova Descoberta. “Já falamos com o Helder Vasconcelos (PE). Ele já afirmou que vem”. Outro novidade é a parceria com o site potiguar Farofa Crítica, que fará críticas dos espetáculos da programação.

Apesar de estarem em busca de patrocinadores, nenum grande patrocínio foi fechado até o momento. Isso não desestimula os organizadores, que, no ano passado, fizeram a maior edição do festival mesmo sem editais e grandes apoiadores.

“Não é o ideal. Ano passado aconteceu uma situação política que desdobrou em perdas financeiras na cultura. Então o festival foi feito também com um valor simbólico de mostrar resistência”, comenta Titina. Ela reconhece que o cenário ainda é complicado para investimentos públicos e privados, mas o grupo está buscando captação. “Até o momento estamos com R$ 12 mil. É bem menos que o orçamento da edição passada. Mas estamos esperando o resultado do edital da Cosern e vamos continuar conversando com empresários”.

Coordenadora geral do evento, a atriz Renata Kaiser reforça a proposta do festival de tanto servir como mostra de trabalhos nacionais, quanto locais, além das atividades formativas. “Os nomes já divulgados são resultados de parcerias. Estamos em contato com outros grupos, mas a confirmação depende de mais recursos. Também estamos concluindo a seleção da mostra potiguar”, diz. Com relação as atividades formativas, ela espera fechar novos nomes no Festival para montar a programação.

Renata também explica a não participação de espetáculos do Clowns da programação, fato que acontece desde a segunda edição. “É exaustivo organizar o festival e se apresentar. Na primeira edição, por ser nosso aniversário, apresentamos Ricardo III, mas sentimos o peso. Não dá para mostrar uma peça com a devida qualidade. Então focamos apenas na organização”, conta a atriz.

Titina acredita que o Festival é a oportunidade que os potiguares têm de saber o que está sendo produzido de artes cênicas na cidade, e de terem acesso a produções nacionais. “No Clowns, quando fizemos 20 anos, sentimos necessidade de fazer um trabalho diferente, de formar público, de oferecer aos natalenses a possibilidade de apreciarem espetáculos de grupos de fora do estado que não chegam a cidade”, comenta a atriz seridoense. Como não há no RN outro evento do tipo, o festival ganha ainda mais importância. “O festival também tem algo muito legal, que é servir de espaço de encontro para o  atores, músicos, artistas visuais, produtores e apreciadores de Natal e de outros Estados. Movimenta a cena”.

Mas Titina não deseja que o festival ganhe proporções maiores. Ela afirma que o foco do Clowns ainda é a produção de espetáculos e cada integrante tem desenvolvido trabalhos fora do grupo. “Não temos a pretensão de expandir o festival. Ele tem uma cara caseira. É um espaço de encontro. Acredito que o Festival está no tamanho que deve ficar”, afirma.

A atriz lamenta os descaso dos poderes públicos com as artes cênicas do Estado, principalmente com relação ao fechamento doTeatro Alberto Maranhão e Sandoval Wanderley. “O TAM está fazendo muita falta. O Sandoval só não se sente a mesma coisa porque ele já estava fechado há mais tempo. Cada teatro tem um perfil de frequentador diferente. Com eles fechados, afeta a circulação dos espetáculos locais dentro da cidade. Ficamos nos apresentando nos mesmo espaços e não chegamos a outros públicos”, argumenta.

História
O festival “O Mundo Inteiro É um Palco” foi criado pelo Clowns de Shakespeare, em 2013, em decorrência das comemorações de 20 anos do grupo. A primeira edição foi realizada de forma totalmente independente, através de convites a grupos parceiros. As duas edições seguintes contaram com grandes patrocínios, a Oi, em 2014, e a Caixa, em 2015. Na edição de 2016, o festival voltou a ser realizado de modo independente, com a participação de grupos potiguares na organização e, pela primeira vez, a programação se estendeu por espaços culturais além do Barracão Clowns, em Nova Descoberta. Já passaram pelo festival grupos como Magiluth (PE), Alfenim (PB), Bagaceira (CE), Galpão (MG), Cia Caixa do Elefante (RS), Carmin (RN), Gira Dança (RN), Tropa Trupe (RN), dentre outros.

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