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Barragem ‘sangra’ em Poço Branco

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INVERNO - Moradores se divertem no sangradouro, cena que não viam há 4 anosO barragem de Poço Branco está sangrando desde as oito horas da manhã de ontem. Batizado originalmente de Engenheiro José Batista do Rêgo Pereira, o açude não alcançava o sangradouro de 200 metros de comprimento desde  2004. O belo cenário representa não só um atrativo turístico, como também uma nova perspectiva na vida dos moradores da cidade.

Por volta das 18h, a lâmina d’água alcançava quinze centímetros. E inúmeras pessoas de várias cidades próximas já estavam junto ao açude, contemplando o cenário. Crianças  davam saltos na água, aproveitando o tempo em que a sangria ainda é pequena e não representa maiores riscos para elas.

Poço Branco tem cerca de 14 mil habitantes, e pelo menos 50% da população depende da barragem para sobreviver. A economia da cidade gira em torno da pesca e da agricultura, e com a água lavando o sangradouro, as pessoas que desenvolvem as atividades se enchem de esperança. “A cidade está uma alegria só. Homem, mulher e menino vêm pra cá pra ver essa beleza”, disse Laerson Rosendo, presidente da colônia de pescadores da cidade.

Laerson também faz parte da comissão gestora da barragem, formada por técnicos do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (Dnocs), gente da Prefeitura Municipal, dos agricultores e moradores ribeirinhos do rio Ceará-Mirim. “O açude seco representa a tristeza de todo mundo. Do jeito que ele está assim, o povo usa a vazante para plantar e é a coisa mais linda. É feijão, é milho, é melancia, tudo”, vibra o pescador.

Segundo ele, os moradores de Poço Branco, cidade do Mato Grande a 64 quilômetros de Natal, achavam que jamais veriam o açude sangrar novamente. Isso porque, o grande reservatório passou anos bastante deteriorado, e na reforma feita em 2007, chegou a secar até os 5% da capacidade. “A gente pensou que nunca mais ia ver ele assim. Ele secou bastante e o povo ficou assustado”, disse Laerson Rosendo.

O presidente da colônia explica que a atividade dos pescadores fica bem melhor com o açude transbordando. Já que desta forma, os peixes encontram mais alimentos, crescem mais fortes e se reproduzem com mais facilidade, levando-se em conta também que o nível de oxigênio melhora consideravelmente. A barragem de Poço Branco tem capacidade de armazenar 135.163 milhões de metros cúbicos de água.

O prefeito da cidade, Roberto Lucas também foi à margem do açude na tarde de ontem e ressaltou a importância turística do reservatório. “A economia da cidade melhora muito, porque as pessoas saem de todos os lugares para verem esta beleza.    E muitos daqui faturam com a venda de bebida e comida, por exemplo”, disse.

O chefe do executivo disse ainda  que nos últimos dias o Dnocs trouxe de Caicó cerca de  quatro milhões de filhotes de peixes, de espécies como tilápia, tambaqui e carpa, o que também ajudará no incremento da renda de muitas famílias. “Ficamos felizes em ver o açude sangrando”, disse.  A perspectiva ontem à noite era de que a sangria aumentasse de volume, já que o tempo na cidade estava fechado. 

Ação do MP consegue barrar desperdício de água no açude

Fundada em dezembro de 1969, a barragem Engº José Batista do Rêgo Pereira tinha o intuito de controlar as freqüentes cheias do rio Ceará-Mirim. Mas nos últimos anos passou por graves problemas de estrutura, o que causava tristeza à população local. Pelo menos desde o ano de 1995 foram notados os severos desgastes nas comportas de descarga e no sangradouro. Segundo a Prefeitura Municipal de Poço Branco, 800 litros de água eram desperdiçados por segundo.

Sendo uma das maiores barragens do Estado, a situação continuou sofrível em Poço Branco por muito tempo. Em dezembro de 2004, uma obra de recuperação estava sendo empreendida, mas dois operários acabaram morrendo ao serem tragados pelas comportas.

Em 2006, o Ministério Público Federal e o Ministério Público Estadual propuseram uma ação civil pública, pedindo que o Dnocs e a União fossem obrigados a fazer o reparo. Em janeiro de 2007, a 4ª Vara da Justiça Federal no Rio Grande do Norte decidiu favoravelmente à ação. As obras custaram o cerca de R$ 9 milhões, e para que fossem iniciadas, foi necessário a dragagem do Rio Ceará-Mirim. Com isso, o açude esvaziou, chegando a ficar somente com 5% de sua capacidade. Agora,  a sangria no açude de Poço Branco significa a volta da esperança para a melhoria na vida da população local.

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