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Bate papo com Luiz Carlos Baldicero Molion

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Bate papo com Luiz Carlos Baldicero Molion, meteorologista e professor da UFAL

O ciclo de estiagem encerrou, e teremos bom inverno em 2018?
Temos uma situação de La Niña que está se instalando, bem forte. É resfriamento das águas do Oceano Pacífico, numa situação oposta ao El Niño. A gente faz uma correlação entre essa temperatura e as chuvas para a região Nordeste. Todas as vezes que temos La Niña instalado, percebe-se um ano bom de chuva. Começou a se instalar em agosto deste ano e já ocupa mais da metade do Pacífico. Acredito que essa situação de La Niña persista até março a abril de 2018. Há uma previsão que já a partir deste mês de novembro tenhamos chuva dentro da média, ou acima, no Rio Grande do Norte. Isso deve persistir até março, quando há um ligeiro decréscimo, e retoma especialmente a partir da região Leste. Particularmente, não acho que La Niña não se dissipa em abril de 2018. Acho que volta a se formar no segundo semestre do próximo ano, e ao menos até a primeira metade de 2019, que deve ser também um ano normal ou com chuvas acima da média em alguns locais. Então teríamos 2018 mais chuvoso e 2019 na média, ou um pouco acima; porém, não tão chuvoso.

Entrevista com o meteorologista e professor da UFAL, Luiz Carlos Baldicero Molion

Entrevista com o meteorologista e professor da UFAL, Luiz Carlos Baldicero Molion

E após 2019, as chuvas continuam?
A partir daí, teríamos que nos preparar para um novo El Niño, começando no segundo semestre de 2019. Mas, pelo temos visto, El Niño muito fortes ocorrem em intervalos de tempo de 18 a 19 anos. Mas esse não será um fenômeno tão intenso quanto tivemos em 2015 e 2016, quando tivemos um verdadeiro desastre no Nordeste, em particular para o Rio Grande do Norte.

Então vamos entrar em um novo ciclo?
A tendência, agora, é de quebrar um ciclo que já vinha ocorrendo. As pessoas quase sempre se referem ao passado mais recente, como 2015 e 2016. Mas se olharmos os dados, veremos que vem desde 2010. Esse ciclo, de oito anos, está sendo quebrado agora e entraremos em um outro ciclo de oito ou nove anos em que as chuvas estarão mais regulares. Não há nenhuma perspectiva de termos uma seca severa como essa desse período. No fundo, nessas situações, há um efeito cumulativo. Quando alternam anos chuvosos e secos, não afeta tanto. Mas numa sequência como essa, praticamente desde 2010, os recursos hídricos disponíveis vão se esgotando. Esse ciclo terminou e acredito que pelos próximos nove ou dez anos não teremos nenhum evento de seca severa, mesmo que ocorra algum ano com chuvas abaixo da média.

Esses ciclos estão relacionados a eventuais mudanças climáticas?
Na verdade não há mudança climática. Existe variabilidade em ciclos, às vezes, até longos. Observando nos últimos 80 a 90 anos, e se pudermos ouvir as pessoas com mais idade, teremos confirmação que a década de 1930 — em particular o ano de 1932 — foi um período de anos secos consecutivos e até pior que o ciclo atual. Isso em termos de clima, de chuva. Claro que naquela época a agricultura era em escala menor, a população menor, de forma que o impacto social não tinha a mesma repercussão de hoje, mesmo que fosse severo. Não tinha grande repercussão econômica.

Então não há correlação com aquecimento global?
Não. O homem não tem capacidade nenhuma de mudar o clima do planeta, que é controlado pela atividade solar, pela cobertura de nuvens. Isso sim gera um ciclo de aquecimento e resfriamento, a partir desses aspectos e, claramente, em função da temperatura dos oceanos. Então, o Homem não tem nada a ver com isso. Pelo contrário, quanto mais gás carbônico tivermos na atmosfera, melhor porque as plantas tornam-se mais produtivas.

Ciclos como esses não se repetem frequentemente. São intervalos de 80 a 90 anos — não há como precisar ao certo porque o conjunto de dados que temos não é um período tão longo. O Homem nada tem a ver com isso; é uma variabilidade natural.

Esse prognóstico de termos quase uma década sem seca severa permite planejamento por parte dos gestores?
Temos uma década para planejarmos melhor a utilização dos recursos hídricos, coisa que lamentavelmente não se faz. A gente atua mais como bombeiro. É uma oportunidade para nossos administradores, e políticos, trabalharem e acabarem de uma vez por todas que persiste centenas de anos. Estamos sempre falando em seca, seca e seca e não se faz nada. Tem regiões do mundo, como na Israel, onde chove 250mm por ano, e que produz flores, e fornece para quase toda a Europa.

Quem
Luiz Carlos Baldicero Molion é meteorologista brasileiro, professor da Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Também é representante dos países da América do Sul na Comissão de Climatologia da Organização Meteorológica Mundial (OMM). É bacharel em Física pela USP e doutor em Meteorologia – e Proteção Ambiental, como campo secundário – pela Universidade de Wisconsin, Estados Unidos.

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