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Batuta feminina

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Isaac Ribeiro
Repórter

Quando foi a última — ou até mesmo a primeira — vez que você assistiu a um concerto de música erudita regido por uma mulher? Hoje, a Orquestra Sinfônica da UFRN apresenta o segundo concerto da temporada 2018, “Classicamente Feminino”, tendo como regente convidada Cínthia Alireti, maestrina à frente da Orquestra Sinfônica da Unicamp, de Campinas (SP).

Maestrina da Orquestra da Universidade de Campinas-SP durante ensaio com a OSUFRN. Concerto de hoje não terá foco no feminino, mas ela destaca a “Sinfonia Haffner”, de Mozart

Maestrina da Orquestra da Universidade de Campinas-SP durante ensaio
com a OSUFRN. Concerto de hoje não terá foco no feminino, mas ela
destaca a “Sinfonia Haffner”, de Mozart

Serão duas sessões no auditório da Escola de Música da UFRN, às 18h e às 21h. A entrada é gratuita, mas com retirada antecipada de ingressos. Caso não tenham sido esgotados, uma nova carga será disponibilizada 30 minutos antes da apresentação. Haverá também palestras pré-concerto, às 17h e 19h.

No repertório, “Sinfonia de Haffner”, de Mozart; “Peça de Concerto para dois clarinetes op. 113 n.1”, de Felix Mendelssohn,  com participação dos clarinetistas e professores Carlos Rieiro (UFPB) e Amandy Bandeira (UFRN); e ainda “Diálogo entre Vênus, Azreal e Ogum”, do paulistano Leonardo Martinelli.

Apesar de ser interpretado por uma mulher e de se chamar “Classicamente Feminino”, o repertório não faz,  necessariamente, referência unicamente às mulheres, como comenta Cínthia Alireti, que conduz a Orquestra Sinfônica de Campinas desde 2012.

“Talvez o que tenha de mais feminino no repertório seja a “Sinfonia Haffner”, de Mozart, que é uma sinfonia clássica e talvez tenha uma interpretação mais delicada. Não gosto muito dessa questão de gênero, porque eu acho que arte é expressão e não importa se é um homem ou uma mulher”, diz Cínthia, indicando ainda que a diversidade é a marca do concerto. “Sou uma regente que gosta de transitar pelo barroco, clássico e contemporâneo, tanto quanto o romântico.”

Para Cínthia Alireti, não deve haver distinção de gênero na arte

Para Cínthia Alireti, não deve haver distinção de gênero na arte

Mulheres
A maestrina considera haver cada vez mais mulheres na formação de orquestras e à frente delas, como regentes. Entre elas, cita Mary Alsop, regente da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, e sua assistente, a italiana Valentina Pelegge; ainda Lígia Amadio, regente da Orquestra Sinfônica da Universidade de São Paulo; e Cláudia Feres, que desde 1997 é diretora artística da Escola de Música de Jundiaí, onde coordena a Orquestra de Câmara de Repertório. “Tem várias jovens regentes por aí. Não sei qual vai ser a extensão da carreira delas, mas existem várias”, diz Cínthia Alireti.

Do clássico ao pop
Idealizadora e curadora de projetos musicais, tendo dirigido concertos em parceria com Frejat, Jota Quest, Alegre Correa e Blitz, a maestrina Cínthia Alireti é formada em Composição Musical (Universidade de São Paulo) e em Publicidade e Propaganda (Faculdade Armando Alvares Penteado), mestrado e doutorado em regência coral e orquestral com especialização em música antiga (Universidade de Indiana – Bloomington, EUA) e mestrado franco-alemão em musicologia (Université de Paris IV – Sorbonne, e Universität des Saarlandes, Saarbrücken). Confira trechos da entrevista ao Viver.

Como sente a reação do público ao vê-la regendo uma orquestra? Há algum tipo de resistência?
Às vezes tem sim uma resistência. Mas hoje em dia já não tem mais tanta. A maior orquestra de São Paulo é regida por uma mulher, uma americana.  Eu acho que as novas gerações já saíram ganhando das conquistas que as nossas tias já conseguiram. Mas eu acho que existe sim uma certa resistência, ainda mais no Brasil, que é um país super racista. Mas eu acho que existe uma resistência quanto a uma liderança em geral.  Não acho nem que é só questão de gênero que a gente deve apontar aqui, mas é uma questão de liderança. Que tipo de lideranças as pessoas esperam hoje? Elas estão esperando um pouco mais de diálogo. Talvez seja isso que a mulher traga de mais especial. O ritmo é outro.

Como você percebe essa resistência?
Com minha orquestra, a Sinfônica da Unicamp, por exemplo, eu tive resistência. Mas também pela minha inexperiência. É uma orquestra profissional, com pessoas bem mais velhas do que eu e que, quando eu comecei, já tinham uma experiência muito além da minha. Eles acham que você é o sexo frágil, começa daí. Eles acham que você é frágil. Isso foi o que eu senti. E depois de um tempo eles viram que não é bem assim.

Já teve seu trabalho prejudicado por esse tipo de dificuldade?
Eu acho que às vezes tem uma resposta, dependendo do lugar, principalmente quando você é regente convidado e as pessoas têm um choque. Mas depende. Quando você já é conhecida, as pessoas sabem como você trabalha; mas muitas vezes eu acho que é difícil pro cara, que está sentado lá, ver uma mulher na frente dele dizendo o que tem de fazer.

Serviço:
2º concerto da temporada 2018 da Orquestra Sinfônica da UFRN. Regente convidada: Cìnthia Alireti (SP). Hoje, com sessões às 18h e 20h. Entrada gratuita (com retirada prévia de ingressos sujeita à lotação). Informações: 3342 2229.

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