sexta-feira, 19 de abril, 2024
32.1 C
Natal
sexta-feira, 19 de abril, 2024

Beato

- Publicidade -
Rubens Lemos Filho

Joca. Campeonato Estadual - 1984
A fé é a sobrevivência dos humildes. João Bernardo, Joca, é um deles. Quando surgiu vestido de frade franciscano na decisão do campeonato estadual de 1984, parecia prever tormentas e recitar salmos e versículos em comovente contrição.

 O ABC jogava pelo empate contra o Baraúnas de Mossoró no Castelão e era fragmento do timaço do ano anterior, com apenas uma estrela, Dedé de Dora, sem Marinho Apolônio e Silva, artilheiros siameses, vendidos ao Bahia e ao Fortaleza.

Joca, roupeiro, apareceu e a Frasqueira, localizada na parte frontal do Estádio Castelão, de súbito como nas ordens divinas, cantou, de cor e salteado, cada estrofe do cancioneiro alvinegro. Vários hinos, em coro, sem palavrões. Joca estava ungido e nós, temerosos.
Tinha 14 anos, nenhum tostão no bolso, fora moedas para a passagem de ônibus de volta e aquele time de uniforme branco era meu brinquedo, meu luxo e meu oxigênio de liberdade.

O Baraúnas, valente como Mossoró e sua história, seu povo e sua memória, abriu 2×0 e passou a envolver jogadores experientes num toque de bola magnético, imposto por alguma entidade estranha ao jogo e as suas circunstâncias habituais.

O Baraúnas comandava a partida e a festa do bicampeonato, com trio elétrico encostado junto aos táxis na área onde agora há um deserto nomeado de estacionamento na luxuosa Arena das Dunas, caminhava para o adiamento.

Lembro-me de haver rezado o Santo Anjo, várias vezes, morto de sede. De título. Refrigerantes gelados passavam à minha frente e o nenhum centavo me alertava para a necessidade de ficar conformado no cimento que para mim sempre foi um sofá de pele russa de zibelina, a mais rara e cara do planeta.

 Dedé de Dora, canhoto, buscava o jogo pela direita, levava a bola até a intermediária e, guerrilheiro, driblava quatro adversários até ser derrubado. O zagueiro Joel estava no auge dos seus chutes potentes. O ABC não tinha a técnica do passado recente. Sobrava-lhe a massa a gemer na basílica popular.

 Escanteio cobrado pelo ponta-direita Curió, do lado esquerdo. Joel cabeceia primeiro, a bola vai sair e Dedé desvia do goleiro. Explode o estádio e no banco, o frade magro e devoto dá cambalhotas. Joca ergue as mãos aos céus.

 São 44 minutos do segundo tempo. Dedé, que parecia 10 dele, é derrubado de novo. Joel dispara um míssil Exocet que explode nas redes quebrando a resistência mossoroense. Lembro de ter voltado a pé, para casa, no meio de uma passeata, dançando, chorando de tanto rir.

 Joca tinha 15 anos quando chegou ao ABC. A idade que eu contava naquele tarde. Joca começou em janeiro de 1970 no time de Alberi e Marinho Chagas para ser o eterno roupeiro, o caprichoso preparador do manto das sacras batalhas.

 Farei (ou não?) 50 anos de idade em agosto. Tenho menos tempo de vida do que Joca de ABC. Ele é muito maior do que eu. É a oração de São Francisco de Assis às segundas-feiras pela manhã, no exato trecho em que é mais importante amar do que ser amado. O amor de Joca ao ABC é a consagração do simples e anônimo frasquerino.

Vasco
Fosse um tantinho melhor, o ABC entraria favorito contra o Vasco pela Copa do Brasil. Com Wallyson, apostaria no ABC. O Vasco envergonha sua torcida e não tem, entre 45 ou 50 pernas de pau, um que possa ser chamado de mediano.

Cano 
Uma marcação competente sobre o atacante colombiano German Cano será meio caminho para o ABC se sair bem no jogo da Copa do Brasil.

Globo

É um exemplo da inutilidade de times sazonais criados para saciar vaidade de cartola e ser usado como instrumento politiqueiro, eleitoreiro, rasteiro. Chega a ser patético o estado do Globo. Mas o ABC não subestime.

Diferenciado
O presidente do América, Leonardo Bezerra, é um sujeito diferenciado. É cordial, atencioso e competente. Nos últimos anos, não surgiu nem no próprio América nem no ABC, alguém sem vaidade babaca, vocabulário rasteiro e visão caolha do futebol. Leonardo Bezerra está surpreendendo bem.

Lima
O promotor Augusto Lima apresentou uma série de sugestões racionais e interessantes para combater os facínoras dos estádios, uma delas, investigar se as “torcidas” lavam dinheiro de organizações criminosas. Foram, sem questionamentos, as melhores e plausíveis ideias sobre o tema. Ouçam o promotor, convidem-no para esmiuçar a proposta.

Rato
Faz pouco tempo que os dois maiores rivais iniciaram uma temporada de caça ao rato fora de época. Um volante xará do camundongo. Agora, ele vai perdendo espaço no América de Roberto Fernandes. Com razão. Volante que valeria a pena uma disputa está lá mesmo: César Sampaio.
- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas