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Beco da lama ganha cores e grafite

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Yuno Silva
Repórter

Samba, sebos, poesia, artes visuais, meladinha, cerveja, churrasquinho e histórias, muitas histórias. O Beco da Lama, tradicional reduto cultural e boêmio no bairro da Cidade Alta, centro da cidade, está prestes a ganhar novas cores, novo fôlego e perspectivas capazes de chamar a atenção dos natalenses e alavancar um potencial turístico ainda latente na região. Por tabela todos saem ganhando: público, comércio e comerciantes – incluindo a segurança, que se fortalece com o movimento e a presença das pessoas. A arte do grafite será o catalisador, e ponto de partida, da transformação almejada por público, empresários e poder público: a partir dessa quarta-feira (6), e pelos próximos 15 dias, 40 grafiteiros vão pintar painéis pelo local tendo Câmara Cascudo como tema principal.

Após a pintura das paredes, grafiteiros irão homenagear Câmara Cascudo no Beco da Lama


Após a pintura das paredes, grafiteiros irão homenagear Câmara Cascudo no Beco da Lama

Dois artistas urbanos de São Paulo foram convidados para coordenar os trabalhos, Dicesarlove (César de Almeida) e Marcos Almeida. A dupla irá co-assinar os painéis na Rua Vaz Gondim – endereço do Beco – com outros 38 grafiteiros do Rio Grande do Norte. Com 23 anos de carreira, Dicersarlove já assinou painéis em Cuba, Estados Unidos, Japão, Polônia, Suécia, Holanda e nos Emirados Árabes.

“Queremos transformar o Beco da Lama em uma das grades atrações turísticas de Natal. Para alcançar esse objetivo, contamos com o apoio de artistas comprometidos que estão fazendo um trabalho espontâneo e de valorização da arte e da cultura”, assegurou o prefeito Álvaro Dias durante visita realizada na tarde de ontem. Acompanhado por parte do secretariado municipal, o chefe do Executivo adiantou que o Beco da Lama irá receber um investimento gradativo nos próximos dois anos. “Vamos ajeitar calçadas, o pavimento; a intenção é tornar o Beco da Lama um lugar convidativo e agradável”, acrescentou Dias.

A proposta de colorir as fachadas e criar paineis grafitados surgiu da união de empresários que mantém comércio na Cidade Alta. O grupo criou o “Viva o Centro” há cerca de sete meses, movimento que já conta com 300 membros, e resolveu acionar a Prefeitura para apresentar o projeto de revitalização e requalificação do Centro Histórico.

“Costumamos reclamar da Prefeitura e dos órgãos públicos por não atender nossos anseios, mas o que estou fazendo enquanto empresário para melhorar o ambiente onde trabalho? A pergunta incomodou e foi a motivação para a criação do ‘Viva o Centro’”, lembrou o empresário Delcindo Mascena, proprietário da loja de roupas Avohai, que há 23 anos funciona na Cidade Alta.

Ele disse que as articulações com a Prefeitura já resultaram na instalação de lixeiras e na atuação de garis durante o expediente – que antes só faziam a limpeza diariamente no final da tarde. A Urbana, e as secretarias de Serviços Urbanos (Semsur), Mobilidade Urbana (STTU), Meio Ambiente e Urbanismo (Semurb), e Fundação Capitania das Artes (Funcarte) estão envolvidas no projeto de requalificação do Beco da Lama.

Delcindo contou que a primeira atitude foi circular pelo bairro: “Conhecia pouco sobre o Beco da Lama. Ouvia falar sobre o Bar de Nazaré, Zé Reeira, do Bardallos; percebemos que não adianta revitalizar o comércio sem valorizar a cultura e os artistas, só assim para garantir a sustentabilidade da iniciativa”.

Amigo do amigo
O empresário contou que, “quando a Prefeitura topou ajudar”, foi atrás do contato de um artista que pudesse dar a visibilidade necessária à iniciativa. “O Dicesarlove é amigo de um amigo meu lá de São Paulo, tem renome internacional, e se prontificou em ajudar de maneira voluntária depois de conhecer a proposta. Os empresários, donos de bares e as pessoas que frequentam precisam sentir e acreditar no potencial do Beco da Lama para a coisa dar certo”, pontuou.

Para Dicesarlove “o mais importante desse projeto é a transformação do lugar, a criação de uma galeria a céu aberto. Uma satisfação maior que qualquer cachê, garantiu o artista de 45 anos. O nome Dicesarlove remete ao trabalho autoral de César de Almeida, que fala muito sobre o amor: “Nas minhas telas abordo só esse sentimento nobre”. O tema foi amadurecido a partir de visita à casa de Câmara Cascudo e conversa com a neta do historiador Daliana Cascudo, diretora geral do Ludovicus – Instituto Câmara Cascudo. “Fiquei fascinado. Do lado da minha casa, na zona Sul de São Paulo, tem uma escola chamada Câmara Cascudo e lembrei também que Cascudo já estampou uma cédula de 50 mil cruzeiros no final dos anos 1980”.

Local 
Os grafiteiros locais, que terão mil latas de spray à disposição para pintar temas ligados à cultura popular e outros assuntos abordados nos estudos de Câmara Cascudo, também se prontificaram a participar da iniciativa de forma voluntária.

“O Beco da Lama sempre foi um espaço da cultura urbana, entramos aqui há alguns anos marginalizados, no estilo da arte de rua, e hoje estamos voltando com um convite formal para ajudar a melhorar a cidade. É um momento histórico para o grafite de Natal, uma apropriação que veio para ficar, e os artistas estão felizes de começar o projeto por aqui”, destacou o grafiteiro natalense, músico e professor Miguel Carcará, de 37 anos. “Estamos todos juntos para somar, e nossa expectativa é que o projeto avance para outras áreas e a gente consiga contemplar outras bairros como a Ribeira”.

Para Dácio Galvão, secretário Municipal de Cultura e presidente da Fundação Capitania das Artes (Funcarte), a revitalização do Beco da Lama é apenas “a ponta do iceberg, haverá desdobramentos. A proposta é criar um museu a céu aberto que vai ganhar conceituação e forma jurídica”. O gestor informou tratar-se de um “política pública pioneira” no sentido de apoiar linguagens artísticas que geralmente “estão à margem e fora das coletivas”.

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