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Beleza do Parque Estadual Pedra da Boca atrai visitas

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ECOTURISMO - O Parque Estadual Pedra da Boca encanta moradores e visitantes
O sol aparece timidamente na manhã norte-rio-grandense. As nuvens indicam que a chuva está por vir. Ela não chega, só ameaça. Da própria RN 093, se pode enxergar ao longe as formações rochosas e um verde ainda acobertado pelo cinza do céu. No quadro, o cenário da Pedra da Boca. Não mais que quatro quilômetros separam o asfalto de Passa e Fica da Pedra da Boca. É visível que não poderia existir nome melhor para a rocha de granito que nomeia o Parque.

Há oito anos, a Superintendência de Administração do Meio Ambiente (Sudema) da Paraíba, estabeleceu os limites do Parque Estadual da Pedra da Boca. São 157,3 hectares de extensão territorial. A área do parque pertence ao município de Araruna (PB). De acordo com o último censo do IBGE, 19.191 habitantes povoam o território de 306,3 km².

O centro de Araruna está a 25 km da entrada do Parque, enquanto Passa e Fica dista apenas 4 km. Os dois principais canais de entrada são João Pessoa, a 165 km e Natal, a 120 km. Não existe controle de quantos entram ou saem da unidade de conservação ambiental. Os números inexistentes no papel, mas, presentes no dia-a-dia, movimentam o turismo local.

Caminhada, escalada e rapel são atividades predominantes na área. O ecoturismo, o turismo de aventura e religioso, atraem pessoas de vontades e perfis distintos. Os freqüentadores do parque são formados por grupos de amigos, famílias, estudantes, pesquisadores e aventureiros, que encontram no lugar atrações sedutoras. É injusto afirmar que o complexo rochoso pertence somente ao estado da Paraíba, algumas pedras estão fora do perímetro estabelecido pelo governo.

A Sudema afirma que na época da criação do parque, não houve interesse em incluir as formações rochosas do Rio Grande do Norte no parque, uma vez que a área perderia o caráter de unidade de conservação estadual e passaria a ser federal.

A água do Rio Calabouço divide ao leste a unidade ambiental do Rio Grande do Norte. Pedras, pinturas rupestres e trilhas também são encontradas no lado de cá. Para quem visita, não importa a quem pertence, os dias ali são para curtir o visual do verde, intensificado pelas chuvas do inverno, as grutas e as pedras que afloram a alguns metros do chão (336 metros no caso da pedra da Boca).

As rochas sofrem desgaste natural e parte destas cai formando bocas, grutas e ranhuras. As pinturas rupestres aparecem levemente na superfície de algumas rochas. O vento e a chuva se responsabilizam em levar, aos poucos, estas memórias do passado. Pedra da Boca, da Caveira, do Coração, do Carneiro e da Santa são nomes dados em função do formato visível ou de alguma história contada ao longo das gerações.

A caatinga, bioma exclusivamente brasileiro, predomina na região pertencente ao semi-árido. Gameleira, coco catolé, juazeiro, macambira, xique-xique, juazeiro, algaroba e o cardeiro formam parte da vegetação do parque. Pássaros como o gavião, rolinha e o beija-flor, que tem a característica particular de fazer ninhos em urtigas para proteger os filhotes, são vistos e ouvidos entre os galhos.

Morador ajuda na preservação

O quintal de Seu Tico é invejado por muitos. Por trás da casa amarelada está a boca da pedra. Francisco Cardoso de Oliveira é o verdadeiro nome do falante morador, mas, ninguém o conhece assim. Desde 1988, Seu Tico abre sua porteira de madeira para os aventureiros acamparem. O primeiro grupo veio da Universidade Federal da Paraíba, encontrando lugar na terra e no coração deste homem, que há 52 anos vive sob o sol paraibano.

“Não troco isso aqui por nada no mundo”, exclama enquanto caminha em direção ao portão de sua propriedade que dá acesso ao parque. Ele é o “guia” mais antigo da região. Ao longo dos anos, tem conduzido grupos brasileiros e estrangeiros pelas trilhas abertas na Caatinga. “Moro num paraíso. Eu preservo e tenho muito carinho por tudo aqui”, diz Seu Tico.

Falar abertamente sobre decisões tomadas pelo Governo Paraibano durante a criação do Parque não é um problema para Seu Tico. Ele cita o nome de cinco famílias que foram remanejadas por terem casas na área delimitada pelo Estado. A indenização paga aos moradores foi simbólica. “Eles (o governo da Paraíba) indenizaram pelo preço que quiseram e derrubaram as casas. Só sobrou uma. Tudo bem que é uma área preservada, mas, tiraram os nativos daqui e não deram nenhum apoio”, lamenta Seu Tico, que até hoje aguarda o dinheiro referente à uma parte de seu quintal que atualmente pertence ao parque.

Ele conta que o primeiro diretor ao assumir unidade de conservação, quis arrancar as mangueiras centenárias da região por não serem originárias da Caatinga. O guia veterano e moradores protestaram contra a decisão absurda e felizmente as mangueiras permaneceram. Outro ponto que Seu Tico não se conforma é com a proibição de entrarem na área pela porteira do quintal. “Tem a entrada principal ali na frente, mas quem é que vai andar 300 metros podendo entrar por aqui? “, questiona.

Gil Macedo nasceu em Araruna, morou fora do país por nove anos e agora está de volta à sua terra. “Eu vim retomar minhas raízes e fazê-la florescer em outros parâmetros”, afirma. A fazenda Terra Esperança está no lado do Rio Grande do Norte e os janelões da sala enquadram perfeitamente a Pedra da Boca. Gil tem planos de montar uma pousada, mas, enfatiza que a propriedade existe independente do turismo.

A intenção é que o homem seja integrado à terra no período em que permanecer no rancho através de um turismo rural e ideológico. “É melhor que poucos levem alguma coisa daqui, do que muitos não levem nada”, ressalta. Gil Macedo desenvolve um trabalho social com as crianças das proximidades, o horsemanship, no qual há interação do ser humano com o cavalo, partindo do ponto de vista do animal.

Para participar do projeto, as crianças necessitam de bom comportamento e freqüentar escola. “Quem vem para cá financia o projeto”, afirma Gil e ainda completa: “fazendo isso, eu sirvo o Brasil. A idéia não é ter grana e sim vida, trabalhando para um Brasil anônimo”.

12 cavalos e cerca de 100 cabeças de gado andam livremente pela terra de 120 hectares. Gil mostra orgulhoso o barreiro recém-construído que aguarda as próximas chuvas para armazenar água. O foco da fazenda é ainda o turista estrangeiro, porém Gil espera o dia em que poderá ter brasileiros no rancho. Ele divide os dias entre uma casa em Natal, cidade que adotou, e o rancho.

A ligação com as origens é forte e isto é passado para cada turista hospedado na casa de chão de cimento queimado e expressivas fotos em preto e branco nas paredes. “A terra diz como tem que viver. A terra sempre prevalece”. E assim termina a agradável conversa com o paraibano apaixonado pela terra.

Passa e Fica é a porta de entrada do Parque Estadual

Em 7 de fevereiro de 2000, o governo do Estado da Paraíba criou a Unidade de Conservação Ambiental, através do decreto governamental Nº 20.889, com a finalidade de proteger e desenvolver o ecoturismo no complexo rochoso da Pedra da Boca e o ecossistema local. A Superintendência de Administração do Meio Ambiente (Sudema) passou a administrar efetivamente o Parque Estadual da Pedra da Boca em 2003.

O município está encrustado no Planalto da Borborema, na Mesorregião Geográfica do Agreste Paraibano, inserido na Microrregião do Curimataú Oriental. A prefeitura de Araruna reconhece que a “porta de entrada” do parque é o município de Passa e Fica. “A Pedra da Boca vende a região. Porém, os visitantes não estão conhecendo a sede do município”, lamenta Ubiratan Batista, secretário de administração de Araruna. O secretário comenta que outros atrativos podem atrair o turismo, como o clima de Serra, uma vez que está a 580 metros do nível do mar, e o centro histórico, com idade aproximada de 132 anos.

Ubiratan diz que a divulgação é quase inexistente e acredita que a população pode contribuir também com o turismo na região. “Falta empreendedorismo da iniciativa privada. As pessoas têm que acreditar no potencial da Pedra da Boca”, conclui o secretário.

O atual gestor do Parque Estadual, José Humberto Barbosa da Costa, 36 anos, assumiu o cargo em junho deste ano a convite da Sudema. O trabalho de gestor é voluntário. Ele, também leciona em escolas de quatro municípios (incluindo um na Paraíba), é coordenador de projetos ambientais e lidera um grupo de voluntários que trabalham com conscientização ambiental. Humberto defende a união de forças dos Estados para divulgar melhor a área e controlar a entrada e saída dos visitantes, que ainda não existe. Atualmente, apenas dois guardas fazem a fiscalização de toda a unidade. Ele ressalta a importância dos visitantes andarem com guias ou condutores, que orientam o turista nas trilhas, grutas e pedras.

O gestor diz que o incentivo à visitação deve começar dentro das escolas dos municípios próximos à unidade. “O Parque é um laboratório vivo. O aluno precisa ter uma informação correta sobre sua região, ele é um conscientizador e multiplicador”, completa.

Ricardo Henrique é morador de Araruna e está aos poucos estruturando uma agência de turismo, Aratur, com intenção de divulgar não somente a Pedra da Boca, mas outras particularidades do município. “Temos aqui sítios arqueológicos, plantações de maracujá, casas de farinha e assentamentos que são interessantes para o turista”, fala animadamente Ricardo, que recebe desde mochileiros a grupos empresariais. “Conhecer a região é uma forma de segurar o turista por mais dias. A vantagem de Araruna é a questão climática e histórica”, ressalta. O agente de turismo divulga as duas pousadas e o Hotel do município, além de outras hospedarias nas proximidades da pedra.

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