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Bem-vindo a 1950

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Tádzio França – repórter

Estar em lugar que dá a sensação de que o tempo parou, nem sempre é sinal de monotonia. Pelo contrário. Os apreciadores do retrô, que usam o passado como tema para várias ocasiões, podem proporcionar momentos de diversão para muita gente moderna. Espaços temáticos com bailes que voltam aos meados do século passado, um salão de beleza onde tudo é vintage (e também acontecem festas), exposições de aficionados pela história do futebol brasileiro, e ambientes sonorizados por amantes de discos de vinil. O passado pode ser uma festa – ou um lugar para se visitar e esquecer do cotidiano.
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O bar 5Quentona, há oito meses instalado no posto São Luís IV, em Barro Vermelho, é uma viagem aos anos 50. Da arquitetura à decoração, tudo foi pensado para remeter à época de Elvis, Little Richard, jaquetas de couro, gel no cabelo, jeans “rebeldes”, pin-ups, lambretas, porches, e outros clichês que todo mundo gosta de lembrar. O empresário e arquiteto Leonardo Flor, conhecido apreciador de antiguidades, estava pensando em um diferencial para a loja de conveniência do posto. A década de 50 veio então como inspiração. 

“Eu queria um espaço temático. Os anos 50, por ter essa eterna empatia jovem, me pareceu uma boa ideia. Pesquisei, garimpei antiguidades da época, e o local felizmente emplacou”, explica Leonardo, que administra a loja ao lado do filho Saulo Flor. O 5quentona chama a atenção de longe. A começar pela fachada, com o chamativo neon com o nome do local. Ao estilo da época, há colunas em ‘vê’, e paredes com  cobogós aplicados. A pin-up gigante que adorna a fachada está em conserto, mas voltará logo.

No interior da loja de conveniência, o clima ‘fifties’ continua. Paredes verdes, o piso quadriculado preto e branco, luminárias tipo opalinas, discos de vinil nas paredes, uma jukebox (em funcionamento), geladeira da época, uma lambreta de 1959. Capas de revistas do período decoram as paredes, como O Cruzeiro (54), Manchete (55) e Grande Hotel (67). Uma reprodução de bomba de combustível antiga guarda as cervejas especiais. A caixa registradora é uma raridade original: é a do primeiro posto São Luís, de 1958.

Rock ‘n roll e Fuscas Tunados
Saulo e Leonardo ressaltam que a 5Quentona não é propriamente um bar, mas que acabou atraindo pessoas que querem beber e comer algo rápido (salgados em geral). Além de todos os produtos habituais de uma loja de conveniência, o destaque são as cervejas especiais. São mais de 50 rótulos, entre importadas e nacionais. Há mesas na calçada, e  espaço interno climatizado e em rede wi fi. O charme do local já inspirou vários ensaios fotográficos, entre books de 15 anos, casais, e editoriais de moda. Até um curta-metragem já foi filmado na loja.

 A trilha sonora da época também já se instalou no 5Quentona. Um vez por mês é realizada uma noitada de rockabilly, blues, rock ‘n roll e afins. Já rolaram três edições. A próxima será em outubro. A banda toca na calçada, e o povo acompanha – alguns, à caráter. Segundo Saulo, muita gente vem com jaquete de couro, visual pin-up, roupas com estampas de bolinha, motocicletas, etc. Até uma vertente específica já se apresentou, a dos ‘hood riders’: donos de fuscas tunados com visual – cuidadosamente – desleixado, “decorado” por bagagens e outros apetrechos. Vem uma turma de João Pessoa (PB) só para participar da festa. O público médio é de 400 a 500 pessoas por festa.

Leonardo Flor adianta que o 5quentona guarda novidades futuras para seus atuais fãs. Inclui uma ampliação do espaço, e um cardápio com alguns pratos típicos da época. Mas só em 2014. Por enquanto, o baile rockabilly segue.

Espaço cultural e salão é uma verdadeira viagem

A cabeleireira Nalva Melo sempre apreciou móveis antigos. Em 1994, ao instalar seu salão num prédio Art Déco construído entre anos 40 e 50, no coração da Ribeira, o sentimento pelo  vintage aumentou. Hoje, o Nalva Melo Café Salão pode passar facilmente por um ambiente original de 1945. O salão virou point cultural, com café, eventos de música e cinema. O ar retrô é o maior atrativo.

Nalva faz questão de decorar o salão com elementos antigos. Ela mesma faz uma atenta garimpagem. O resultado pode ser apreciado por todo o ambiente. Ela lista cadeiras do finado Cine Panorama e de um posto da velha Telern; uma estante de hospital que virou biblioteca para vender livros de artistas locais; uma geladeira dos anos 60. Alguns foram presentes, como um rádio transmissor da 2ª Guerra Mundial,  e a peça mais antiga do salão: a cadeira de cortar cabelo, que tem mais de 100 anos, de fabricação americana; foi presente de um casal amigo de Nalva.

Nostalgia pouca é bobagem

Até a novidade tem cara retrô: em parceria com a marca Nostalgia Beer, há um display em forma de bomba de gasolina, para acondicionar as cervejas especiais. Mas Nalva considera que o maior tesouro do salão é a sua própria estrutura. “O piso original deve ser um dos elementos mais caros desse espaço”, afirma. O cenário vintage faz do salão um cenário constante. Já fizeram books de noivas, casamentos, capas de disco e vídeos de artistas locais, shows, reuniões e performances. “O visual antigo é um diferencial que valoriza o local”, diz. O chef e jornalista Alexandre Gurgel é tão fascinado pelo passado, que mudou recentemente de endereço. Foi para o velho e belo edifício Bila. “Sempre tive o sonho de morar na Ribeira. As novas gerações precisam conhecer melhor esse bairro”, afirma. Ele já era um aficionado pelo antigo. Sua paixão pela Seleção Brasileira rendeu a exposição “A Copa é Nossa”, em julho passado, na Fundação José Augusto.

Alexandre exibiu suas mais de 400 peças sobre futebol, entre jornais, revistas, fotografias, selos, vinis, álbuns de figurinhas, réplicas de taças, miniaturas, além de várias camisetas da seleção.

O jornalista conta que é um ‘garimpeiro’ incansável. “Tenho uma rede legal de contatos de compra e troca, principalmente na Internet. E também vou muita a sebos, ferros velhos, em qualquer lugar pode surgir algo interessante”, conta. Alexandre já teve um restaurante chamado Polytheama, homenagem ao centenário cinema natalense. Segundo ele, o pai Deífilo Gurgel foi influência direta em seus gostos. “Meu pai era um conservador de memórias. Acho que peguei isso dele”, conclui.

Serviço: 5Quentona. Posto São Luiz IV. Av. Prudente de Morais, 1308, Barro Vermelho. Tel.: 3222-6896.  

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