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Bispo descarta terceira greve de fome

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Petrolina (AE) – O frei Luiz Flávio Cappio, garantiu ontem que na sua luta pelo Rio São Francisco e pelos pobres não cabe uma terceira greve de fome. Ele reafirmou sua avaliação de que o Judiciário foi subserviente ao governo federal e demonstrou preocupação com o Estado de Direito. “Será que estamos vivendo uma ditadura?”, indagou. “Quando um governo tem do seu lado, à sua mão direita, o domínio do Legislativo, e à sua mão esquerda, o domínio do Judiciário, isso coloca em xeque o Estado de Direito.”

Indagado se temia ter sua imagem usada politicamente, d. Luiz disse que isso já aconteceu. E citou o governador da Bahia, Jacques Wagner (PT). Segundo ele, Wagner se elegeu governador usando sua imagem para conquistar os votos do sertão do São Francisco. Depois, teria ficado indiferente à causa e feito como Pilatos. “Lavou as mãos”, afirmou. Internado no Memorial Hospital de Petrolina, ele pode ter alta médica amanhã.

Com estado de saúde estável, já sem soro, ele comeu um pedaço de mamão pela manhã, sopa de legumes à tarde e torta leve de legumes à noite. Num processo gradativo de reeducação alimentar, seu médico Klaus Finkam afirmou que em sete dias ele deverá estar se alimentando normalmente, sem restrições.

O bispo chegou ao hospital desacordado, de ambulância, na noite da quarta-feira – quando desmaiou logo depois de saber da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que autorizou a retomada das obras de transposição. Na noite de quinta ele retornou de ambulância a Sobradinho (BA), onde em 27 de novembro iniciou sua greve de fome. Ali participou de festiva missa campal, em clima de emoção.

Muitas das 800 pessoas presentes choravam, solidárias ao religioso e felizes por ele estar vivo. A possibilidade mais provável é que ele agora siga para sua diocese, em Barra (BA), a 700 quilômetros de Petrolina, onde deseja passar o Natal.

O bispo concedeu entrevista à Agência Estado, com a ajuda de um parente. A reportagem entregou as perguntas ao juiz Luís Roberto Cappio Guedes Pereira, que as repassou a d. Luiz, seu tio, gravando as respostas. Preservado, o bispo passou o dia no apartamento do hospital descansando, ao lado dos familiares.

“A greve de fome foi um caso-limite, mas há minha vida inteira, vem de há muito, de variadas formas. O jejum foi apenas um momento dessa luta” , afirmou. Ele garantiu que não se cogita mais um protesto semelhante. “Não sou uma pessoa que está sozinha nessa luta e vou à frente, carregando uma bandeira, e quem quiser venha atrás de mim”, acrescentou.

O bispo disse que está disponível para discutir uma agenda nacional, durante o ano de 2008, para que os grandes movimentos sociais brasileiros passam se organizar. “Estarei ajudando-os na luta de sempre. Vejo todos os movimentos mobilizados para levar adiante a luta pela preservação do rio”, comentou.

Ao falar sobre o encerrramento da greve ele disse que “morte sempre causa muito espanto”, mas depois de vinte e tantos dias de jejum estava “espiritualmente tão forte que não sentia medo”.

Letícia Sabatella responde  às críticas de Ciro Gomes

São Paulo (AE) – Mergulhado em polêmicas, estudos que se contrapõem e conflitos de interesses sobre o melhor uso de suas águas, o São Francisco se transformou em alvo de um embate público envolvendo o deputado Ciro Gomes (PSB-CE), ex-ministro da Integração, e a atriz Letícia Sabatella. “Muitos milhões de pessoas no semi-árido (vá lá ver agora o auge da estiagem) desejam ardorosamente este projeto, esperam por ele há séculos”, afirmou o deputado em artigo, publicada pelo jornal O Globo, na edição de quinta, por meio da qual defende o projeto do governo Lula.

“Acredito que devam existir benefícios com a transposição, mas pergunto, deputado, quem realmente se beneficiará com esta obra: o povo necessitado do semi-árido ou as grandes irrigações agrícolas e indústrias siderúrgicas?”, retrucou Letícia, também em artigo. Ela saiu em defesa do bispo Luiz Flávio Cappio e de seu gesto – a greve de fome que durou 24 dias em protesto contra o plano do governo. Letícia criticou Ciro, que lhe havia sugerido que fosse até o religioso e a ele rogasse suspensão de “seu ato unilateral”.

Para Letícia, o ex-ministro não agiu com Justiça quando não reconheceu na ação de d. Luiz “uma profunda nobreza”. “Sinto muito que o senhor ainda insista em desqualificá-lo”, ela disse. “Espero que esse debate traga maior visibilidade à atuação dos movimentos sociais que lutam pela solução mais adequada para o São Francisco”, ela disse ontem. “Ao mesmo tempo em que sou atriz, também sou uma cidadã que se preocupa muito com o exercício do princípio democrático. Agora é dar voz às propostas que existem, isso é muito bom para o País e para toda a sociedade. Vamos embora, ao debate com transparência e ética.”

No artigo, o deputado dedicou parágrafos ao bispo, a quem censurou. “Por mais nobres que sejam seus motivos – e são, no mínimo, equivocados – o bispo Cappio não tem direito de fazer a Nação de refém de sua ameaça de suicídio. Qualquer vida é preciosa demais para ser usada como termo autoritário, personalista e messiânico de constrangimento à República.” Ontem, a assessoria de Ciro disse que ele não mais iria se manifestar sobre a celeuma com a atriz.

O deputado avalia que, como não ocupa mais o cargo de ministro, não seria ético de sua parte continuar falando da transposição. Letícia se apega a dados reunidos por Roberto Malvezzi, da Comissão Pastoral da Terra, que prega a importância de o País avaliar uma alternativa ao programa oficial. A melhor saída, avalia Malvezzi, está no Atlas do Nordeste, proposta da Agência Nacional de Águas. “É um diagnóstico rigoroso de todos os Estados nordestinos e qual a obra mais conveniente”, destaca. “Se a proposta que Ciro defende alcança 4 Estados, a nossa pega 9 e é bem mais barata. Se a dele beneficia 12 milhões de pessoas, a nossa vai a 44 milhões, se a dele chega a 397 municípios, a nossa se estende a 1.356.” “Dom Cappio não exagerou quando decidiu fazer seu jejum”, ressalta Letícia Sabatella.

Governador da Bahia ironiza ao comentar sobre  obras

Salvador (AE) – Ainda sentindo o golpe da não-aprovação da prorrogação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) pelo Senado – que chamou de “absurda” -, o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), amigo pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, brincou ao ser questionado se haveria corte de verbas para a transposição do Rio São Francisco com o fim da contribuição. “Está aí uma proposta que deveria ter sido feita pelo bispo Cappio”, disse, em referência ao bispo de Barra (BA), d. Luiz Flávio Cappio, de 61 anos, que ficou em greve de fome por 24 dias, encerrada quinta-feira, para tentar paralisar o projeto.

A declaração foi dada após ser questionado sobre o impacto do fim da CPMF. Wagner descarta que o governo esteja planejando a criação de um novo imposto para compensar a perda de arrecadação com a contribuição, mas avalia que o governo poderia

 driblar a diminuição no Orçamento com cortes de investimento em obras de infra-estrutura. “Como não acredito que haja diminuição dos programas sociais, acho que os cortes vão ser feitos nas obras de infra-estrutura previstas.” Intermediação – A transposição é uma das maiores obras de infra-estrutura previstas pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para os próximos anos, apesar de ser combatida por diversos movimentos sociais.

Há dois anos, foi o próprio Wagner, então ministro das Relações Institucionais de Lula, quem intermediou o acordo entre d. Luiz e o governo. À época, o bispo já estava sem comer havia 11 dias, em seu primeiro jejum de protesto contra o projeto no São Francisco.

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