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BNDES preparado para pisar no freio

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Rio (AE) – Com a rápida recuperação da economia após a crise mundial e a expansão recorde do Produto Interno Bruto (PIB) este ano, que deve ultrapassar 7%, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) pisa no freio. Com a previsão de encerrar 2010 com liberação de R$ 146 bilhões, o banco mantém o crescimento, turbinado com aportes e empréstimos do Tesouro, mas reduz o ritmo para encarar seus limites.
Coutinho: Seria bom que o mercado recuperasse esse espaço
Em dez anos, o BNDES elevou em 470% seu volume de desembolsos. Em 2007, quando emprestou R$ 64,9 bilhões, já estava entre os maiores bancos de fomento do mundo. Com a crise desencadeada nos Estados Unidos em 2008, foi escalado pelo governo para suprir a retração de crédito que fez despencar os investimentos. Liberou R$ 92,2 bilhões em 2008 e alcançou R$ 137,4 bilhões em 2009.

A expansão marcou ainda mais a distância do BNDES até mesmo de organismos multilaterais como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Banco Mundial. O primeiro teve US$ 15,5 bilhões (cerca de R$ 26,3 bilhões) em crédito aprovado para 48 países no ano passado e o segundo, US$ 40,3 bilhões (cerca de R$ 68,5 bilhões) desembolsados no ano fiscal 2009-2010. O BNDES ganha ainda de similares de outros países, como o banco alemão de desenvolvimento KfW. A instituição estatal liberou 50,9 bilhões (cerca de R$ 117 bilhões) em 2009. Os ativos totais do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social somaram R$ 472,4 bilhões no primeiro semestre deste ano, quase três vezes os cerca de US$ 100 bilhões de ativos do KDB, o banco de desenvolvimento da Coreia do Sul. Em 2007, os dois bancos empatavam na comparação desses indicadores.

FINANCIAMENTO

Numa comparação feita pelo banco de desenvolvimento da Rússia (VEB) com dados de 2007 e 2008, o BNDES só perdia em ativos para os similares chineses. A diferença entre o banco brasileiro e seus pares, e o que explica o seu tamanho, é a ação excessivamente diversificada para equilibrar sobre os ombros cerca de 70% do financiamento de longo prazo feito no Brasil. Hoje, o BNDES financia do ônibus à hidrelétrica, do estaleiro à farinha para pão francês, da sala de cinema ao estádio de futebol. Viabiliza praticamente sozinho os investimentos do País.

Não foi à toa que o governo reagiu à crise elevando ainda mais o patamar de empréstimos do BNDES. Enquanto o consumo se manteve em alta, o investimento despencou a 16,9% do PIB com a crise. Após os empréstimos do Tesouro Nacional de R$ 180 bilhões que elevaram as liberações do BNDES em 125% entre 2007 e 2010 para acelerar a retomada de projetos, a taxa voltou ao patamar pré-crise, perto de 19% do PIB, mas preservou as limitações ao crescimento da economia.

“Para alcançar um investimento de 23% do PIB e sustentar crescimento acima de 5%, não dá para imaginar que o BNDES financie tudo isso. Podemos ter um constrangimento de financiamento nos próximos anos sem uma alternativa”, alerta o professor Ricardo Carneiro, professor do Instituto de Economia da Universidade de Campinas (Unicamp).

Coutinho estima fatia ideal para o banco

Brasília (AE) – O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, afirmou na semana passada que seria ideal que a participação do banco de fomento no financiamento dos investimentos no País caísse dos atuais cerca de 25% para algo em torno de 10% a 12% nos próximos quatro anos.

“Seria bom que o mercado ocupasse esse espaço”, afirmou. Segundo ele, as medidas anunciadas hoje pelo governo ajudarão a redistribuir o peso das alternativas para financiamento dos investimentos, que hoje são o lucro das empresas, emissões de papéis no exterior, mercado de ações, debêntures de longo prazo, crédito no sistema financeiro e, por fim, o próprio BNDES.

Segundo Coutinho, metade da necessidade de ampliação dos investimentos nos próximos quatro anos virá do lucro das empresas, mas o restante precisa ser melhor distribuído, com peso crescente para as debêntures por meio da consolidação de um mercado em reais que estimule a poupança de longo prazo no Brasil.

“Ao invés de haver um peso grande nas emissões no mercado externo, que geram dívida em moeda estrangeira, o ideal é que você traga o investidor internacional para uma aplicação em reais dentro do País”, afirmou o presidente do BNDES.

Novo pacote permitirá redução de desembolsos

Rio (AE) – O governo, que vinha sobrecarregando o BNDES para estimular a economia e ainda influenciar empresas como sócio, dá sinais de que também já percebeu os limites do banco. Embora tenha aumentado substancialmente seu funding com ajuda do Tesouro, o seu patrimônio de referência é baixo (cerca de R$ 60 bilhões) para permitir operações elevadas. Recentemente, para oferecer crédito ao trem-bala, recorreu à garantia do Tesouro.

Essa limitação está no sentido do plano de incentivos ao crédito privado de longo prazo que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, promete divulgar na próxima quinta-feira. É preciso dar fôlego ao banco. O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, já admitiu que, se esse pacote tivesse saído mais cedo, o desembolso do banco já poderia ter sido menor este ano.

Na semana passada, Coutinho afirmou que o crescimento esperado de 6,25% este ano, bem inferior aos 48% de 2009, já deve ser considerado um sinal da decisão de “estabilizar” o tamanho do BNDES. No entanto, indicou que a intenção é mantê-lo no mesmo patamar daqui para frente, “encolhendo um pouco” com a maior participação do setor privado e do mercado de capitais no longo prazo, para focar nos grandes projetos de infraestrutura e na inovação, que têm risco alto.

“O BNDES tem de fazer as tarefas que não são rotineiras, realmente ligadas ao desenvolvimento. Comprar um caminhão ou uma máquina para produzir sapato envolve um grau de risco muito menor e o setor privado no Brasil já tem condições de fazer isso”, diz o professor Ricardo Carneiro, da Unicamp. Para Marcelo Nonnenberg, do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), a divisão do crédito de longo prazo com o setor privado pode reorientar o banco para o papel de financiamento de longo prazo que têm hoje as instituições similares no mundo.

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