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Boas histórias… dentro e fora das telas

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Tádzio França
repórter

Já não se fazem mais sessões de cinema como antigamente. Os apreciadores da sétima arte precisaram aprender a encarar a tela grande (ou pequena) de outra forma nos últimos cinco anos. A velocidade e o excesso de informações, o acesso rápido a tudo e a reprodução desenfreada de filmes, causou uma série de mudanças no mercado e também no espectador.
Cineclube Natal busca atrair novas plateias em maratonas mais planejadas, que duram uma semana. Esta, vai até domingo
O cinema, como espaço físico, e as locadoras de vídeo tiveram sua importância banalizada e deixaram de ser os únicos canais para se apreciar uma boa história na tela. Hoje, para se diferenciar no mar de opções sem fim, iniciativas particulares estão investindo em exibições e negócios que filtram o lado mais qualitativo do cinema. As sessões estão abertas para quem deseja algo mais que pipoca.

Há seis anos, o Cineclube de Natal promove atividades que atraem uma parcela do público que procura algo além do que é oferecido no circuito comercial. “As salas de cinema e as locadoras não conseguem dar conta de oferecer tudo que o público quer ver. Junto a isso, há as obrigações comerciais que limitam as opções. Como o Cineclube não está ligado ao lucro, somos independentes para exibir o que quisermos”, afirma Pedro Fiúza, atual presidente do clube de cinéfilos.

O atual projeto do Cineclube está sendo exibido no Nalva Melo Café Salão, na Ribeira: “Morena/Loira – O Cabelo no Cinema”, é uma mostra que reúne ícones femininos do cinema aos respectivos filmes em que elas brilharam. A cada sessão a cabeleireira Nalva Melo prepara o cabelo de uma convidada, que é apresentado antes da projeção. No começo da semana já foi exibido um ruivo visual a la Rita Hayworth, referente ao clássico “Gilda”. As sessões continuam até domingo, com “O Cabelo de Mia – O Bebê de Rosemary” (dia 29), “O Cabelo de Anna – O Marido da Cabeleireira” (30), e “O Cabelo de Penélope – Abra os Olhos” (31), sempre às 20h.

O projeto cinematográfico/capilar, segundo Pedro, é uma das formas que o Cineclube usa para popularizar seu conceito de bom cinema. “A gente também quer servir como um guia para quem deseja conhecer mais sobre cinema. Sempre atrelamos um debate às nossas sessões”, diz. O Cineclube realiza encontros mensais, alternando-se entre Nalva Melo e o Teatro de Cultura Popular. “Condensamos nossa programação fazendo projetos mensais que duram uma semana. Há mais tempo para produzir e o resultado é melhor”, explica.

O presidente do Cineclube acredita que o foco na qualidade será o diferencial para quem deseja viver de cinema no atual cenário. “As locadoras de vídeo que ainda sobrevivem são aquelas cujo dono entende e gosta de cinema, e monta um acervo variado, fugindo do óbvio”, diz. Pedro Fiúza admite que a internet e seus downloads tornaram tudo mais fácil, porém ainda é preciso uma ‘curadoria’ para separar o joio do trigo. Novamente, ele ressalta a qualidade do material como a diferença. “As coisas vão ficar cada vez mais específicas, e o mercado ainda está se adaptando. Trabalhar pensando apenas no lucro não é o caminho”, completa.

Uma videolocadora sobrevivente

O empresário e cinéfilo João Batista Júnior já  foi indagado diversas vezes sobre como mantém sua Planeta Videolocadora funcionando há nada menos que 16 anos, em Petrópolis. Ele, apreciador inveterado de cinema, apenas colocou nas prateleiras o que gosta de assistir. E muita gente que leva cinema a sério acompanhou. “A maioria das pessoas gosta das coisas mais fáceis, e a pirataria aumentou isso. Eu segui por outro caminho, por isso ainda estou no ramo”, analisa.   

A Planeta Vídeo tem um acervo de seis mil DVDs, e 300 Blu Rays – a atual aposta de Júnior.  “A qualidade do Blu Ray é infinitamente superior a do DVD, e isso tem ajudado a dar novo fôlego para o mercado”, diz. Aliado a isso, o diferenciado acervo que sempre foi o ponto forte da locadora. “Eu digo que tenho uma percepção natural pra cinema. Pesquiso sobre os clássicos e também sobre as novidades, acho que isso ajuda a enriquecer o acervo”, afirma.

As opções da Planeta passeiam por desde os primórdios do cinema até os lançamentos – e obscuridades. “Cinema tem a ver com mídia, e muita coisa que está fora e passou despercebida está por aqui”, diz. A locadora tem clássicos, filmes B, noir, terror, cinema underground, filmes europeus e orientais, e os blockbusters básicos. Atualmente a locadora passou por uma reforma e conta com um agradável café, com cinco mesas e opções em salgados, chocolates, refrigerante e vinhos. Estará funcionando pra valer daqui a um mês. “Foi um pedido dos clientes que eu atendi”, diz ele, ressaltando que mesmo com a derrocada das locadoras, sua clientela aumentou.  “O público da casa realmente ama cinema. Somos quase um clube. A situação difícil acabou por consolidar essa relação”, atesta.

O melhor da sétima arte para o povo

O foco na paixão real pelo cinema fez de um ponto de camelô, no shopping popular da Cidade Alta, um clube de cinéfilos e de gente ilustre até de outros estados. Assim nasceu, há cinco anos, o 7ª Arte. O criador da casa, o Paulista, lembra que a ideia surgiu de  uma necessidade pessoal. “Sou de São Paulo, e não encontrei em Natal a variedade cultural que tinha por lá. Então peguei meu acervo pessoal, copiei, e comecei a vender. Achei que não daria em nada. Mas para minha surpresa, em pouco tempo surgiu uma clientela enorme e ávida por coisas boas”, conta. Apenas no boca a boca, a oferta de filmes clássicos e europeus foi se tornando popular. E crescendo.
O espaço Sétima Arte, no Camelódromo, recebeu visitas da atriz Marcélia Cartaxo e do crítico Luiz Carlos Merten
Hoje, a 7ª Arte tem um acervo de 13 mil filmes. A clientela da casa troca informações, dá dicas, e  muitas vezes cede seus próprios filmes para cópia. O local é bastante frequentado por colecionadores, estudantes e formadores de opinião, já se tornado um referencial.

Cineastas potiguares vêm deixar suas produções para serem divulgadas e comercializadas no local. Caso de “Inácio Garapa, um matuto sonhador” (Jota Gomes),  “Caldeirão do Diabo” (Edson Soares), “Sangue do Barro” (Fábio de Silva e Mary Land Brito) e “Boi de Prata”, entregue a eles pelo próprio Lenício Quiroga, ator do filme.

A fama do 7ª Arte já atravessou fronteiras potiguares. A atriz Marcélia Cartaxo veio pessoalmente ao local comprar uma cópia de “A hora da estrela”, filme que lhe rendeu um Urso de Prata no Festival de Berlim. Ela não tinha em DVD. “Foi emocionante para nós. O melhor que ela nos recomendou pra todo mundo que conhecia, e muita gente de fora veio aqui para comprar esse filme”, diz Paulista.

Até o crítico Luiz Carlos Merten, um dos mais conhecidos do país, que escreve atualmente no jornal O Estado de S. Paulo, esteve por lá e elogiou o local  em seu blog.  “Já demos suporte para livros de cinemas, recebemos estudantes de cinema, e promovemos o cinema potiguar. Não é apenas um negócio”, conclui.

Serviço:

Morena/Loira – O Cabelo no Cinema. De sexta a domingo, às 20h, no Nalva Melo Café Salão, Ribeira.

Entrada livre.

Planeta Videolocadora. Rua Trairi, 579, Petrópolis. Tel.: 2010-0617.

7ª Arte. Av. Ulisses Caldas, Centro. Tel.: 8836-5050.

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