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Bolsonaro desautoriza compra de vacina

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O presidente Jair Bolsonaro desautorizou ontem o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, sobre a compra de 46 milhões de doses da vacina Coronavac, produzida em parceria pelo laboratório chinês Sinovac e o Instituto Butantã, de São Paulo. A aquisição havia sido anunciada pelo próprio Ministério da Saúde no dia anterior. Bolsonaro ficou inconformado com o palanque dado ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB) no acordo. A nacionalidade e o domicílio eleitoral da vacina acabaram ressuscitandoa ala ideológica do governo, que atacou a iniciativa tomada com aval dos generais.
Apesar de desistir do acordo assinado, Bolsonaro disse estar afinado com o Ministério da Saúde
“Presidente, a China é uma ditadura, não compre essa vacina, por favor. Só tenho 17 anos e quero ter um futuro, mas sem interferência da Ditadura chinesa”, comentou um usuário no Twitter. O presidente reagiu em letras maiúsculas: “NÃO SERÁ COMPRADA”. Depois, em publicação no Facebook oficial, com o título “A vacina chinesa de João Doria”, ele afirmou que “qualquer vacina, antes de ser oferecida, deverá ser comprovada cientificamente pelo Ministério da Saúde e certificada pela Anvisa” e que “o povo brasileiro não será cobaia de ninguém”. 
O tom é diferente do discurso de Bolsonaro sobre o uso da cloroquina contra a covid-19, cuja falta de comprovação de eficácia científica sempre foi minimizada. A Coronavac está na fase 3 dos testes clínicos, os mais avançados em humanos. Segundo dados apresentados esta semana, ela teve os melhores resultados de segurança entre imunizantes em teste. Os dados de eficácia devem sair até dezembro. 
Bolsonaro também escreveu que “não se justifica um bilionário aporte financeiro num medicamento que sequer ultrapassou fase de testagem”. Segundo o ministério, o valor desembolsado seria de R$ 1,9 bilhão. O argumento de Bolsonaro, porém, contradiz ato anterior da sua própria gestão. O ministério já firmou outro acordo bilionário para adquirir uma vacina em teste. Em agosto, o presidente assinou medida provisória de R$ 1,9 bilhão para comprar 100 milhões de doses da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford e a farmacêutica AstraZeneca. O compromisso prevê transferência de tecnologia de produção para a Fiocruz. O produto está em fase final de estudos, assim como a Coronavac. Vários países estão firmando acordos prévios de compra de vacinas em testes justamente para garantir o abastecimento após o registro.
O secretário executivo da pasta, Élcio Franco, alegou ontem “interpretação equivocada da fala do ministro da Saúde” sobre a compra da Coronavac e ressaltou que a pasta não firmou “qualquer compromisso com o governo do Estado de São Paulo ou com o seu governador no sentido de aquisições de vacinas”. Em rápido pronunciamento na TV Brasil, sem o ministro, Franco destacou ainda que “não há intenção da compra de vacinas chinesas”.
Doria e sua equipe reagiram. “A vacina do Butantã é a vacina do Brasil, de todos os brasileiros”, afirmou o governador. Para comprovar que Pazuello confirmou a intenção de compra, o governo de São Paulo divulgou um vídeo com a íntegra da reunião. Em nota, a Secretaria Estadual da Saúde ainda classificou a alegação de que houve interpretação equivocada como “descabida”. Ele também se reuniu por quase duas horas com a diretoria da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra, para discutir protocolos de testes, em visita de cortesia. 
O presidente da agência, Antônio Barra, negou que a agência possa sofrer influências externas nos seus processos de avaliação de eficácia das vacinas. Ele afirmou ainda não haver data pré-definida para concluir os estudos clínicos ou conceder registro a qualquer uma das quatro vacinas, em desenvolvimento no País.
Nos bastidores, Bolsonaro avaliou que Pazuello se precipitou. O Estadão confirmou que o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente, foi um dos que se opuseram. Mas, ao desmentir a informação, publicada pela revista Época, Carlos usou o perfil do pai no Facebook. “Estou impossibilitado de ser o “Controlador Geral da União” (…), pois momentaneamente ocupo o cargo de vereador da cidade do Rio de Janeiro!”, ironizou.
‘Houve distorção’, diz o presidente e nega conflito 
O presidente Jair Bolsonaro afirmou que mandou “cancelar” o protocolo de intenções assinado pelo Ministério da Saúde para a aquisição de 46 milhões de vacinas da farmacêutica chinesa Sinovac. Bolsonaro destacou, no entanto, que está “perfeitamente afinado com o Ministério da Saúde trabalhando na busca de uma vacina confiável”. 
O presidente disse que a vacina chinesa vai custar US$ 10 por pessoa, o que daria um valor muito elevado para vacinar 100 milhões de pessoas. “Nada será despendido agora para comprarmos uma vacina chinesa, que desconheço, mas parece que nenhum país do mundo está interessado nela. Pode ser que tenha algum país aí. Agora, as vacinas têm que ter comprovação científica, diferente da hidroxicloroquina”, declarou. 
“Houve uma distorção por parte do senhor João Doria no tocante ao que ele falou. Ele tem um protocolo de intenções, já mandei cancelar, se ele assinou. Já mandei cancelar.  O presidente sou eu, não abro mão da minha autoridade, até porque estaria comprando uma vacina que ninguém está interessado por ela, a não ser nós”, disse.
O presidente também afirmou que o governo está trabalhando para ter uma vacina segura. “Estou conversando com o Pazuello e seus médicos sobre isso. Acho que a população está cansada dos discursos de terrorismo desde o começo da pandemia. Chega. Os números têm apontado que a pandemia está indo embora. Perseguimos a vacina, lá atrás destinamos recursos para participar da pesquisa e o desenvolvimento da vacina de Oxford, para ter uma cota para nós.”
Bolsonaro falou com a imprensa depois de visitar as instalações do Centro Experimental Aramar, em Iperó, onde a Marinha desenvolve o projeto do primeiro submarino nuclear brasileiro. O presidente participou do lançamento da montagem do protótipo do reator nuclear que vai equipar o futuro submarino. 
Depois de ter dito que mandou cancelar o compromisso de compra da vacina, Bolsonaro sinalizou que confia no trabalho de Pazuello. “Estamos perfeitamente afinados com o Ministério da Saúde, trabalhando na busca de uma vacina confiável. As vacinas têm de ter comprovação científica de sua eficácia, diferente do que foi feito nessa aí, tem de ter sua eficácia. Não pode inalar (sic) numa pessoa e o malefício ser maior que o benefício. Fora isso é tudo especulação um jogo político. Lamentável esse governador, parece que só sabe fazer isso.”
As declarações foram feitas um dia após o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, em reunião com 24 governadores, assinou um protocolo de intenções para adquirir 46 milhões de doses da Coronavac. “A vacina do Butantã será a vacina do Brasil”, disse Pazuello, ao anunciar o acordo. 
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