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Bolsonaro provoca Doria e fala em 2022

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Quatro dias após cogitar disputar a reeleição, o
presidente Jair Bolsonaro voltou ao assunto nesta segunda-feira, 24,
para estocar um possível rival em 2022. Ao comentar as negociações para a
transferência das provas da Fórmula 1 para o Rio de Janeiro, Bolsonaro
afirmou que o governador de São Paulo, João Doria, deveria “pensar no
País”.

Bolsonaro exonerou 11 peritos
O presidente Jair Bolsonaro provocou o governador de São Paulo, João Doria (PSDB) em relação às eleições de 2022

“A imprensa diz que ele será candidato à Presidência em 2022, então ele
tem de pensar no Brasil. Se ele disputar a reeleição, aí ele pensa no
seu Estado. Melhor ficar no Rio do que não ficar em lugar nenhum”, disse
Bolsonaro, em referência ao tucano. Na quinta-feira, o presidente já
havia escolhido São Paulo para anunciar que poderia recuar da promessa
de campanha e concorrer a um segundo mandato.

Doria, que não fala sobre planos presidenciais, desconversou: “Fórmula 1
não é questão política. É questão econômica. Não é hora de eleição. É
momento de gestão”, disse à reportagem.

É incomum que a sucessão presidencial seja debatida poucos meses após a
posse de um presidente. Ainda assim, desde o início do ano, aliados e
adversários de Bolsonaro passaram a calcular, articular e até mesmo
declarar que tentarão suceder-lhe nas eleições de 2022.

Doria aparece até agora como o principal expoente do grupo. O
empresário, que entrou na política em 2016, queria ter se lançado já em
2018. Sem conseguir furar a fila no partido, elegeu-se governador e saiu
do pleito como a grande força do PSDB após a derrota do presidenciável
Geraldo Alckmin nas urnas. Na convenção da sigla, em maio, Doria
discursou aos gritos de “Brasil pra frente, Doria presidente”.

O governador se movimenta em busca de apoio. Ambiciona atrair o DEM para
seu projeto presidencial. Ao sair do governo, deixaria o vice, Rodrigo
Garcia, um dos expoentes da cúpula do Democratas como sucessor e
candidato a novo mandato. Internamente, deixa correr especulações sobre
uma eventual fusão dos dois partidos – hipótese que vinha sendo negada
pelo comando do DEM.

Doria não declarou nem pretende declarar tão cedo que tentará ser
candidato em 2022. Quer sentir os ventos da política, segundo pessoas
próximas. Outros políticos não têm a mesma cautela.

No próprio DEM, com quem o tucano aspira parceria, há postulantes.
“Temos de parar com a falsa incógnita na política. Hoje, existe um
desejo velado de tantos. Tenho muita tranquilidade em dizer: tenho de
dar resultado em Goiás, claro, mas, se as condições forem propícias, vou
dizer não?”, disse em abril o governador de Goiás, Ronaldo Caiado.
Ex-deputado e ex-senador, ele já foi candidato à Presidência em 1989 e,
no ano passado, tentou viabilizar seu nome à disputa.

Caiado se junta ao governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), um neófito na
política, no grupo dos que já pleitearam publicamente neste ano a vaga.
Em março, o ex-juiz que assumira seu primeiro cargo público dois meses
antes disse ao jornal O Globo que não vê como precipitado pensar na
candidatura presidencial e que já havia contado, inclusive, a Bolsonaro
sobre a intenção. O secretário da Casa Civil do Rio foi flagrado num
vídeo em que diz que o chefe será presidente.

O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), disse em evento
partidário em fevereiro que estava se preparando para 2022. “Vamos
enfrentar o laranjal e a turma do mal”, disse. A declaração animou
apoiadores, mas ele diz que foi uma brincadeira. “Desde 2013, temos um
vazio. O bolsonarismo se estrutura apenas pelo que não é, não representa
nova força. Por isso, essa ansiedade de identificar nomes que possam
preencher esse vazio”, afirmou. “Mas o que vemos é carnaval fora de
época. Isso é assunto para o final de 2021.”

Desgaste
A proliferação de postulantes ao Planalto logo após a posse não costuma
acontecer, pois o novo presidente tende a contar com o entusiasmo da
população no início de mandato e com trégua no mundo político, o que
inibe conversas para lhe suceder.

Bolsonaro, porém, vem contribuindo para subverter a lógica. Optou por
partir para o confronto com parlamentares, tachando-os de “velha
política” e criando animosidade com líderes partidários. Ajudou a
construir, assim, um ambiente em que todos se sentem liberados a se
movimentar, segundo políticos ouvidos pela reportagem.

Soma-se a isso a erosão da popularidade de Bolsonaro. Pesquisa Ibope
divulgada em abril indicou que ele tem a pior avaliação entre
presidentes eleitos em início de mandato desde o fim do regime militar.

A análise da estratégia que levou Bolsonaro ao Palácio do Planalto
também favoreceu a antecipação das conversas sobre a próxima eleição
presidencial.

A tese de que as redes sociais seriam peça-chave no pleito mostrou-se
acertada. Isso faz com que políticos se sintam estimulados a iniciar o
quanto antes seu planejamento. A imagem e o engajamento nos meios
digitais precisam ser construídos com tempo. Bolsonaro, por exemplo,
começou o trabalho nas redes mais de dois anos antes da eleição.

“O espaço político está nas redes. Tem de conquistar pelo discurso,
pelas ideias radicais. É um trabalho de formiguinha. É como pedra na
água, que vai criando ondas”, disse Sérgio Denicoli, diretor da AP
Exata, que faz monitoramento de redes sociais.

Persiste ainda a percepção de que o anseio por um “outsider” pode
favorecer o surgimento de novo fenômeno eleitoral inesperado aos moldes
do que se viu com Bolsonaro, que chegou ao Planalto sem estrutura
partidária e impulsionado pela força das redes.

“A crise dos partidos políticos permanece. A esquerda está zonza e não
vemos movimentação relevante. Então, há o sentimento de que, depois de
Bolsonaro, por que não Luciano Huck, ou Joaquim Barbosa, ou o Doria?”,
disse Jairo Nicolau, do Centro de Pesquisa e Documentação (Cepedoc) da
FGV. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


Estadão Conteúdo

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