Nas nove últimas colunas abordamos as sub-regiões, comunas, apelações, classificações dos vinhos e alguns dos importantes Châteaux visitados na margem esquerda do rio Gironde e do seu afluente Garonne. Nas próximas matérias trataremos das principais sub-regiões, comunas, classificação e vinhos de alguns grandes Châteaux, localizados à margem direita do Rio Gironde e de seu afluente Dordogne, mas antes faremos uma pequena reflexão sobre a sub-região Entre-Deux-Mers (literalmente entre dois mares), por ser uma faixa de terra localizada entre os rios Garonne e Dordogne, responsável pela produção de vinhos brancos, secos e frescos, de consumo rápido. Os únicos autorizados a ostentar no rótulo a AOC “Entre-Deux-Mers”. Os tintos desta área, cerca de ¾ ostentam em seus rótulos a AOC Bordeaux e Bordeaux Superieur. Com 3.000 hectares de área total e 1.500 hectares de vinhedos, solo argilo-calcário e cerca de 250 vinhateiros, esta é a maior sub-região da França. As uvas utilizadas nos vinhos da apelação Entre-Deux-Mers são as mesmas utilizadas no corte bordalês branco, e seus vinhos têm 4g/l de açúcar residual. Passando à margem direita, duas AOCs (appellation d’origine controlée) localizadas na sub-região de Libournais merecem o mais absoluto destaque pela qualidade extraordinária dos vinhos que produz. São elas Pomerol e Saint-Émilion. Hoje falaremos do Pomerol, uma pequena, mas muito distinta AOC, cujos vinhos são opulentos, ricos, de cor profunda e grande reputação. Apesar de não haver uma classificação oficial, os vinhos do Pomerol são produzidos em pequenas propriedades familiares, tendo o Château Petrus, ícone desta comuna, preço e status de Premier Grand Cru Classé, seguido do Trotanoy, do Vieux Château Certan (VCC) e do Le Pin (minúsculo – 3 ha), que se beneficia de uma pequena e artesanal produção, onde a malo-lática dá-se em barris individuais, resultando num caldo concentrado com excesso de tudo, inclusive de charme, qualidade e preço, com um padrão médio muito alto. No Pomerol a Cabernet Franc é conhecida como Bouchet e a Petit Verdot não é permitida, o Petrus é quase que exclusivamente Merlot, cultivada em solo de argila quase pura. Os grandes do Pomerol só alcançam finesse deslumbrante depois dos 12 anos, mas muitos já são atraentes a partir dos 5. A vinificação é feita pelos métodos tradicionais, com maceração entre 15 a 21 dias. No Petrus, o vinho de prensa é adicionado antes do período habitual para que amadureça junto com o vinho principal, diminuindo com isso a costumeira aspereza aportada pelos taninos. Alguns dos melhores produtores são: Le Pin, Vieux-Château Certan, Lafleur, La Conseillante, l’Église-Clinet, Petit Village, l’Evangile, La Fleur-Pétrus, Certan-de-May, Latoura-Pomerol, Clinet, Trotanoy, Bon-Pasteur, Château Gazin e Château Beauregard.
Visita ao Château Beauregard em Pomerol
A propriedade data do século 12, conta com 17.5 hectares de vinhedos, divididos entre Merlot 70%, e Cabernet Franc 30%. A produção é bio desde 2014 e a fermentação ocorre em grandes tanques de cimento desde 2015 para manter a qualidade do vinho em sua remontagem e pigeage. A maturação do Château Beaugerard (estrela da casa) ocorre em barricas de carvalho francês de diversas tonelarias, 60% novas por 18 meses. O Château produz apenas dois vinhos: Beauregard e Le Benjamin de Beauregard, segundo vinho da casa, que matura por 12 meses com barricas 20% novas. Produz anualmente 70 mil garrafas, 35.000 para cada vinho. Membros da família proprietária do Château são também acionistas da Galeria Lafayete e do Château Lafite do Médoc. Minha visita aconteceu no dia 15/10/2016 às 11:30 horas. Depois de conhecer as dependências do Château, provei os dois vinhos, e me encantei com o Château Beauregard 2011, que apesar de muito jovem, revelou complexidade, fruta intensa, equilíbrio e um futuro brilhante rumo a excelência.
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