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BR-101: cratera e engarrafamento

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Wagner Lopes – Repórter

O dia seguinte ao temporal que caiu sobre boa parte do Rio Grande do Norte foi de muito trabalho para recuperar ruas e rodovias destruídas, limpar a sujeira e colocar em ordem a estrutura das lagoas de captação prejudicada pelas intensas chuvas. Na BR-101, a cratera surgida próximo ao rio Pitimbu aumentou e o trânsito continua a fluir, nos dois sentidos, apenas pela pista que vai de Natal a Parnamirim.

Na manhã de ontem, a cratera já alcançava em torno de 60 metros de comprimento, invadindo aproximadamente 10 metros da pista, no sentido Parnamirim-Natal, o equivalente ao acostamento e duas, das três, faixas. O trânsito foi totalmente interditado na faixa restante, uma vez que parte da pista ainda tem sua base totalmente erodida e pode desmoronar a qualquer momento.

Tratores e homens do Exército trabalhavam no desassoreamento do rio e na retirada de manilhas. O objetivo é limpar a área e reconstituir também o bueiro, enquanto o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) elabora o projeto de reconstrução da área. De acordo com a assessoria do Dnit, o projeto já vem sendo elaborado e a obra deve ficar pronta em até 15 dias.

O trânsito no local tem sido caótico em todos os horários. Pela manhã, das três faixas no sentido Natal-Parnamirim, duas foram disponibilizadas para os veículos que vêm do interior e uma para os que saem da capital. No entanto, a dificuldade dos automóveis em atravessar o canteiro, no desvio improvisado, retarda o tráfego. Os engarrafamentos, em ambas as direções, alcançaram mais de 2 quilômetros na manhã de ontem.

Para quem quer evitar o congestionamento na BR-101, o inspetor da Polícia Rodoviária Federal, Roberto Cabral, orienta buscar as alternativas da BR-226, por Mangabeira, ou a estrada que atravessa Cajupiranga, passando pela avenida Maria Lacerda Montenegro.

Além da BR-101, o trânsito vem fluindo em apenas uma faixa na ponte sobre o “Riacho Sem Nome”, na BR-226, entre Tangará e Santa Cruz, onde um carro foi arrastado na madrugada de segunda-feira.

Km6

No prolongamento da avenida Capitão Mor Gouveia, já no KM-6, a noite de segunda para terça-feira foi mais tranquila, devido ao volume menor de chuvas. Um engenheiro da Caern, Ronaldo Alves de Oliveira, vistoriava na manhã de ontem a obra de recuperação da rua, cujo pavimento foi totalmente levado pelas águas.

Ele determinou à empresa responsável a retirada do que restou da pavimentação, para colocação de um novo aterro e uma nova pavimentação.

Os moradores da vizinhança permaneceram nas casas, apesar do risco. Lonas plásticas foram utilizadas para proteger o alicerce de algumas residências.

Moradores da Tororós retiram móveis

Os moradores de quatro casas localizadas em uma vila na rua dos Tororós, no Alecrim próximo à Bernardo Vieira, começaram a retirar os móveis e pertences na manhã de ontem. As residências foram invadidas pelas águas e tiveram paredes derrubadas, após a queda de um muro. O local não deve ser reconstruído. “Não tenho condições de levantar essas casas de novo e, se vier chuva, vão cair novamente”, resume a proprietária da vila, Heloísa Duarte.

Ela abrigou em sua própria casa, ao lado da vila, cinco pessoas de sua família, que ocupavam três das quatro residências. O outro inquilino mudou-se, com ajuda da Prefeitura, para uma casa alugada. Os alimentos estragados e os móveis destruídos começaram a ser retirados ontem e iriam, em sua maioria, direto para o lixo.

Mãe de moradores da vila, a dona-de-casa Maria Aparecida Duarte veio de Boa Saúde para ver a situação do local. “Não dá mais para levantar, ficou tudo danificado”, resume. Ela critica a falta de apoio da Prefeitura, já que os moradores necessitam de auxílios como colchões e cestas básicas.

Assessoria do condomínio rebate críticas

A assessoria do condomínio Buena Vista, que foi construído ao lado do local onde se abriu novamente uma cratera na BR-101, em Nova Parnamirim, enviou informações à TRIBUNA DO NORTE rebatendo as críticas feitas pela promotora de Defesa do Meio Ambiente, Gilka da Mata. No informe, os representantes do empreendimentos lembram que o mesmo trecho da rodovia foi destruído nas chuvas de junho de 2004, quando a construção não havia se iniciado e os construtores sequer haviam adquirido o terreno.

“A causa do problema é antiga e sabida por todos. Sua origem está na drenagem insuficiente da BR-101. E a galeria de aguas pluviais não comporta mais a vazão do rio em dias de chuva intensa como as de ontem (segunda-feira)”, relata a nota enviada ao jornal.

O texto afirma que uma solução só será possível com a conclusão das obras de duplicação da BR e a consequente readequação do sistema de drenagem no local.

A assessoria rebate ainda que “diferentemente do alegado pela promotora (Gilka da Mata), o caso já teve sentença de mérito favorável ao empreendimento e essa sentença foi baseada em laudo pericial solicitado pela Justiça, que referendou as licenças concedidas pelo Idema e o município de Parnamirim. Nesse momento aguardamos o julgamento de recurso de apelação impetrado pelo MP e que se encontra no TJRN.”

O condomínio, informa a nota, foi concluído e entregue aos proprietários e, mesmo diante das chuvas caídas no final de semana, teve um funcionamento adequado do sistema de drenagem, sem prejuízo à estrutura interna, ou externa.

Estrutura de lagoas passa por recuperação

O encarregado das lagoas de capacitação na Secretaria Municipal de Obras Públicas (Semopi), Pedro Luís da Silva, passou o dia de ontem verificando possíveis problemas nas lagoas de Natal. Ele participou da retirada de parte do encanamento metálico da adutora por onde é escoada a água da lagoa de São Conrado, em Dix-sept Rosado.

A estrutura apresentava vazamentos e deve ser substituída por um novo encanamento. “A nova vai ser colocada até amanhã (quarta-feira), mas se chover muito ainda nesta terça (ontem), a gente pode reparar e recolocar essa antiga, até chegar a nova”, afirmou. Ele explicou que no local funcionam duas bombas, com capacidade para 600 mil litros por hora, cada.

A capacidade é a mesma das duas bombas instaladas na lagoa de Cidade da Esperança, que transbordou na madrugada de segunda-feira. “A água entrou na minha oficina, mas é assim todo ano, nunca se acabou com isso. Toda chuva é esse sufoco”, lamentou Ataíde de Oliveira, o “Magão”.

Pedro Luís confirmou que uma das bombas do local queimou, devido a um raio que pôs fogo, inclusive, no quadro de controle. A bomba seria substituída provavelmente ainda na tarde de ontem.

Na lagoa localizada entre a avenida Ayrton Senna e a avenida das Alagoas, em Pirangi, o nível das águas baixou em relação à segunda-feira, mas ainda ocupava boa parte da pista.

Geólogo explica deslizamento da estrada

A destruição de duas faixas da BR-101, no sentido Parnamirim-Natal, era algo previsível. A informação é sustentada pelo geólogo da UFRN, Vanildo Pereira, um dos responsáveis pelo laudo técnico que embasou o Ministério Público Estadual no processo movido contra o Condomínio Buena Vista, localizado ao lado da cratera formada pela chuva. O condomínio, de acordo com o perito, não é o causador do problema, contudo foi um dos elementos que agravou a situação e intensificou o atual cenário de instabilidade naquela área.

Segundo a análise do professor,  as manilhas responsáveis pelo escoamento da água da chuva naquele trecho da BR não suportaram os 120 milímetros de chuvas em poucas horas. O equipamento provavelmente rompeu por conta da força da água, excessiva para a atual capacidade. A partir disso, a água passou a vazar e um dos elementos mais importantes dessa história entrou em ação: a areia de duna, que é a base daquela terreno. Trata-se de um material facilmente carregado pela água. Foi o que aconteceu: a chuva passou a “carregar” a areia e a base da pista foi “comida” pelo escoamento. Sem sustentação, a pista ruiu.

Todo esse processo já havia sido diagnosticado pelo trabalho de perícia realizado a pedido do MP, a partir da ação da promotora Gilka da Mata. “Era algo já observado. Iria acontecer, mas não sabíamos quando”, explica Vanildo Pereira. Os causadores do problema são a falta de espaço para o escoamento da água e o material inconsistente – areia de duna – que é a base do terreno. Como pano de fundo, há a ocupação indevida da área, ainda de acordo com o professor.

Quando se fala em ocupação, estão inseridas tanto a duplicação da BR-101 quanto o Condomínio Bela Vista. Com um a diferença: a primeira obra, da década de 70, foi realizada antes das leis ambientais em vigor. Como se sabe, o rio Pitimbú, cuja rota passa por ali, é o destino natural das águas da chuva. Ali havia uma ponte antes da duplicação da pista e tudo funcionava a contento. Com as obras da BR, o sistema de manilha passou a ser utilizado e já dava sinais de ser inadequado, tendo em vista um problema semelhante ao atual ocorrido em 2004, quando a pista também cedeu.

A construção do Condomínio  entra nesse contexto como um intensificador de um problema já existente em menor grau. De acordo com Vanildo Pereira, a área hoje ocupada  recebia parte da chuva. Era uma solução improvisada, tendo em vista que se trata de um terreno particular, não pensado originalmente como escoadouro dessa água. Porém amenizava o problema. Após a construção do condomínio, a água passou a ser direcionada unicamente ao sistema de manilhas.

O primeiro sinal de desgaste se deu em 2008, quando o sistema pensado originalmente não foi suficiente para escoar a água da chuva. Nessa época, as manilhas ladeavam o muro do condomínio, que ficou comprometido com a erosão. Até hoje parte da fundação é visível para quem passa por ali. Esse foi também o gancho para que o MP voltasse à carga contra a construção. A decisão judicial foi favorável ao Buena Vista,  e nesse meio tempo um outro sistema de escoamento foi construído.

Como se viu, tanto as manilhas, quanto o acostamento e duas das três faixas naquela mão da BR-101 foram arrastadas. (Isaac Lira)

Moradores de Passo da Pátria temem chuvas 

A população do Passo da Pátria, mais uma vez, está passando as noites com medo. As chuvas que vêm ocorrendo desde o fim de semana em Natal fizeram com que os moradores das regiões mais instáveis ficassem acordados durante a madrugada para acompanhar as consequências de um possível acúmulo de água e os estragos que poderiam ser causados. Até o momento, nenhuma casa foi afetada neste ano, mas já há ações no sentido de evitar alagamentos e possíveis desmoronamentos nas residências.

O principal córrego que corta a localidade, paralelo à travessa Ocidental de Baixo, desemboca no Rio Potengi e em há casas em suas duas duas margens. Considerada uma área de risco pela Prefeitura do Natal desde 2008, ainda há obras em curso no local, onde duas máquinas estão trabalhando durante o dia para evitar possíveis deslizamentos. Contudo, o serviço não foi concluído. “Todo ano nessa área o pessoal fica sem dormir por causa das chuvas ”, disse Sérgio Oliveira Dias.

Com as águas descendo de todo o bairro e de parte do Alecrim para o córrego, os moradores estão construindo algumas barricadas nas portas das casas para evitar alagamentos, caso ocorra o acúmulo de água nas vias de barro onde estão as casas. Sacos de areia e até pequenas paredes de tijolos e cimento já foram erguidas pelos moradores que temem a invasão das águas nas casas. (Júlio Pinheiro)

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