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Brasil 200, uma despedida

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Flávio Rocha
Empresário e Presidente da Riachuelo

Quem me acompanha neste espaço sabe da minha dedicação à defesa de uma agenda liberal que destrave a economia do Brasil. É por isso que sinto no dever de explicar minha saída do Brasil 200, que defende essa pauta.

Não há nenhuma contradição. Vamos lembrar a história desse movimento, do qual fui um dos fundadores. Tudo começou no ano eleitoral de 2018. Naquela altura, as candidaturas à Presidência da República ainda pareciam incertas. Foi então que um grupo de empresários se juntou para dar forma a uma iniciativa que viabilizasse uma alternativa conservadora e liberal para o Palácio do Planalto.

O quadro partidário estava confuso, a poeira dos embates recentes ainda não havia baixado. Havia bons candidatos, sim, mas eles não dispunham da densidade eleitoral necessária para disputar com chances reais o pleito mais importante do país.

Havia quem fosse liberal na economia. Havia também conservadores nos costumes. Mas não havia nenhum candidato que unisse as duas vertentes. A lacuna era preocupante. O Brasil se arriscava a descolar da tendência projetada pelas principais economia do mundo.

Já observei, em artigo recente, que a história não se desdobra no vazio. Seus protagonistas se movimentam em determinado contexto político, social, econômico. A história tem o seu próprio tempo. Para tudo, há o tempo de começar e o tempo de terminar. Tais reflexões me ocorrem quando lanço um olhar retrospectivo sobre o movimento Brasil 200.

Para mim, foi motivo de orgulho ter integrado um grupo de empresários, executivos, economistas e intelectuais que se antecipou à tendência que se revelaria vencedora. Esse grupo defendeu ardorosamente as ideias baseadas no binômio democracia e livre-mercado e foi responsável por levar a milhões de pessoas, por meio das redes sociais, a denúncia de um marxismo cultural que tentava corroer por dentro os pilares da liberdade e do capitalismo. Tal estratégia visava sobretudo os valores que norteiam a família brasileira.

Hoje, tudo isso pertence ao passado. Mas naquela altura, após o governo reformista do presidente Michel Temer, a ameaça de um retrocesso ideológico não era nada desprezível. Com o apoio determinado de meus pares no Brasil 200, conseguimos virar essa página sinistra da nossa história, em sintonia com a vontade da grande maioria dos brasileiros.

O nome Brasil 200 foi escolhido em alusão ao bicentenário da Independência do Brasil, a ser comemorado em 2022. Quisemos, com essa denominação com forte simbolismo, enfatizar a importância da soberania nacional. Defendíamos, e continuamos defendendo, uma pauta econômica que desmonte o gigantismo estatal que manieta a iniciativa privada com seu arsenal de regras desprovidas de sentido, burocracias sufocantes e uma elevadíssima carga fiscal. Se adotada em sua plenitude, tal agenda colocaria o Brasil em condições privilegiadas de competição internacional, por ocasião do término do atual mandato, que coincide com o aniversário da Independência.

O tempo passou, e o movimento ganhou estrutura formal, transformando-se no Instituto Brasil 200. Originalmente um think tank centrado em análises macroeconômicas sobre o futuro do capitalismo e das nações, o instituto viu-se recentemente envolvido no debate da política miúda, aquele que se escreve com “p” minúsculo.

Talvez tenha sido inevitável que, dada a polarização dos dias de hoje, tal diretriz prevalecesse. Não cabe a mim julgar decisões tomadas pela nova geração que assumiu a direção. Mas sinto que já não poderia contribuir com o entusiasmo com que trabalhei no passado pelo Brasil 200. E foi exclusivamente por isso que decidi me afastar no instituto.

Saio com a sensação reconfortante do dever cumprido, com a certeza de que combati o bom combate. Fui franco, sobretudo nas críticas. Dirigi-me a meus pares com destemor ao denunciar a figura do empresário-moita, aquele que não quer se comprometer e fica satisfeito com as migalhas que sobram dos banquetes oficiais.

Acho que contribuí na delimitação de um espaço vitorioso que afastou o Brasil da beira do precipício. De nada me arrependo. Ao contrário, nada do que fizemos foi em vão. Nesta despedida, quero dizer que foi um prazer e uma honra ter lutado ao lado dos bons, aqueles que estiveram comigo desde o início, quando as chances de vitória ainda estavam distantes no horizonte. A todos vocês que me acompanharam nessa jornada, deixo aqui meu mais sincero agradecimento.

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