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Brasil passa a ser credor externo

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MINISTRO - Paulo Bernardo diz que o Brasil vive um momento excepcional em sua economiaSão Paulo – O Brasil passa pela primeira vez na sua história a condição de credor externo líquido em janeiro, quando os ativos do País (reservas internacionais) no exterior devem ter superado os passivos (dívida externa) em cerca de US$ 4 bilhões. Segundo o Banco Central, o fato é inédito na história econômica brasileira. A projeção consta de relatório divulgado ontem pelo BC ressaltando a evolução recente dos indicadores de sustentabilidade externa do País. O resultado consolidado das contas externas de janeiro será divulgado na próxima semana. Se o dado for confirmado, as reservas são suficientes para pagar a dívida externa.

Segundo a publicação do BC, a redução da dívida externa líquida, dado obtido pela redução da dívida externa bruta pelo ativo do País no exterior – composto principalmente pelas reservas internacionais -, foi a mais expressiva de 2003 para cá.

“Nos últimos cinco anos, seu estoque passou de US$ 165,2 bilhões, ao final de 2003, para US$ 4,3 bilhões, estimativa para 2007. No primeiro mês de 2008, já se estima que esse montante se tornará negativo em mais de US$ 4 bilhões, significando que, em termos líquidos, o País passou a credor externo, fato inédito em nossa história econômica”, disse o texto do documento.

Durante as últimas três décadas, partidos de esquerda e  movimentos sociais gritaram pela moratória (não-pagamento) da dívida externa  brasileira.  Nestes anos, os defensores do “calote” realizaram marchas, manifestações e assembléias  para pressionar governos e forçá-los a mandar uma banana aos credores. Tinha-se  em mente que o dinheiro usado para honrar compromissos internacionais poderia  ser melhor aplicado em áreas sociais, como saúde, educação e emprego.  Em setembro do ano 2000, um plebiscito independente, realizado por movimentos  sociais, indicou que 5,7 milhões de brasileiros não queriam o pagamento da dívida.  E mais: que exigiam uma auditoria para descobrir suas origens.

O relatório divulgado pelo Banco Central, porém, segundo o qual o Brasil,  pela primeira vez em 508 anos de história, ingressa no seleto time dos credores  do mercado mundial, confirma que, na prática, todo esse barulho nunca fez eco  no Palácio do Planalto. No fim dos anos 80, quando o País recorreu à moratória pela última vez, durante  a presidência de José Sarney, a atitude foi tomada não para atender aos clamores  da sociedade. A culpa, naquele momento, foi da explosão dos juros internacionais,  detonada pelo Fed (Federal Reserve, banco central americano) e que atingiu em  cheio as nações mais endividadas. Como conseqüência, os investidores viraram  a cara para o Brasil.

Nas décadas seguintes, o que se viu foi disciplina fiscal. O País aprendeu que,  para se transformar em um mercado atrativo aos investidores do mundo, precisava  ser bom aluno. Em troca de pacotes de ajuda concedidos pelo Fundo Monetário  Internacional (FMI), teve de economizar mais.

País vive bom momento econômico

Rio – O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, afirmou ontem que  a estimativa do Banco Central, por meio do relatório Focus, de que o País já  é credor externo desde janeiro, é uma conseqüência do bom momento econômico.  “É a consolidação de uma informação que já vinha desde o ano passado. Mostra  que estamos num momento excepcional”, afirmou o ministro. De acordo com ele,  o Brasil cresce com inflação controlada, com emprego em alta e o menor desemprego  “em muitos anos”.

Bernardo disse que assim que o IBGE divulgar o resultado do PIB de 2007, no  dia 12 de março, “possivelmente nós vamos ter 24 trimestres de crescimento ininterrupto”.  Na avaliação do ministro, a crise internacional não vai trazer problemas ao  Brasil. “Mas temos de estar atentos para continuar melhorando”. Sobre a perspectiva de o Brasil obter o grau de investimento, após o relatório  Focus, Bernardo preferiu não fazer estimativas.

Disse que as agências internacionais  já estão discutindo esse tema. “Mas o mercado está vendo os nossos bons resultados.  As pessoas, de certa forma, já estão vendo uma espécie de investment grade”,  acrescentou.

Governo deve reduzir dívida pública interna

Rio – Agora que o Brasil é credor na dívida externa líquida, o governo  deveria se esforçar mais para reduzir a dívida pública interna em relação ao  Produto Interno Bruto (PIB). A opinião é do ex-ministro de Planejamento e organizador  do Fórum Nacional, João Paulo dos Reis Velloso. Em entrevista à Agência Estado, Reis Velloso lembrou que a passagem de devedor  a credor líquido deve-se aos seguidos saldos positivos em conta corrente (formado  pelos resultados das balanças comercial, de serviços e a conta de transferências  unilaterais) obtidos pelo País nos últimos anos. “Esse superávit em conta corrente  temporariamente é bom, principalmente num momento de turbulência internacional,  mas não é uma situação para permanecer para sempre”, disse.

O ex-ministro lembrou que um país com superávit em conta corrente é exportador  de poupança “por definição” e entende que em um cenário externo mais tranqüilo  seria melhor que o Brasil fosse importador de poupança externa e tivesse déficits  “não muito grandes” nas transações correntes com o exterior. “Um país como o Brasil ser credor líquido é como uma empresa sem dívida: não  é uma situação normal, mas como o ambiente internacional como está, é bom”,  afirmou.

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