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Brasil tem de combater um inimigo ainda desconhecido

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Cassiano Arruda

Na segunda metade do mês de setembro pequenas notas de pé de página nos jornais informavam o aparecimento de “manchas de óleo” em algumas praias do litoral nordestino, começando por Tambaba (famosa por ser praia de naturalismo) e Gramame, no município de Conde, na Paraíba.

No dia 24 de setembro numa praia da região metropolitana de Natal, foi tirada do mar uma tartaruga da espécie oliva completamente coberta por óleo. Após aviso dos moradores da localidade, o animal foi recolhido pela equipe do Aquário Natal, que fica nas imediações de onde o animal foi encontrado e conseguiram salvá-lo.

A tartaruga-oliva produziu uma foto impactante, toda coberta de óleo, com placas caindo do plastrão, da face toda. O que não passava de uma ocorrência isolada, a partir da divulgação dessa imagem, começou a merecer maiores cuidados e como inúmeras perguntas que, quase três meses depois, continuam sem resposta.
SEM RESPOSTA
Como os estados não dispunham de instrumentos capazes de assumir o comando da operação, os órgãos federais começaram a ser solicitados e a primeira informação sobre a origem do óleo, divulgada, se baseava numa negativa:-A Petrobras informa que o óleo encontrado nas praias nordestinas não tem origem em nenhuma de suas operações.

Em seguida surgiu a informação que a origem do óleo era a Venezuela, em razão da composição da “mancha”, estudada em laboratório. E vivemos, a partir de então, uma série de especulações, quando o Ibama divulgou as primeiras informações oficiais:  as primeiras manchas apareceram em 2 de setembro nas cidades de Ipojuca e Olinda, em Pernambuco. Em atualizações posteriores o instituto concluiu que os primeiros registros nas praias surgiram em 30 de agosto, na Paraíba.

E, depois de encontrarem tonéis especularam que teriam transportado óleo. Tais tonéis tinham logomarca de empresas multinacionais.

Foi quando surgiu um culpado com nome e endereço :- o navio grego ”Bouboulina” que transportou um milhão de barris de petróleo  tipo “Merey 16 cru”, no Porto José, na Venezuela, no dia 15 de julho e zarpou em direção à Malásia, passando pelo litoral da Paraíba no dia 28 de julho. Cerca de um mês depois, as manchas começaram a aparecer o litoral do Estado.

A UNIÃO TRAZ A SOLUÇÃO
Em pleno mês de Outubro, finalmente, o Governo Federal mobilizou o Ministério do Meio Ambiente, Ministério da Defesa, da Marinha, a Defesa Civil, algumas Universidades Federais que se uniram e passaram A contar com o serviço de voluntário das áreas atingidas, coordenados pela Defesa Civil para limpar as praias.

Foi então que a empresa Delta Tankers, responsável pelo navio “Bouboulina”, afirmou ter provas de que o seu navio não tem relação com a incidente.

O Ministério Público Federal de Natal decidiu encampar as investigações da Polícia Federal e iniciou gestões para exigir explicação dos navios mencionados, no campo Jurídico Internacional.

Enquanto isso a empresa Delta Tankers, responsável por outras quatro embarcações gregas, notificadas pela Marinha do Brasil sobre o vazamento de óleo, eximiu-se de culpa porque dois não transportaram petróleo da Venezuela no período de julho a setembro. Os laboratórios da Petrobras depois de novos estudos indicaram que o material encontrado nas praias nordestinas é petróleo originário de três diferentes campos da Venezuela.

AINDA FALTA INFORMAÇÃO
Toda essa mobilização conseguiu, num primeiro momento, transmitir a ideia que o problema estava sob controle. Mas, enquanto as autoridades brasileiras não conseguirem identificar realmente a origem do óleo é difícil acreditar que os órgãos governamentais possam ter o controle da situação.

Mesmo porque o raio de presença da mancha de óleo não para de crescer, com ocorrências já registradas nos Estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe, Espírito Santo e Rio de Janeiro.

Pelos números divulgados foi confirmada a presença do óleo em 724 localidades nesses onze Estados. Em 7 de Novembro “fragmentos de óleo chegaram ao Espírito Santo, o décimo Estado atingido e a 22 de Novembro a Marinha detectou 300 gramas de fragmentos de óleo em São João de Barra, no Rio de Janeiro.

No nosso Rio Grande do Norte existe uma aparente tranquilidade, sem o surgimento de nenhum fato novo merecedor de registro, e sem expectativa de quem a mancha negra venha a comprometer a próxima estação de turismo. Mas entre isso e a tranquilidade de quem tem precisa ter conhecimento da origem de um problema que só se conhece os seus efeitos.

HORA DA VERDADE
Existe uma pergunta que não quer calar: – Se o óleo é da Venezuela, como chegou aqui?

Esse é o ponto!

Teorias e suposições não tem faltado, inclusive com outras hipóteses, pois não se pode combater o inimigo desconhecido.

Por último, a Agência Nacional de Petróleo sugere que dos R$ 2 bilhões que as empresas que exploram o pré-sal para estudos de inovação, sejam destinados para custear um grupo de trabalho sob as ordens do GAA (Grupo de Trabalho e Avaliação – formado pela Marinha, Agência Nacional de Petróleo e IBAMA), que coordena, no âmbito federal, as ações de acompanhamento da situação de óleo no litoral.

Uma CPI da Câmara Federal foi instalada e começa suas audiências justamente por Natal ainda esta semana. Não será por falta de investigação que continuará o mistério da mancha negra.

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