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Brasil visto de banda

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Otávio Sitônio Pinto
Jornalista e escritor

A comparação dos programas “Brasil visto de cima” e “Mundo visto de cima” deixa o brasileiro com um sentimento de inferioridade. Isso quando se trata de mostra de paisagens urbanas, a Europa exibindo toda sua beleza arquitetônica, apurada através de séculos, reconstruída após guerras demolidoras que muitas vezes não deixaram pedra sobre pedra.

Como por milagre, a população sobrevivente levanta seu passado das ruínas, dor sobre dor, e as cidades ressurgem do horizonte do tempo e das cinzas da História. Uma prova de que o homem pode mais que a morte e os povos mais que as hecatombes. Outra comparação, que vem potenciar a primeira, deve ser feita contrapondo-se os restos das ruínas ao resultado da restauração.

O homem, que se assemelhara a demônio destruidor, transubstancia-se no deus criador e reconstrói seu universo. Um colapso mental e moral fez o povo de Bach, de Kant e de Goethe esquecer as lições do infinito e elevar ao poder absoluto a loucura de uma convulsão nacionalista. Über alles! E a expressão que levou os alemães ao suicídio permanece além do pós-guerra.

O mesmo aconteceu no Oriente e no Mediterrâneo. O “mare nostrum” de Mussolini ainda fez uma autocrítica e depôs do poder o complemento equestre de seu avatar. Foi preciso energia atômica para desativar a força de Hirohito. Mas permaneceram os fantasmas de Franco e Salazar no pórtico do mar oceano.

O que mais impressiona na ressurreição desses povos é a renovação, como fênix, do homem sobre o tempo da História. Ia dizendo “etnia”, mas a palavra faz medo depois dos acontecimentos da II GG. Etnia é o resultado da fragmentação da humanidade em ilhas de raças. Elas existem, mas para compor o tapete mágico do gênero e espécie “homo”, indivisível, inconsútil.

À humanidade já basta ser dividida em classes, constrangimento que um dia será resolvido pela união dos que trabalham. Talvez seja esse o propalado dia do juízo. Cientistas da Universidade de Harvard querem ressuscitar mamutes adormecidos nos gelos da Sibéria, cruzando-os com elefantes hodiernos. Já vi camarões congelados tornarem à vida após serem atirados n’água.

Ligo a TV da memória e vejo no monitor a casa que se reergueu tal e qual foi construída, depois de implodida e explodida pela guerra. Parece um truque da edição, mas é vero. O fantasma da casa se recompôs como os corpos se levantarão dos túmulos no dia do juízo. Pena que no Brasil essa recomposição seja mais difícil, porque seu povo teima em apagar os rastros do passado.

Faz até medo passar nas calçadas dos prédios antigos, pela iminência de desabarem sobre o passante do tempo. Senti esse medo em São Luís do Maranhão, onde preferi andar pela sarjeta de que à margem dos belos sobrados da velha metrópole. A cena se repete em Parahyba de Paraíba. O senhorio da paisagem deixa seus imóveis ruírem para levantar novos prédios nos espaços tombados.

Tais edificações poderiam ser desapropriadas para fins sociais. E ser oferecido, a seus proprietários, empréstimos subsidiados ou incentivos fiscais para restauração dos imóveis tombados. Mas quem pode tombar são as velhas paredes em cima de quem alberguem. Recentemente, em Salvador, um imóvel desses ruiu por cima de seus habitantes, matando alguns moradores da História.

No Brasil do grande Niemeyer não existe a preocupação de salvar o presente e preservar o passado. O Edifício Morada do Atlântico, praia do Bessa, ainda na garantia, já apresenta infiltração nas paredes externas. O responsável pela construtora Grupo Quatro se recusa a reparar o problema, diz que o condomínio pode recorrer à Justiça – onde existem ações similares com 20 anos.

Na Europa e na Ásia, monumentos há que superam milênios.

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