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Brilhar sem poluir

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Tádzio França
Repórter
Nem tudo que reluz é alegria no carnaval. Assim como a ressaca que acomete boa parte dos foliões após os excessos da farra, os efeitos da folia no meio ambiente também se tornaram uma das preocupações contemporâneas. Elementos sintéticos como glitter (purpurina para os veteranos), confetes, sprays, espumas, pinturas e maquiagens passaram a ter seus usos questionados por quem se preocupa com questões ecológicas. Alternativas foram pensadas para contornar os efeitos ruins. Mesmo com a alegria liberada, um pouco de consciência pode deixar a festa mais divertida.
Todo ano, glitter é tradição e tem presença certa nos blocos carnavalescos
Todo ano, glitter é tradição e tem presença certa nos blocos carnavalescos
É fato que a indústria, com o passar do tempo, foi deixando o carnaval mais sintético. Se nos primórdios da folia bastava algumas combinações de farinha, ovos, mel de engenho e temperos coloridos para dar uma cor na festa, o mercado foi depois criando e popularizando outros produtos artificiais, cujo teor poluente passou a ser discutido. Um dos alvos mais visados atualmente é o glitter, cujo uso ultrapassou o carnaval e passou a compor baladas de todos os tipos. Mas é no reinado de Momo que ele atinge seu auge. 
O chamativo glitter passou a ter o uso questionado desde que pesquisas apontaram seu grande potencial poluidor de rios e mares. O pozinho brilhante é feito de micropartículas de plástico (PVC) e alumínio, e ao ser descartado do corpo dos usuários através do banho, chega rapidamente aos esgotos por ser pequeno demais e escapar aos filtros. Daí para o oceano é um pulo. Segundo os estudos, esse microplástico afeta a alimentação dos peixes, causando efeitos negativos em toda a cadeia alimentar marítima. Parte dessa fauna marinha também pode chegar à alimentação humana. 
Nem tudo que reluz 
O glitter não representa todo o problema de poluição plástica do mar, mas faz parte dele. A urgência da questão fez com que várias empresas pensassem em soluções para diminuir o impacto negativo no meio ambiente.  Atualmente já existe glitter biodegradável, natural, e até mesmo vegano. A estudante de jornalismo e DJ Amanda Lima sintonizou com o momento e encomendou alguns exemplares de glitter biodegradável para comercializar em Natal. “Por saber que ainda não existe muita consciência geral sobre as formas corretas de retirada da purpurina do corpo, procurei essa alternativa para facilitar a vida dos usuários mais frequentes”, disse. 
Glitter biodegradável já é vendido neste carnaval
Glitter biodegradável já é vendido neste carnaval
Amanda explica que a técnica de fabricação do glitter ecologicamente correto é a mesma  da purpurina convencional: uma impressão metalizada cortada em micro-partículas. “A diferença é que ele é impresso num filme  à base de celulose de eucalipto renovável, e não num plástico. Ou também com alga de agar-agar e minerais brilhantes atóxicos”, completa. Ela conta que esse foi o primeiro ano em que trabalhou esse produto, e a procura foi imensa. “Para quem se preocupa com a questão ambiental ele é mais prático, pois realmente pode ser retirado no banho sem problemas”, diz. A jornalista afirma que a procura cresceu especialmente entre jovens seguidores do veganismo e aqueles com alguma consciência ambiental em geral. 
O glitter biodegradável encomendado por Amanda Lima esteve na loja Kole, um dos ambientes compartilhados da Casa 895, em Petrópolis. A proprietária Daniele Gonçalves confirma que a procura foi intensa, a ponto de acabar rapidamente e precisar correr contra o tempo para repôr. “A gente não fez distinção entre os tipos de glitter, mas o bom número de clientes que veio procurando o ecológico, é um reflexo de que essa questão ambiental é algo que muitos levam a sério. É para se pensar”, analisa. 
A procura fez até a lojista se informar sobre formas de retirar o glitter do corpo sem incorrer na poluição do ambiente. “Até para quem levava o glitter comum, de plástico, a gente passava algumas dicas que podem fazer a diferença”, afirma Daniele Gonçalves. Uma dica é retirar o glitter usando algum tipo de óleo ou creme, limpar bem com algodão ou lenço umedecido, e depois ir para o chuveiro. Outra alternativa é usar uma fita crepe para retirar os pontinhos. 
O confete orgânico foi um dos mimos carnavalescos preparados durante as oficinas pré-carnavalescas do salão de Nalva Melo, na Ribeira. A matéria-prima é abundante e fácil de achar: folhas. “A gente pegou a ideia de uma ONG paulistana que pensa o uso sustentável de materiais para o meio ambiente. Achamos genial o confete feito de folhas”, diz. Ela deu preferência às folhas das castanholas, que são resistentes e têm varias matizes de cor, do marrom ao vermelho. A palha de coqueiro também é outra opção. Depois é só usar um furador de papel, e estão feitos os confetes. “É divertido de fazer, não suja e polui como o papel. A natureza  recebe”, ressalta. 
O pozinho colorido ‘zim’, aquele tradicionalmente usado nos festivais indianos da primavera, o Happy Holi, também podem ser incorporados facilmente ao carnaval brasileiro. Há lugares para comprar, mas  é possível fazer em casa utilizando amido de milho, corantes alimentícios em gel, e água. A mistura deve se deixar secar por dois dias, depois quebrada com rolo de massa, e finalmente peneirada até virar pó.  Em Natal, é possível encontrar pacotinhos de zim em diversas cores nas lojas especializadas. A Casa do Ziper, localizada no estacionamento do Nordestão, e o Ponto dos Botões no Alecrim vendem o produto, que custa entre R$ 8 e R$ 12. 
Zim, também conhecido como holi, é feito de amido e corante
Zim, também conhecido como holi, é feito de amido e corante
Pele de carnaval 
O dermatologista e professor Arnóbio Pacheco alerta sobre os problemas que esses produtos também podem trazer para o próprio usuário. Ele recomenda uma atitude que muitos consideram difícil no carnaval: moderação. “Uma boa limpeza para higienizar a pele é sempre necessário, pois os resíduos não removidos desses produtos químicos geram irritação e processos alérgicos”, diz. Arnóbio também recomenda cuidado com a exposição ao sol, já que a luz solar pode potencializar as irritações causadas por determinados produtos. 
Cautela e moderação devem ser considerados para o uso de  glitter, maquiagem e pinturas corporais, segundo o médico. “As pessoas que têm histórico de alergia cutânea precisam ficar alertas sobre o uso. Não só os alérgicos, claro, mas especialmente eles. Recomendo fazer um teste antes, usar um pouquinho e ver o que acontece”, ensina. 
Arnóbio Pacheco também alerta sobre a procedência dos produtos a serem usados. “Procure produtos de qualidade, adquira em lojas do ramo ou de confiança”, diz. O dermatologista lembra da época em que as tatuagens de hena estavam em alta, e os problemas na pele eram recorrentes. “A hena natural não causa nada, mas quando não é pura e tem algum ingrediente estranho, dá problema. É preciso saber a origem do que se está comprando. Não recomendo que se compre nada na rua”, conclui. 
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