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Brincando de viver

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Isaac Ribeiro
Repórter

Quase sempre relacionados ao sedentarismo, os jogos eletrônicos cada vez mais provam sua utilidade além-lazer, principalmente na reabilitação de pacientes com algum tipo de sequela de algumas doenças, as oncológicas e neurológicas entre elas.

Jogos com plataformas vibratórias, que simulam movimentos do que se passa na tela — como Nitendo Wii e Xbox — estão sendo fundamentais para fins terapêuticos, na recuperarão de movimentos, além de beneficiar aspectos cognitivos comprometidos durante tratamentos contra o câncer, quimioterapia ou radioterapia.
Jogos eletrônicos são usados como ferramentas para a reabilitação de crianças e adolescentes em tratamento contra o câncer
Desde 2011, a Casa Durval Paiva de Apoio à Criança com Câncer desenvolve a “gameterapia”, com auxílio de jogos eletrônicos, mais especificamente com Xbox. Os resultados têm sido bastante positivos desde o início. O fato de ser algo lúdico, uma brincadeira mesmo, faz os pequenos pacientes se integrarem sem o peso dos tratamentos convencionais.

As sessões são coordenadas pela terapeuta ocupacional Lady Kelly Dantas, da equipe multidisciplinar da Casa Durval Paiva — que atende hoje mais de mil pacientes, oferecendo todas as refeições diárias, cerca de 2.400 mensais, transporte para realização do tratamento e exames, e ainda auxílio na compra de medicamentos, aquisição de próteses, visitas hospitalares, passeios entre outras atividades.

Recuperação e diversão

De acordo com a terapeuta ocupacional da Casa Durval Paiva, os benefícios vão desde aspectos cognitivos, educacionais, até motores; equilíbrio, coordenação, agilidade. Com relação aos primeiros, engloba-se atenção, concentração, sequenciamento lógico. Também existem os jogos específicos para melhorar o desempenho escolar e desenvolver comprometimentos neurológicos e respiratórios. Lady Kelly diz ser tudo planejado ainda no início, em um plano de tratamento para cada paciente.

“É tudo muito individualizado, de acordo com os objetivos analisados na anamnese, que é quando a gente faz a primeira entrevista com os pais. A gente detecta ali os objetivos com cada paciente”, comenta a terapeuta, focando também nos tipos de jogos a serem adotados. “depende muito do joguinho e do objetivo que a gente deseja com a criança ou com o adolescente.”

Os jogos eletrônicos entram na rotina de crianças e adolescentes em início de tratamento ou em fase de manutenção desse; não há período estabelecido, mas sim quando percebe-se a condição favorável em realizar determinados movimentos, adequados à sua necessidade, como informa Lady Kelly.

“No início do tratamento, a criança, o adolescente, fica muito debilitado.  Então, talvez, um jogo desse que dura uns 30 a 40 minutos, é o tempo de uma sessão normal, nisso observando o limite de cada um. Se em 15 minutos a criança cansou demais, para um pouquinho e depois retoma. Isso tudo a gente vai observando ao longo da sessão”

Jogos eletrônicos são usados em outros tipos de reabilitação

O uso de videogames como instrumentos terapêuticos na reabilitação de pacientes não se restringe apenas aos tratamentos oncológicos. Eles também são usados em casos de sequelas provocadas por acidentes vasculares cerebrais. É cada veza maior o número de aplicativos para fins terapêuticos gratuitos, disponibilizados para aplicativos móveis, como tablets e smartphones.

A Casa Durvall Paiva também utiliza os games no tratamento de pacientes hematológicos, que se queixam de dores. Existem instituições que usam a “gameterapia” em casos de autismo e Alzheimer.

Porém, não há jogos eletrônicos específicos para algum tipo de patologia ou sequela. De acordo com a terapeuta ocupacional da Casa Durval Paiva, Lady Kelly Dantas, é a própria equipe que escolhe qual usar, de acordo com a necessidade de cada paciente. Ela comenta que, no de canoagem, por exemplo, crianças e adolescentes movimentam muito braços e pernas, sendo levados a baixar, levantar, pular.

“Então, ali dá pra trabalhar a atenção,  concentração, agilidade, equilíbrio, coordenação motora, o jogo requer todos esses aspectos.  Em uma criança que tem dificuldade de ambular, que é caminhar, por algum motivo, pela patologia ou pelo tratamento em si, ela passou a ter essa dificuldade; então, a gente vê que esse joguinho dá certo para essa criança, para trabalhar o equilíbrio”, comenta Lady Kelly.

Ela acredita que no início as empresas de jogos eletrônicos não tenham atentado para o uso terapêutico de seus lançamentos. , antes tidos como simples brinquedos para momentos de lazer. “E hoje, a gente foi percebendo terapeuticamente o avanço que a gente consegue com essas crianças e com esses adolescentes com o uso do game como terapia.  Talvez hoje eles já tenham esse olhar, talvez tenham percebido, visto a necessidade de produzir mais esses joguinhos específicos.”  

Entrevista: Lady Kelly – terapeuta ocupacional


– O que você tem colecionado de resultados positivos  com o uso de jogos eletrônicos na reabilitação de pacientes?

Eu tenho uma paciente que já faz uso desde a época do Nitendo Wii. Ela tinha dificuldade de equilíbrio, de atenção, de coordenação  motora. Ela teve um tumor cerebral e afetou uma área do cérebro que comprometeu esses aspectos e desenvolvimento global. O game começou a facilitar nossa vida a partir do momento que a gente viu os avanços nesses pacientes quando começaram a interferir na sua globalizada, digamos assim, em algum aspecto da vida. E ela teve uma gama de avanço, muito mais corporal e cognitivo, no caso dela.  E social, porque muitos deles pode-se jogar em dupla e isso facilita muito a socialização e a interação entre eles. Quando eles iniciam um tratamento, começam a ficar um pouco mais reclusos, um pouquinho mais de canto. E esse momento de adesão ao tratamento convencional, eles começam, de certa forma, por ser muito lúdico, a interagir com o outro sem perceber. E aí, já foi um avanço! Aquela criança que antes não se aproximava, que não queria muita participação em trabalho em grupo… É muito nesse aspecto. É uma gama de resultados que a gente consegue.

– Desde quando vocês aplicam esse método e como foi introduzido?

Na época do Nitendo Wii, há uns cinco anos pra cá, primeiro começou com ele, depois surgiu o Xbox e a gente foi avançando. Foi observando o que ele proporciona mesmo de resultado. ‘O que a gente deseja para essa criança aqui? A gente precisa trabalhar esses aspectos…’ Foi tentando que a gente viu os resultados e foi comprovando de fato que dava certo.

– Além do Xbox, eles usam outra plataforma, tipo tablet ou computador de mesa mesmo?

Eles ganham muito tablet de doação aqui na Casa. Então, vários deles têm tablet. Eu não sei como está sendo o uso em casa. A gente orienta não ser uma coisa indiscriminada. Mas aqui eu não utilizo tablet; utilizo muito computador, que uma outra ferramenta para trabalhar questões cognitivas; atenção, concentração, jogos educativos.

– Mas há alguma orientação sobre o uso em casa?

A gente orienta muito aos pais essa limitação e essa adequação  desse instrumento. A gente vê que hoje está sendo tão terceirizado; as pessoas usam o celular como babá. A gente tenta limitar muito isso, nas reuniões que a gente tem em equipe, orientando sobre o uso indiscriminado desses aparelhos. 

– A maioria dos que estão fazendo tratamento tem uma imunodeficiência devido ao tratamento. Como se dá o manuseio do teclado do computador, sempre tido como muito sujo e cheio de bactérias e fungos… Há alguma recomendação ao manuseio com relação a higienização?

Eles têm essa imunidade baixa por si só, devido ao tratamento, que é muito invasivo, muito agressivo. Então, tem o uso da máscara, que a maioria faz. Mas muitos deles estão na fase de manutenção do tratamento, já passaram pela fase mais complicada, então não usam tanto a máscara. Mas quando eles não fazem uso da máscara, a gente orienta quanto higienização de mão, de escovação, de manuseio de utensílios do que for também,  no caso de computador, de teclado, de tudo. Tem que ser algo bem higienizado para não ter problema nenhum.

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