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“Brokeback Mountain” chega às livrarias

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Eles foram criados em fazendas de gado pequenas e pobres em cantos opostos do Estado. Jack Twist em Lightning Flat, na fronteira de Montana, Ennis del Mar era dos arredores de Sage, próximo à fronteira de Utah, ambos garotos do interior sem o ensino médio completo e sem perspectivas, preparados para dar duro e passar necessidade, ambos de modos e fala rudes, acostumados à vida estóica – assim começa a tradução brasileira do conto “O Segredo de Brokeback Mountain”, realizada por Adalgisa Campos da Silva, que a editora Intrínseca envia hoje, sexta-feira véspera de carnaval, para as livrarias (72 págs., R$ 22,90).

Foi um trabalho a toque de caixa: a fim de aproveitar o sucesso do filme nos cinemas e da expectativa em relação ao Oscar (concorre em oito categorias), a editora seguiu os mesmos passos de suas colegas estrangeiras e lançou apenas o conto da americana E.(Edna) Annie Proulx, separado dos demais que compõem a obra.

Uma jogada comercial, de fato, especialmente por ser a capa uma cena do filme. A se lamentar apenas a limitação momentânea de o leitor se aprofundar na obra de Annie Proulx, cuja outra história, “Chegadas e Partidas”, já inspirara outro longa, com Kevin Spacey. Tanto um livro como outro trazem a essência da obra de Annie, cujos personagens beiram à mediocridade banal. Em sua obra, tornou-se comum a presença de um aspecto da cultura local que os americanos não gostam de ver sobressaído – o histórico incômodo pelo diferente.

Em “Os Crimes do Acordeom”, por exemplo, livro lançado aqui pela Bertrand Brasil, ela mostra como a América não esconde sua formação protestante embasada numa indisfarçável superioridade racial. O livro traz oito histórias independentes unidas apenas pela troca de dono de um pequeno acordeom verde de 19 botões, o único “personagem” presente em todas elas. Assim, da Sicília de 1890 até os dias atuais, o leitor descobre os caminhos tortuosos, ásperos e desumanos da história da imigração nos EUA.

Estrutura semelhante apresenta “O Segredo de Brokeback Mountain”, conto publicado em 1997 na revista “New Yorker”. A história do amor entre dois caubóis não trata apenas de amor e da solidão, mas principalmente da homofobia que vive encravada no coração da América cristã. E o grande mérito do filme dirigido por Ang Lee é ressaltar esse rancor que, se não aparece explicitamente, é descoberto nas frases cifradas, nos olhares carregados de ódio, nas vozes com sotaque de desprezo. O roteiro adaptado de Larry McMurtry e Diana Ossana segue respeitosamente a narrativa de Annie. A trama começa em 1963, na porta do escritório do fazendeiro. Joe Aguirre, em uma pequena cidade do Wyoming. Ele é dono de centenas de ovelhas e todos os anos precisa de alguém para pastorear o rebanho na montanha Brokeback durante os meses de inverno. O vaqueiro Ennis Del Mar e o aspirante a peão de rodeios Jack Twist aceitam a incumbência.

É curioso como a passagem do tempo é tratada no livro e no filme. Se no texto de Annie Proulx a seqüência dos dias é marcada pela descrição dos pequenos detalhes que diferenciam a rotina modorrenta dos caubóis, no cinema o recurso é a tradicional fusão de imagens, alternando dia e noite, sol e chuva, calor e neve.

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