São Paulo – O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, enfrentará em sua visita à América Latina – Brasil, Colômbia, Chile e Uruguai -, na próxima semana, manifestações contra a política externa americana e a guerra no Iraque. Em São Paulo, onde Bush estará em 8 de março, Dia Internacional da Mulher, as manifestações alusivas à data serão marcadas pelo “Fora Bush”, palavra de ordem endossada pelo Centro Brasileiro de Solidariedade entre os Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz), e partidos de esquerda, como PC do B, PSTU e PSOL que aderiram ao ato. Uma passeata com o lema “Por igualdade, autonomia e liberdade! Fora Bush do Brasil e da América Latina!”, sairá às 15h da Praça Oswaldo Cruz (na Av. Paulista, altura do metrô Paraíso) e irá até o Museu de Arte de São Paulo (também na Av. Paulista).
O maior objetivo da visita de Bush ao Brasil, nos dias 8 e 9 de março, é negociar a produção e comercialização de etanol e biodiesel, fontes de energia renováveis e usadas como alternativa para substituir os combustíveis fósseis, cuja queima favorece o aquecimento global. No entanto, a organização da marcha das mulheres acusa o governo Bush de “jogar água no processo de integração latino-americano” e interromper as negociações brasileiras com Venezuela e Bolívia por petróleo e gás natural. A mesma acusação foi feita pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, que divulgou manifesto ontem criticando também o modelo de produção bioenergética do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a monocultura da cana-de-açúcar. No ano passado, o 8 de março foi marcado pela destruição das instalações do horto florestal da Aracruz Celulose, em Barra do Ribeiro (RS), promovida por um grupo de 2.000 militantes da Via Campesina, na maioria mulheres. A ação condenava o chamado “latifúndio verde”, grandes propriedades e marcava o Dia Internacional da Mulher.
A América Latina que aguarda a visita do presidente americano George W. Bush, na semana que vem, está longe de ser um grande programa. Uma recente pesquisa da “BBC” inglesa revela que 64% dos argentinos, 57% dos brasileiros, 53% dos mexicanos e 51% dos chilenos dizem ter “uma visão predominantemente negativa” da influência americana no continente. Bush vai encontrar nos cinco países que visitará – Brasil, Uruguai, Colômbia, Guatemala e México – “uma audiência tão ressentida com sua recente falta de interesse” quanto estava, antes, “pelo ativismo interesseiro” que apoiou tantas ditaduras pelo continente.
A avaliação é da revista britânica “The Economist”, que dedica esta semana um editorial e duas reportagens à passagem de Bush pelo continente. Mas há também boas coisas à sua espera, diz a revista. Se o governante é malvisto, os Estados Unidos continuam sendo para milhões de pessoas uma terra de oportunidades com a qual haveria muito a ganhar. Dois desses países, Uruguai e México, servem como exemplo: embora Bush só tenha 12% de simpatizantes no Uruguai, nada menos que 60% da população local aprova a idéia de um tratado comercial com os EUA. E no México o grande assunto a discutir com o presidente Felipe Calderón é imigração – ou seja, a vontade e necessidade de milhões de mexicanos de irem para os EUA arrumar trabalho. A revista desfia seguidos conselhos ao presidente americano. Primeiro, que “a pior coisa” que ele poderia fazer seria “falar demais sobre a Venezuela”, que desataria os queixumes habituais contra “a petulância ianque”. Segundo, se ele souber oferecer a ajuda de que os países precisam, “dará aos latino-americanos o senso de parceria que falta no presente”, quando os EUA “estão presos a uma batalha por influência” com o rival venezuelano Hugo Chávez. “Se ele representa perigo, é para o resto da América Latina, onde suas idéias simplistas são às vezes populares”, diz a revista. “