Um policial militar entrou, na manhã de ontem (5), na sede da Governadoria, prédio onde despacha o governador do Estado, Robinson Faria. Identificado como cabo Gonçalves, e é lotado no BP Choque e ficou na recepção principal da Governadoria, por aproximadamente duas horas. Ele ocupou o prédio por volta das 7h e se recusou a sair até 9h15, quando foi convencido por colegas de farda que negociaram com ele durante todo o tempo.
Alterado, cabo Gonçalves lotado no BPChoque ficou por 2h na recepção da governadoria, rezando
Fardado, mas sem arma, o policial dava claros sinais de desespero. A entrada da imprensa foi impedida; apenas funcionários e representantes da Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar (ACS-RN) que estiveram presentes podiam entrar. Do lado de fora foi possível ver o cabo PM ajoelhado e com as mãos no rosto.
Na saída, escoltado por colegas, ele resolveu falar com a imprensa e afirmou que saia, mas mantinha a greve de fome. “Eu tenho um sonho e creio em um Deus que realiza sonhos. Tenho fé que a Polícia Militar vai ser respeitada e valorizada. Não estou cedendo da minha decisão, apenas saio desse local para resguardar meus companheiros de trabalho e ir para o Batalhão de Choque, onde é minha unidade atual, onde ficarei mantendo minha palavra: estou em uma greve de fome e só como após uma intervenção nesse estado. Que esse governo deixe o poder”, disse, pouco antes de seguir com colegas para o BP Choque.
O comandante do BP Choque, tenente-coronel Rodrigo Trigueiro, conversou com o cabo Gonçalves e ajudou a convence-lo a abandonar a ideia de acampar na Governadoria. Segundo ele, o cabo Gonçalves sempre foi um bom profissional nos cinco anos de batalhão. Ação mostraria o desespero por parte da tropa.
Policial militar foi convencido, por colegas de farda, a sair do local
Não é momento para punições, adianta Trigueiro. “Vamos evitar de tudo para sanções disciplinares e essa palavra está fora do nosso vocabulário. O momento não é para punir, é de irmandade. Estão todos na mesma situação. Como eu vou punir um policial que trabalha comigo se eu estou sem salário igual a ele? Seria irresponsabilidade”, argumentou o comandante, que prometeu assistência psicológica no Batalhão para o policial.
Em meio à crise no local, outro policial, este do 4º Batalhão, tentou também entrar a força em apoio ao companheiro e foi contido por outros policiais presentes. Ele chegou a dizer que estava disposto a morrer, caso necessário.
Morte
O cabo Oliveira Neto, 38, lotado no 4º Batalhão de Polícia Militar, e sua família enfrentaram, nesta semana, mais um drama. Com os salários atrasados e precisando se virar para equilibrar as finanças dentro de casa, o policial teve a triste notícia de que seu pai, o também militar Manoel Soares Filho, tirou a própria vida na noite da última quinta-feira, em sua casa, no bairro Potengi, Zona Norte, onde morava com a esposa. O sargento Soares, da reserva, tinha 72 anos.
Apesar do drama pessoal, o cabo Oliveira resolveu vir a público pedir calma aos colegas de farda. Ele não quer que situações como a ocorrida com seu pai ou com o cabo Gonçalves se repitam. “Minha intenção é acalmar a tropa. Que isso que aconteceu estacione agora, que meu pai, o policial militar Soares, seja o último. Eu não quero ver outro filho passar por isso”, disse, por telefone, horas antes do sepultamento do sargento Soares no Cemitério Parque da Passagem, ocorrido à tarde.