sexta-feira, 29 de março, 2024
30.1 C
Natal
sexta-feira, 29 de março, 2024

Cachorro, não!

- Publicidade -

Ele diz que não é brega nem cachorro, mas admite que faz da dor de cotovelo o sustento da própria alma. Aos 73 anos, Waldick Soriano volta a Natal depois de oito anos para apresentar os boleros que o consagraram como um dos grandes cantores românticos de uma geração taxada de cafona.    

Ele vem como atração principal do projeto Seis & Meia, que ocorre na próxima terça-feira, a partir das 18h30, no Teatro Alberto Maranhão. Na preliminar, a turma brega do Belina Mamão faz as honras da casa.

Waldick Soriano, cuja vida vai virar documentário com produção de Patrícia Pillar, aguarda a confirmação da vinda da atriz a Natal. “Ela ficou de vir filmar o show e usar no documentário, estou esperando uma ligação dela”, disse o cantor. Segundo o empresário e produtor musical João Santana, a vinda de Patrícia Pillar já está acertada. A reportagem tentou um contato com Patrícia Pillar, mas ela estava em filmagens da novela “Sinhá Moça”.

Waldick conversou com o VIVER ontem pela manhã por telefone. Ele falou da carreira, do rótulo de brega e sentencia: está faltando de dor de cotovelo na juventude de hoje.

Por onde anda Waldick Soriano?

Estou morando em Fortaleza. Lancei agora um CD e DVD ao vivo, foi um show muito bonito. O povo gosta é de farra, não é? Aí em Natal vou cantar as músicas mais bonitas e algumas que o pessoal não conhece muito porque não toca na rádio. Só se pagar. E eu é que não vou pagar para esses vagabundos das rádios tocarem minhas músicas. Hoje não pago na televisão por causa do meu nome. Mas a rádio ainda tem. Isso começou na época do Chacrinha para cá… não que ele tivesse culpa, mas começou naquele tempo.

Waldick Soriano é brega ou essa é uma forma pejorativa de encarar seu trabalho?

Você falou tudo. O brega é pejorativo. Sou um cantor romântico! Porque não dizem a mesma coisa do Roberto Carlos, se ele faz a mesma coisa que eu? Mas não: ele é romântico e eu sou brega. É a mesma coisa no cinema. A comédia brasileira aqui é chanchada. Os de fora são comédia. Isso é ignorância do povo brasileiro. Me diga se a música “Tortura de amor” ou “Fujo de ti” é brega? Deve ser porque eu canto meio chorado, como um bolerão.

Então é preconceito…

Um amigo me lembrou um dia desses que fui muito criticado quando apareci na televisão com óculos escuros, roupa e chapéu preto. Hoje, todo mundo sai na rua desse jeito, até as mulheres usam chapéu.  Não entendo! A cultura do povo brasileiro é interessante. Mesmo com toda essa intelectualidade que nós temos a gente vê falta de conhecimento. As novas gerações não procuram analisar a coisa de forma séria. Veja bem que quando surgi, eu era cafona, hoje sou brega e pode ter certeza que amanhã vão arrumar outra palavra.

As duplas sertanejas de hoje também dizem que fazem música romântica. 

Sinceramente eu não entendo essas duplas sertanejas. Antigamente eram duplas caipiras, lembra do programa do Bolinha? Era a música que falava da estrada, do carro de boi, do grande amor que ficou no sertão… agora isso que estão cantando, que dizer, que eles acham que cantam, porque na verdade não sabem cantar nada, é de péssima qualidade. Tempos atrás, tanto no rádio como na televisão o ambiente era outro. Dava gosto você entrar numa boate para ouvir um trio Irakitan, bons cantores e cantoras. Hoje, você entra numa casa dessas aí e tem cada show que não merece sua presença nem de graça.  Esse pessoal da Bahia, do trio elétrico, não canta nada. Ficam pulando, gritando, e essa juventude enlouquecida. Está faltando alguma coisa. 

O quê, por exemplo?

É difícil. O amor está aí, mas não é tão considerado como era antigamente. Antes você amava, hoje você gosta. Acho que o progresso é muito culpado dessas coisas. Naquele tempo, a namorada tinha que escrever a carta que levava não sei quantos dias para chegar até você. A resposta demorava e deixava você ansioso… agora é só mandar um e-mail que chega na mesma hora. Isso sem falar no telefone. Viajar era uma dificuldade, hoje ninguém anda a cavalo (risos). Olhe que tenho muita saudade do interior…

Está faltando dor de cotovelo na juventude?

Acho que sim. Sabe o que é? Eu tive muita dor de cotovelo, minhas músicas falam disso. Hoje não tem mais. É só a beleza física. O cara vê a mulher, e exige um corpo bonito. Estava outro dia aqui em Fortaleza vendo um programa na TV e a mulher mais bonita do Ceará, que se chama Carol, ficou doidona quando falaram meu nome. Mandou um beijo para mim, disse que me amava e tudo. Minha secretária veio dizer que eu era um homem de sorte, que as mulheres me procuram… Aí eu disse: “elas não procuram o artista, elas vão atrás”. Porque uma coisa é diferente da outra. Quem procura quer alguma coisa que preste. Respeita sua índole, sua maneira de ser. Digo numa música que o tempo não espera por ninguém. Alguém tem que dizer para essa moça que daqui a 20 anos ela não é mais o que é hoje…

Então, ao contrário do que dizia Vinícius de Moraes, a beleza não é fundamental…

Claro que a beleza é fundamental! Não é isso. Mas tem muita gente bonita fisicamente com a cabeça oca. É mais ou menos como no interior, onde apareciam aquelas pessoas com um anel no dedo dizendo que era de ouro, mas com 15 dias estava tudo preto (risos).

Soube que o sucesso “Eu não sou cachorro não” tem uma relação com Natal. Como foi isso?

(Risos). Rapaz, foi mesmo… Fui para Natal, mas o avião atrasou uma hora em Recife. O meu amigo João Santana é muito brincalhão e estava me esperando no aeroporto. Quando cheguei, ele começou a dizer que não era cachorro não para ficar esperando por mim aquele tempo todo. Aí eu parei e pensei: “olhe que isso dá música!” Então, dali, fomos almoçar na casa da mãe dele. Lá, vi um piano e meu guitarrista, que também entendia, foi tocar. A música e o tema, que é o principal, vieram num instante. E foi o maior sucesso do Brasil (risos).

Mas o povo acha que é brega…

Pois é, o pessoal acha que é brega, mas tem uma letra muito bonita (canta ao telefone), diz que o cara não pode viver tão humilhado, ou seja, não pisa em mim. Mas o povo não entende por que fala no cachorro.

Você acredita que ainda vão aparecer na música brasileira outros como Waldick Soriano, Nelson Gonçalves e Cauby Peixoto?

Acho muito difícil. A mentalidade dessa nova geração é outra, não há respeito. Eles me respeitam porque não tem jeito. Nossas músicas não têm nada de papo furado. No show de terça-feira que vou fazer aí você vai. Se a governadora for mesmo como me disseram, avise que ela vai chorar. Vai ser muito bonito. A música é um documento inapagável. Você pode esquecer de alguma coisa, mas aquela a música te faz lembrar de tudo, é o sustento da alma.

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas