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Caldas vive – I

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Vicente Serejo
Creia. Não custa tanto acreditar na velha magia do jornalismo na contracena com a vida literária. É tudo o que pode justificar uma citação do poeta João Lins Caldas na reportagem “O Sobrevivente Centenário”, do jornalista Bolívar Torres, publicada na edição de oito de fevereiro passado, e que circulou em Natal há duas semanas. É sobre o café ‘O Gaúcho’ que há um século resiste, no centro antigo do Rio, depois de ter sido ponto de encontro de boêmios e intelectuais.
A reportagem, de quatro páginas, da série ‘Diário da Resistência’, em certo ponto cita um trecho de ‘Território Humano’, de 1936, estreia de José Geraldo Vieira no romance urbano e memorialista, informação que circulou no Rio Grande do Norte pela primeira vez em 1975. Quando Celso da Silveira organizou a ‘Poética’, uma antologia de poemas de João Lins Caldas publicada pela Fundação José Augusto, e quando Sanderson Negreiros presidia a instituição. 
No prefácio, Celso informa os detalhes: foi ai, pelos anos de 1930-1933 que João Lins Caldas conheceu e tornou-se amigo de celebridades literárias de projeção nacional. Entre eles, o escritor José Geraldo Vieira. O romance do qual o poeta é personagem teve duas edições: em 1936 (José Olympio) e 1972 (Editora Martins), este com pequenas alterações, mas mantendo o personagem Cássio Murtinho, assim como cita Nunes Pereira, um indigenista que viveu aqui.  
Segundo a professora Cássia de Fátima Matos Santos, organizadora, introdutora e autora das notas de ‘Poeira do Céu e outros poemas’ (UFRN, 2009), João Lins Caldas viveu no Rio e São Paulo entre 1912 e 1933, “retornando para Assu/RN e aí residindo até o ano de 1967, quando faleceu”. Celso da Silveira lamentava que o poeta, amigo de tantos nomes célebres, tenha vivido dizendo seus versos na porta da livraria Garnier e dos cafés, sem publicar um só livro. 
Na reportagem, Bolívar Torres cita um trecho do romance ‘Território Humano’ que registra a presença de João Lins Caldas nas mesas de ‘O Gaúcho’, ao lado de Nunes Pereira: “Em um texto memorialístico, o mestre do romance urbano José Geraldo Vieira descreveu o clima das noites do Gaúcho em sua juventude. Nos anos 1920 o futuro autor de ‘A Quadragésima Porta’ lembra de esperar, nas suas mesas, o esfomeado amigo dadaísta Maneco e Nunes Pereira”.
E depois: “Assim que João Castelo Branco ou João Lins Caldas começavam a querer ler-lhe poesias que haviam escrito em caixas de cigarro ou na orla dos jornais, (Maneco), segurava um deles pelo garganete e berrava: ‘Eu quero é média com pão e manteiga. Arrebento a cara do primeiro safado que ousar me ler um soneto”.  O café ‘O Gaúcho’ foi fundado logo depois da Gripe Espanhola, há um século, exatamente em 1921. E vive neste 2021 a nova peste. 
ALCATEIA – Alex Gurgel lança sábado, das 9 ao meio-dia, no Sebo Vermelho, ‘Alcateia de Letras, proseando com a literatura potiguar’. Edição com o apoio das leis de incentivo cultural.
QUEM – As 23 entrevistas foram originalmente publicadas na revista Papangu, de Túlio Ratto.  Alex, filho de Romilda e Alexis Gurgel, herda a boa linhagem do jornalismo da velha geração. 

VOZ – Uma cidade também é feita de vozes e Natal perdeu, na madrugada que passou, uma de suas vozes: Glorinha Oliveira, 95 anos. Desde os velhos programas de auditório da Rádio Poty. 
EDITORES – Tem um natalense na relação dos apoiadores do livro ‘100 nomes da Edição no Brasil’: o hoje pró-reitor de extensão cultural da UFRN, Graco Aurélio Câmara de Melo Viana.
ISABEL – Nasceu, em Madrid, a menina Isabel, filha de Ana Cecília e Raul Hernandez, neta da poetisa Diva Cunha. No sistema matrilinear espanhol será chamada Isabel Hernandez Cunha.
MEMÓRIA – O jornalista Djair Dantas, o avô, com quem Diva foi casada e teve dois filhos, faleceu sem sequer conhecer a filha. Nascido em maio de1944, estaria hoje com 77 anos. 

TRADIÇÃO – Mano Targino lançou a carne de porco mergulhada na própria banha, como na velha cozinha mineira, quando não existia geladeira. Uma técnica que conserva por seis meses.
ELAS – As artistas plásticas Larissa Torres e Viviani Fugiwara fizeram, com apoio da lei Aldir Blanc, mural de homenagem a Nísia Flores, Clara Camarão e Débora Seabra, ‘As filhas do sol’.  
RISCO – Com mais de quarenta contaminados, e três deputados, a Assembleia Legislativa está fechada e seu funcionamento restrito ao campo virtual. Com pauta irrelevante, corre o risco de ser julgada cara e dispensável pela opinião pública. O que seria muito ruim para a democracia. 
FLAGRA – Vai acabar o jogo dos postos de gasolina e dos governos estaduais, um culpando o outro pelo preço dos combustíveis. Estampar a composição de preços vai confessar o retrato fiel de cada um deles no cálculo real que o cartel nunca declarou. Resta saber se será aprovado 
CRETINO – O deputado Daniel Silveira, preso por louvar a ditadura e defender o fechamento do Supremo Tribunal Federal, é de uma cretinice que chega às raias da desfaçatez: na sua defesa invoca a liberdade de expressão, só possível na democracia que ele vomitou como um dragão.    
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