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Caldas vive – III

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Vicente Serejo
É declarada a doce afeição de José Geraldo Vieira pelo poeta, a quem apelidou ‘Crioulo de Dostoievski’. E traça um perfil daquele homem singular: “Se criatura humana houve nestes trópicos, com temperamento, sensibilidade, caráter e paixão de personagem de ‘O Processo’ ou ‘O Idiota’, foi ele”. E mais: “Queria-me como um irmão; defendia-me como um servo. Tinha um orgulho nietzschiano, mas ante mim era humilde como um cão de corte ante um infante”.
Para Vieira, são nobres os traços da formação intelectual de Caldas, suas influências literárias: “Riscou na vida um triângulo cujos lados eram Dante, Shakespeare e Nietzsche e dentro se encravou, como um tigre assanhado contra a estupidez e a corrupção humanas. Não admitia emprego público; odiava a política; tinha um caráter sem jaça e uma susceptibilidade incrível”. E com sinceridade: “Naquele tempo seria classificado sumariamente como louco”. 
Logo a seguir, como para reconhecer na ‘loucura’ do poeta algo de genial, José Geraldo adverte: “Hoje seria preciso ir a Freud e a Kretschmer e, para equidistante do conceito materialista e do ‘mal sagrado’, qualificar a profundidade esquizoide do meu querido Caldas”. E não fica só ai. Cita Julien Green para lembrar o mistério da loucura e para dizer, sem medo de cometer algum exagero: “Eu, por minha vez, convivi mesmo com um esquizofrênico genial”.
 
Ao longo de cinco páginas do ‘Carta a minha filha em Prantos’, o depoimento de Vieira não é só único como olhar singular sobre Caldas. É o mais longo, de maior afeição. Compara-o ao personagem de Julien Green de ‘Um Voyageur sur la Terre’ – conto que Jorge Luís Borges considerou dos melhores do mundo – “onde o mistério da loucura recebe um jato de iluminação inédito”. Um nome que a noite do esquecimento teima em esconder do Rio Grande do Norte.
 
Um dia, temendo que destruíssem, chegou à casa de Vieira com malas e fardos – os seus papeis e suas poesias. Voltou algumas vezes para verificar se estavam bem guardados na casa do amigo. Vieira confessa: “Eu precisava dele, às vezes, como a árvore precisa do vendaval”. Mas, também registra seu espanto: “Ao abrir a porta, dava com os olhos dele do lado de fora, visíveis através dos vidros. Que olhar sinistro, ao mesmo tempo de acusação e de absolvição”.
Com os versos de Caldas morando na garagem do seu sobrado, um dia o poeta levou tudo e desapareceu. José Geraldo encerra assim: “Onde estará ele, em que casa grande, ou que tapera, nesse Nordeste para onde um dia, ai por 1933, sumiu para não me matar? Jamais pude ter notícias dele, através de amigos do Norte, e nem mesmo de detetives voluntários”. João Lins Caldas voltara a Assú, a sua terra. Onde, a 18 de maio de 1967, fechou os olhos para sempre… 
AVANÇO – Com os R$ 14 milhões assegurados pelo Ministério da Justiça será possível erguer a sede do Instituto Técnico de Perícia e de todas as delegacias especializadas. É um belo avanço. 
ALIÁS – No seu estilo discreto e simples, o secretário da segurança, coronel Francisco Araujo, tem conseguido recursos e equipamentos para a PM. E mantido a polícia nos seus bons limites. 
CRIME – É um crime de lesa sociedade defender a abertura de igrejas, católicas, evangélicas e que tais com o agravamento da pandemia. Cristo está em toda parte, talvez menos nas igrejas. 
AZUL – Depois do verão nos seus alpendres de Pirangi, Genibaldo Barros voltou a Natal. E, nalgumas tardes, muito azuis, olha o mar do alto de sua torre e toma um gim da velha Londres.  
MONROE – Chega ao Brasil a tradução da mais polêmica biografia romanceada de Marilyn Monroe – ‘Blond’, de Joyce Carol Oates, livro que recebeu o prêmio Book Award. Nas livrarias.
GESTOS – Ao se separar de Angelina Jolie, o ator Brad Pitt deixou na adega da ex-mulher os melhores vinhos e champanhes e um quatro de Churchill avaliado em $ 3,4 milhões de dólares.
RETRATO – O trânsito intenso que Natal registrou na manhã de ontem é o retrato de que não há como evitar o disparo de novos e numerosos casos de contaminação. A cidade está nas ruas. 
FORÇA – De Nino, o filósofo melancólico do Beco da Lama, sobre a traição nos vastos campos do desejo do velho sentimento de amor: “A carne atrai e trai, numa rima pobre, mas verdadeira”.
PALAVRAS – A Academia Brasileira de Letras prepara uma sexta edição do seu Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, agora precedido de um arrojado projeto virtual para garantir a absorção das novas expressões criadas, e consagradas pelo uso corrente do povo brasileiro.

ARROJO – O Vocabulário chega às livrarias até final do segundo semestre deste ano acrescido de mais mil expressões às 381 mil reunidas na edição de 2009. A ideia é fazer a inclusão de novos verbetes, incorporando ao acervo da língua portuguesa expressões dos falares populares.
EXEMPLOS – Já estão fixadas em verbetes: ‘afrofuturismo’ (o movimento cultural), apneístas (atletas que mergulham sem oxigênio), aporofobia (desprezo pelos pobres), infodemia (excesso de informações) e oligossintomático (quem apresenta poucos sintomas de sua própria doença).  
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