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Câmara volta a se reunir na quinta para votar novo pacote

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CRISE FINANCEIRA - A Câmara deverá se reunir na quinta-feira, ao invés de entrar em recesso

Washington – Em uma votação surpreendente que deixou em choque o mercado  financeiro global, a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos rejeitou ontem um pacote de US$ 700 bilhões proposto pela Casa Branca para socorrer  o sistema financeiro americano, ignorando os apelos do presidente George W.  Bush e dos líderes dos partidos Democrata e Republicano no Congresso.

Os líderes democratas e republicanos afirmam que a Câmara votará novamente o  pacote, embora os democratas tenham deixado claro que os republicanos precisam  providenciar mais votos. A Câmara deverá se reunir novamente na quinta-feira  desta semana, ao invés de entrar em recesso. As ações começaram a despencar antes mesmo da votação, na qual o pacote foi  rejeitado por 228 votos contra e 205 a favor. A queda de 777 pontos no índice  Dow Jones superou a queda de 684 pontos no primeiro dia de pregão após os ataques  terroristas de 11 de setembro de 2001.

Bush e muitos dos líderes na Câmara imploraram aos congressistas que aprovassem  o pacote, apesar dos fortes protestos dos eleitores. A avaliação é que não houve  um número suficiente de congressistas que quiseram tomar o risco político, cinco  semanas antes das eleições. Mais de dois terços dos republicanos e 40% dos democratas votaram contra o pacote.  No total, 140 democratas e 65 republicanos aprovaram o pacote, mas 133 republicanos  e 95 democratas votaram contra o plano de resgate. A questão mais crucial para os líderes no Congresso é o que fazer agora. “A crise ainda está conosco”, disse a líder da Câmara, Nancy Pelosi (democrata,  Califórnia), em coletiva após a derrota. “O que aconteceu hoje não pode continuar. Precisamos ir em frente e eu espero  que os mercados entendam a mensagem de que iremos em frente”, ela disse. Na Casa Branca, Bush disse: “Eu estou desapontado com a votação. Nós apresentamos  um pacote que era grande porque temos um problema grande”, ele disse. Os republicanos culparam um discurso que Pelosi fez antes da votação para a  derrota do pacote, no qual a líder atacou a política econômica de Bush “e essa  ideologia de direita de deixar tudo sem supervisão, sem disciplina, sem regulamentação”  do sistema financeiro, como disse a líder. As palavras de Pelosi “envenenaram a conferência, levando um número grande de  colegas (republicanos) a votarem contra”, disse o republicano John Boehner. Os democratas rejeitaram as críticas ao discurso de Pelosi. O representante democrata Frank Barney ironizou os ataques dos republicanos  ao discurso de Pelosi: “Só porque alguém machucou os sentimentos deles, eles  decidiram punir todo o país?”

Mantega acredita em aprovação

Brasília – Em rápido e tumultuado pronunciamento na porta do Ministério  da Fazenda, o ministro Guido Mantega afirmou, ontem, que ainda acredita  que o Congresso norte-americano irá aprovar o pacote de US$ 700 bilhões de ajuda  às instituições financeiras daquele país. Segundo o ministro, tão logo isso  aconteça haverá uma “distensão” da economia mundial com a recomposição do crédito,  embora em patamares inferiores ao que era. “Mas não haverá o estresse dos dias  de hoje. Até lá o governo brasileiro estará pronto e atento para atender a situações  no Brasil”, disse Mantega. Ele contou que na reunião que teve ontem pela manhã com o presidente Lula, o presidente  do Banco Central, Henrique Meirelles, e os ministros do Desenvolvimento, Miguel  Jorge, e da Agricultura, Reinhold Stephanes, foi feita uma análise de cada setor. 

Neste balanço, afirmou Mantega, o setor exportador está funcionando normalmente  apesar de haver uma falta de crédito em dólar. “Mas o Banco Central está fazendo  leilões para dar crédito em dólar”, disse Mantega.  Segundo ele, não faltam recursos financeiros para a agricultura, mas o governo  identificou que poderá haver problemas “mais adiante”. Mantega disse que o governo  também resolverá este problema. Ele lembrou ainda que houve uma diminuição do  crédito nos bancos privados mas que o Banco Central já aumentou a liquidez por  meio da redução do depósito compulsório. “Estamos acompanhando a conseqüência  que os acontecimentos lá fora podem ter no Brasil.

Mas a situação está bastante  normal no Brasil”, avaliou o ministro.  Mantega disse que o mercado doméstico continua aquecido e que as empresas e  bancos brasileiros mostram solidez. Ele afirmou também que o governo estará  pronto para responder os problemas na medida em que se colocarem.

Ele destacou  a solidez das contas públicas brasileira que registra superávit primário acima  dos outros anos e a convergência da inflação para dentro da banda superior da  meta. “Estamos numa situação favorável para enfrentarmos essa situação internacional  maior”, afirmou.  Mantega acrescentou que é preciso diferenciar os países avançados, que são o  epicentro da crise, de países em desenvolvimento e dinâmicos com a economia  sólida.

Segundo ele, a crise ocorre por irresponsabilidade de uns ou de outros  que deixaram com que os problemas das instituições financeiras lá fora fossem  se acumulando. Ele destacou que no Brasil as contas continuam equilibradas e  o mercado interno continua robusto.  O pronunciamento do ministro foi feito do lado de fora do Ministério da Fazenda  porque a assessoria de imprensa se recusou, apesar dos pedidos dos jornalistas,  a deixar que a entrevista ocorresse no auditório do Ministério. O pronunciamento  do ministro foi tumultuado, com empurrões dos seguranças que retiraram Mantega  do local sem permitir perguntas de jornalistas. 

Paulson se diz muito decepcionado com rejeição

Washington – Em conseqüência da derrota do pacote de socorro de US$  700 bilhões ao setor financeiro, apoiado pela administração do presidente George  W. Bush, na Câmara de Representantes, o secretário do Tesouro, Henry Paulson,  pediu uma ação rápida para proteger a economia dos EUA de prejuízos adicionais.   “Nosso conjunto de instrumentos é substancial, mas insuficiente”, disse Paulson  aos repórteres no jardim da Casa Branca, onde tinha acabado de se encontrar  com o presidente Bush. “Portanto, eu continuarei a trabalhar com líderes do  Congresso para encontrar uma forma de prosseguir para aprovar um amplo plano  para estabilizar nosso sistema financeiro e proteger o povo americano ao limitar  as perspectivas de deterioração adicional na nossa economia”, disse. “Temos  muito trabalho a fazer e isto é muito mais importante do que simplesmente deixar  acabar.” “Eu estou muito decepcionado com a votação”, disse Paulson  referindo-se a derrota do pacote na Câmara, que levou o índice Dow Jones a registrar  a maior queda em pontos de sua história, com 777,68 pontos.  “Estamos experimentando uma turbulência significativa em nossos mercados financeiros  nos últimos dias, incluindo o colapso do Washington Mutual e do Wachovia aqui,  e a falência de duas grandes instituições financeiras na Europa”, disse. “Os  mercados ao redor do mundo estão sob estresse e isso reduz a disponibilidade  de crédito do qual dependem as empresas americanas.”

Votação

Um grupo bipartidário de deputados da Câmara de Representantes  dos Estados Unidos derrotou o plano de socorro de US$ 700 bilhões para Wall  Street, rejeitando os apelos da administração do presidente George W. Bush e  dos líderes do Congresso de ambos os partidos sobre as potenciais graves conseqüências  da falta de uma ação dos legisladores com relação a crise que atinge os mercados  financeiros. O plano recebeu 228 votos contra e 205 votos a favor e as ações despencaram  imediatamente em reação ao resultado, com o Dow Jones caindo 705 pontos na mínima  intraday.

A derrota ocorreu apesar dos líderes da Câmara terem mantido a votação aberta  além do limite de tempo de 15 minutos, com os defensores do plano incapazes  de convencer um número suficiente de deputados de ambos os partidos a mudarem  seus votos contrários. A derrota é um importante revés para a administração Bush, especificamente o  Departamento do Tesouro, assim como para os legisladores que trabalharam durante  a última semana para viabilizar o pacote, concebido como resultado do colapso  do Lehman Brothers Holdings Inc, do socorro do governo para a gigante American  International Group Inc (AIG) e da tomada do controle das agências hipotecária  Fannie Mae e Freddie Mac.

Crédito para exportações desaparece

São Paulo – O crédito para exportação, que estava escasso na semana  passada, secou de vez ontem para as empresas, após a rejeição pelo Congresso  americano do pacote de ajuda de US$ 700 bilhões às instituições financeiras  dos Estados Unidos. Para contornar a restrição de financiamentos, as companhias,  não apenas os exportadores, já estudam alternativas de emergência para obter  recursos financeiros. “O mercado parou”, afirmou Sérgio Amoroso, presidente do Grupo Orsa, um dos  gigantes do setor de embalagem de papelão e celulose, que fatura US$ 800 milhões,  dois quais US$ 300 milhões são provenientes de exportações. “Não sei o que vamos  fazer”, disse o executivo.

Segundo ele, uma das alternativas é o desconto de  duplicatas. “Mas estamos estudando.” Além da restrição do crédito à exportação, Amoroso conta que muitos importadores  da China e da Europa decidiram cancelar parte dos pedidos, temendo a desaceleração  da demanda em seus países. “O momento é preocupante”, resumiu o executivo que  optou por segurar R$ 30 milhões restantes que investiria no aumento da capacidade  de produção das fábricas programado até dezembro deste ano. Além do setor exportador, Ricardo Hingel, diretor do Banrisul, lembrou que outros  começam a sentir o impacto da crise de oferta de crédito no dia a dia. Nesse  rol ele aponta as lojas de varejo, que têm boa parte das vendas financiadas.  “A taxa de juros já subiu e a tendência é encurtamento de prazos de pagamento.  Estamos avaliando as políticas de redução”, diz ele. Também as construtoras, que recentemente abriram o capital e compraram inúmeros  terrenos na expectativa de conseguirem facilmente recursos de crédito imobiliário  dos bancos para erguer os empreendimentos, começam a recorrer novamente ao mercado  para se capitalizarem.

País possui reservas para enfrentar crise

Belo Horizonte  – O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles,  afirmou ontem que os dados macroeconômicos ainda não mostram um impacto  severo da crise norte-americana sobre a economia brasileira. Ao discursar na  abertura do seminário do próprio Banco Central sobre microfinanças, em Belo  horizonte, Meirelles fez questão de ressaltar que a crise atual não está centrada  no Brasil nem em outro país emergente. Ele reafirmou que a crise é severa mas  que, no entanto, “não nos torna imune ao que ocorre na economia mundial”. Segundo ele, o País possui arcabouço sólido com o montante de reservas internacionais  que chegam a US$ 207 bilhões, suficiente para cobrir três vezes a dívida vincenda  em 12 meses. “Nenhum país está imune à crise, mas a resistência que o Brasil  adquiriu nos últimos anos melhora a capacidade de resistência da economia”,  disse.

Meirelles enfatizou que o BC continuará monitorando o desenvolvimento da crise  com atenção “e tomará todas as medidas que forem necessárias, bem como o governo,  no sentido de enfrentar a crise de maneira a preservar o bom funcionamento da  economia brasileira”. Ao final do discurso, ele afirmou que o BC encara a crise  com seriedade, mas que aguarda o resultados. 

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