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Câmbio desfavorece estrangeiros

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Sílvia Ribeiro Dantas – Repórter de Economia

A mudança no perfil do turista que aporta no Rio Grande do Norte durante os últimos três anos, fazendo com que poucos estrangeiros sejam vistos realizando passeios nas cidades potiguares, teve o fortalecimento do real – frente ao dólar e ao euro – como fator determinante. De acordo com especialistas, o câmbio foi decisivo para esse cenário, pois o real forte faz com que os turistas estrangeiros tenham que desembolsar valores superiores em território brasileiro, do que em países do Caribe e do norte da África, cujas moedas são menos valorizadas do que a brasileira.

Real forte transformou o Brasil em destino caro para europeusA predominância de brasileiros entre os turistas que chegaram em território potiguar durante o ano passado fica clara ao observar que, do total de 2,6 milhões de visitantes, apenas 7% eram estrangeiros. Apesar disso, empresários do setor turístico norte-riograndense não consideram o estado como um destino caro, em comparação com outros locais que exploram o turismo de sol e mar, dentro do Brasil.  Para eles, o real forte fez com que todo o país ficasse dispendioso para os turistas estrangeiros, que vêm principalmente da Europa e têm a opção de passar férias em outros locais que também exploram o turismo de sol e mar.

De acordo com o proprietário da JSC Turismo, Murillo Felinto, com o encarecimento do Brasil junto ao mercado europeu, o Rio Grande do Norte perdeu uma grande parcela dos turistas internacionais, pois era um dos estados que mais recebia visitantes estrangeiros. Além disso, ao contrário do que ocorria há até pouco mais de cinco anos, o atual momento da economia favorece a ida do brasileiro para outros países. “Para se ter uma ideia, através da minha operadora, mais de 500 pessoas saíram de Natal para passar o réveillon em Lisboa e até o próximo dia 30 de abril, 711 pessoas devem embarcar para o Caribe”, exemplifica.

Felinto acredita que, para que o estado recebesse mais turistas, seria preciso fortalecer a infraestrutura aeroviária do país. Para ele, faltam aeronaves para trazer visitantes, uma vez que nos últimos anos, algumas grandes companhias aéreas faliram. “E com o surgimento de empresas que trabalham com custos reduzidos, vemos que a maioria das pessoas que utiliza avião hoje, há cerca de 10 anos viajava apenas de ônibus. Isso é bom, porque Natal começou a receber um público formado pelas classes C e D, mas ainda há mutos problemas nesse setor”, diz.

Para modificar o quadro, o presidente do Natal Convention & Visitors Bureau (Natal CVB), George Costa, diz ser preciso investir muito em publicidade, procurando mostrar aos estrangeiros que, mesmo o Brasil sendo um pouco mais caro, vale a pena conhecer o país. “O nosso produto é muito bom para os estrageiros. Quando as pessoas vêm para Natal gostam muito da Via Costeira, de Ponta Negra, do ‘pé na areia’ e isso é um atrativo muito interessante para esse público”, enfatiza.

Operadora portuguesa

Comparando o Rio Grande do Norte com países do Caribe, o diretor da operadora portuguesa TerraBrasil, Eduardo Pinto Lopes, afirma que os preços praticados nos países da América Central são mais atrativos, além de contar com o regime tudo incluído, no qual toda a alimentação no hotel faz parte da diária.

Demonstrando a realidade do seu país, ele diz que, por meio da empresa administrada por ele, o viajante português desembolsa cerca de R$ 2,1 mil por um pacote em Natal, em apartamento duplo e sistema de alojamento e pequeno almoço (APA). Já para conhecer a capital cubana, Havana, o turista pagar pacotes que vão de R$ 1,1 mil, também no sistema APA, até R$ 1,5 mil, no regime tudo incluído.

Cotação influencia outros setores

O real está supervalorizado e atrapalha não apenas o turismo, mas diversos setores da economia brasileira vem sofrendo com isso, como os setores de calçados, eletrônicos e automóveis. A avaliação é do professor do departamento de Administração do Centro Universitário da Fundação Educacional Inaciana (FEI),  Braulio Oliveira.

Na avaliação do professor, o ideal é que o dólar passe a valer pouco mais de R$ 2, para que haja uma espécie de câmbio neutro. Assim, não haveria prejuízos nem para importadores, nem para quem atua com exportação de produtos. “Atualmente, o cenário é desfavorável para os exportadores. Mas quando o dólar valia quase R$ 4, também não era bom para o país, uma vez que inibia as importações”, analisa.

Além disso, explica Oliveira, com a moeda brasileira forte, há uma desindustrialização do país e, como a economia brasileira é bastante diversificada, isso é muito negativo. “Neste cenário, as próprias indústrias passam a preferir importar os produtos, deixando de utilizar matérias-primas e força de trabalho nacionais”, afirma.

Em relação às medidas que podem ser tomadas para fortalecer o turismo, voltando a atrair os estrangeiros, o professor de administração garante ser necessária uma união de todos os setores. “A sociedade brasileira precisa pressionar o poder público por uma mudança. Senão, cada setor irá procurar se favorecer isoladamente”, avalia.

Ao contrário dos empresários natalenses, Bráulio Oliveira considera o Brasil um destino caro e diz que, além do fortalecimento do real, a alta carga tributária brasileira contribui bastante para isso. “É fácil perceber isso, quando viajamos e encontramos os mesmos produtos comercializados no Brasil, sendo vendidos pela metade do preço cobrado aqui”, conta.

Esporte

Oliveira cita a Copa do Mundo no Brasil, em 2014, e a Olimpíada, que será realizada no Rio de Janeiro em 2016, como duas oportunidades de voltar a atrair os estrangeiros para o Brasil. “Os eventos terão a participação de atletas e público do mundo inteiro e temos que aproveitar essa exposição”, conclui.

Prefeitura investe em divulgação

Para atrair os turistas estrangeiros a Natal, a administração municipal está investindo em divulgar o destino fora do país. Um exemplo foi a Semana de Natal em Lisboa, que foi um conjunto de ações promocionais realizado na capital portuguesa, entre os dias 25 e 30 de junho de 2009, contando com uma comitiva de 40 potiguares, entre empresários, políticos e personalidades do estado. “O impacto de ações como essa não é tão fácil de ser percebido, porque ainda há uma crise econômica afetando a Europa. Mas com a iniciativa em questão, conseguimos manter importantes voos entre Natal e Portugal, que é também uma ponte para negócios entre esses locais”, afirma o secretário-adjunto de Turismo do Natal, Sandro Pacheco.

O gestor chama a atenção para o fato de que o turismo doméstico tomou o lugar do internacional em terras potiguares, atribuindo dois principais motivos para isso. De acordo com Pacheco, houve uma mudança substancial no perfil dos visitantes, após o início da crise financeira mundial, em 2008, que atingiu a Europa com muito mais força do que o Brasil. “Além disso, na última década, a classe C brasileira passou a ter maior poder de consumo, fazendo com que essa parcela da população pudesse ter acesso a itens que antes eram inacessíveis, como pacotes turísticos”, completa.

Para os próximos anos, Sandro Pacheco espera uma mudança na política cambial brasileira, que deixará o real e o dólar mais equilibrados do que hoje. Atualmente, a moeda americana está valendo R$ 1,68. “Com um leve fortalecimento do dólar, Natal voltará a competir com destinos mais próximos da Europa e que também exploram o turismo de sol e mar”, afirma.

Aeroportos

Em relação aos terminais aéreos, ele acredita que a abertura para a iniciativa privada deverá ser bastante positiva para o turismo. “Com aeroportos deixando de ser administrados apenas pela Infraero, o Brasil se abrirá ainda mais para o mundo”.

bate-papo: Luiz Henrique Lessa » Presidente da Adit

“O mercado interno está consolidado”

Quais consequências a valorização do real pode trazer para o turismo brasileiro?
Há o aumento de custos para o turista estrangeiro que chega ao país, ao mesmo tempo em que percebemos uma desvalorização de custos dos brasileiros no exterior.

Com isso, houve redução na quantidade de estrangeiros que chega ao Brasil?
Não, já que foi registrado um aumento de 2% nos desembarques internacionais em 2010. O volume está crescendo, mas em uma velocidade bem inferior à do turismo nacional, uma vez que os desembarques domésticos cresceram 15% no ano passado.

O que provocou esse crescimento expressivo no turismo doméstico?
A melhoria na renda do brasileiro e o câmbio atual. Hoje, quem viaja dentro do país é, principalmente, a classe C, que agora pode se planejar e conhecer outras cidades. Já as pessoas das classes A e B terminam optando por visitar outros países, ao perceberem que, com o real forte, pela mesma quantia gasta em território nacional, elas podem viajar pela Europa, por exemplo.

Neste cenário, as cidades do Nordeste do Brasil pode ser consideradas como destinos caros?
Acredito que não. Ao longo dos últimos anos houve, sim, um aumento no preço de serviços e produtos consumidos pelos turistas dentro desta região do Brasil. Mas comparando com a realidade do Rio de Janeiro, São Paulo ou Florianópolis, vemos que os valores cobrados são equivalentes.

Quais são as perspectivas para a atividade turística brasileira, nos próximos anos?
O mercado interno está consolidado, com perspectivas de crescimento. Mas é necessário um desenvolvimento dos equipamentos turísticos, para fortalecer a atividade, que deve ir desde a prestação de serviços até a melhoria na rede hoteleira. Precisamos lembrar que receberemos a Copa do Mundo em breve.

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