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Caminhada

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Andreia Clara Galvao [  Psicologa]

Era 1920 quando o escritor alemão Hemann Hesse, vencedor de prêmios Goethe e o Nobel de Literatura, resolveu empreender uma longa caminhada. Deixou  para traz o trabalho de professor universitário e de intelectual que dava palestras e debatia sobre questões da cultura, e abriu-se para o caminhar.  Saiu só, levando consigo apenas uma pequena mochila e nela um caderno de apontamentos, lápis, uma aquarela e alguns poucos pincéis. Ainda pouquíssimas mudas de roupas e algum dinheiro, também pouco.

Buscava o além fronteiras. Andou longamente entre Alemanha e Suiça. Queria as distâncias, a solidão, a humanidade nos encontros breves com os que ia encontrando pelo caminho. Queria estradas outras, pensamentos novos, escutar os riachos, “espreitar os crepúsculos mais e mais…” Quis também a memória e a saudade do que havia ficado para traz. Buscou e encontrou um Deus profundo que pressentiu no silêncio, na natureza e nas pessoas. E seu caminhar era como uma oração. Ele que era filho de missionários protestantes, viveu parte de sua infância na India, desde ali conheceu o  budismo, e que passou a maior parte da sua vida se dizendo convictamente ateu.

Em sua caminhada Hesse dormia em albergues, ao relento, na casa de algum morador dos campo que o acolhesse por uma noite. “Como é belo transpor fronteiras!… Dizia ele, referindo-se ao deslocamento dos espaços e aos horrores das guerras. “É o desdém pelas fronteiras que tornam os andarilhos guias do futuro”.

Que fazemos ao caminhar? A que lugares nos levam nossos passos? O que é o caminho, meu querido leitor?

 “ Deixe-me ir preciso andar, vou por aí a procurar, rir para não chorar. E se alguém por mim perguntar, diga que eu só vou voltar, quando eu me encontrar… depois que eu me encontrar…” Cantou Cartola. O maravilhoso compositor sambista.

Caminhar é uma das primeiras aquisições do ser humano. Vem com o primeiro ano de vida. Se você tiver oportunidade, veja a alegria e jubilo das criancinhas aprendendo a andar. Caminhar é de graça, não exige novas habilidades, pode ser feito a qualquer hora do dia, não tem restrição de idade. Caminhar mexe o corpo e o protege dos cimentos paralisantes do sedentarismo. Caminhar nos leva para o mundo, as ruas. Sobretudo, caminhar provoca deslocamentos dentro de nós, oferece-nos renovações das mente.

Pensamentos também são caminhos. Fazer uma psicanálise é caminho. É viagem dentro das próprias ideias e sentimentos. Sonhos são caminhos. Amor é caminho. Saudades e memória são caminhos.

Ao fim de sua caminhada, o caderno de apontamentos de Hesse transformou-se num livrinho lindo chamado “ Caminhada” onde estão algumas de suas aquarelas. E onde ele escreveu:  “…Algumas poucas coisas com as quais eu me importo muito: É sentir que a vida palpita em mim, quer seja na ponta da língua ou na planta do pé, quer seja no prazer ou na tortura, que meu espírito seja vivaz, que eu possa transformar-me em inúmeras fantasias e formas…”  Você tem caminhado, leitor? Que anda você procurando ou descobrindo ao caminhar?

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