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Caminhando lado a lado

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Vicente Estevam
Repórter

Gabriel Kalki Tinoco de Rezende, 17 anos, e Ranieri Damasceno Pereira, 15 anos, são dois jovens que têm em comum o sonho de se transformar em jogador de futebol profissional. Mas não é apenas um objetivo em comum que une os dois colegas, hoje treinando nas divisões de base do Globo, em Ceará-Mirim. Ambos conseguiram fazer os seus pais compartilharem o mesmo sonho e seguir a mesma rotina de quem um dia pensa em se tornar um jogador de alto nível.
Flávio Rezende não mede esforço para acompanhar o filho Gabriel nos treinos. Ele absorveu a rotina do garto e faz questão de acompanhar os passos do garoto bem de perto
O pais que escolhem participar e se empenhar para que os filhos realizem os seus grandes objetivos, não conhecem o significado da palavra barreira. Esse pelo menos é o exemplo dado pelo jornalista Flávio Rezende, 54 anos, e a dona de casa e motorista de transporte escolar Fabiana Teixeira Damasceno, 34 anos.

Haja o que houver, eles sempre arranjam um tempo para estar presentes ao lado dos pupilos em dias de treinos e de jogos que, no Globo, são realizados sempre as terças, quintas e sábados. Flávio Rezende mora em Natal, a mais ou menos 40Km do centro de treinamentos do Globo e já incluiu essa viagem com o filho em sua rotina. Não há compromisso mais sério que o impeça de estar com Gabriel. Já Fabiana, devido ao tipo de trabalho, nem sempre tem a mesma oportunidade de levar o garoto Ranieri ao treino, mas sempre arranja uma brecha de passar no CT, acompanhar o menino e levar ele de volta para casa.

“Há três meses vivo essa rotina. Nós moramos em Taipu, que fica a uns 20 Km de CT e acordo ele bem cedo para que se apronte para o treinamento. Geralmente não trago meu filho por que saio bem cedo, ele vem de ônibus, mas eu sempre dou um jeito de passar aqui para trazer o lanche dele e levar ele para casa”, contou Fabiana.

Fã número um do filho, mesmo antes da fama, ela se mostra capaz de tudo para ver a felicidade do garoto. Perguntada se abria mão dos seus próprios sonhos para que Ranieri realizasse o dele, ela não titubeou: “Claro que sim”. “Quem não pensa em ganhar um prêmio grande e ter uma vida confortável? Pois se Deus me colocasse para escolher entre ganhar um prêmio desses e ver meu filho com o sonho realizado, eu não pensaria duas vezes. Escolheria o melhor para ele, pois a felicidade de Ranieri será a minha felicidade também”, exemplificou.

Não importar se faz sol ou chuva, importa estar incentivando o filho da melhor forma possível e, para tanto, não se pode medir qualquer tipo de esforço. Como são raros os pontos de sombra e abrigo no campo onde as bases do Globo treinam, o jeito é se acomodar dentro do carro. Se está calor eles abrem as portas, se chove eles se trancam todo no veículo, mas não arredam o pé antes do treino acabar, por volta das 11 horas da manhã. Isso é o mínimo perto daquilo que Flávio Rezende já fez para ajudar fazer Gabriel conquistar a meta traçada desde criança.

“Desde de pequeno eu é quem levo Gabriel para os treinos. Começou na escolinha da AABB, passamos pelo ABC, fomos a Portugal onde ele fez teste no Acadêmico de Coimbra e chegamos a bater nos Estados Unidos, onde ele foi aprovado para treinar nas bases do Boston City”, afirmou Rezende.

Mas essas duas tentativas de iniciar uma carreira internacional de forma precoce, acabaram não dando certo por questões distintas. Em Portugal, apesar de aprovado no teste, o clube disse que não teria condições de fornecer abrigo no CT a Gabriel, como nem Flávio e nem a mãe do garoto poderiam deixar o Brasil para fixar residência em Portugal, a situação se tornou inviável. Já nos Estados Unidos o problema foi uma questão muito comum do menino que deseja se tornar um jogador de futebol: a saudade!

“Ele ficou hospedado na casa de um casal amigo  lá em Boston. Mas como a neve no período que Gabriel foi é muito rigorosa, os treinos no clube atrasaram e, por ser um rapaz caseiro, ele começou a sentir muita saudade. Ai meu coração apertou e mandei que ele votasse. Se a coisa tiver de dar certo será aqui no Brasil mesmo. O esforço que precisar se feito eu estarei pronto para fazer”, ressaltou Flávio Rezende.
Ranieri Damasceno sonha em se tornar um jogador de futebol e jogar num grande clube europeu. A mãe Fabiana acompanha
Marcone Barretto avisa só 1% vence no futebol
O presidente do Globo, Marcone Barretto, é um entusiasta com os trabalhos nas divisões de base, ele aposta alto no sucesso do empreendimento que cultiva, mas sabe que ainda falta muito para conquistar o patamar desejado. Porém, quando fala aos jovens que chegam para treinar na sua equipe, o faz com a sinceridade de quem conseguiu ter sucesso na vida fora das quatro linhas.

“Sempre no início dos trabalhos anuais com a turma das bases eu faço uma palestra, mas faço questão de deixar claro que na carreira de futebol, dos meninos que chegam com a finalidade de realizar um sonho, apenas um ou dois vingarão”, destacou.

O empresário disse que procura mostrar a realidade do mundo de futebol que , se encanta por um lado, também exige bastante dedicação e um senso de profissionalismo muito cedo aos atletas. “Essa relação entre o mundo do futebol e o mundo dos estudos é completamente inversa. No esporte apenas 1% consegue vingar através do seu talento, já no mundo dos estudos, 99% daqueles que resolvem seguir uma carreira obtêm sucesso. Isso deve ficar muito claro para todos”, ressalta Barretto.

O empresário reconhece que a estrutura de trabalho que oferece hoje a garotada ainda não é a ideal. Num mundo cada vez mais competitivo, onde os detalhes fazem uma grande diferença, os garotos da base do Globo, por questão de limitação financeira, treinam apenas as terça e quintas-feiras e no sábado realizam partidas amistosas. Mas promete melhoras.

Meta de virar atleta é uma prioridade
A determinação para correr atrás do sonho de se transformar em jogador de futebol é tanta, que para Gabriel e Ranieri parecem não existirem um plano B. Os dois que se conhecem há três meses — quando desembarcaram na escolinha do Globo — sabem que terão de perseguir o sonho com afinco e procuram não relaxar.

Os estudos acompanham o desenvolvimento da carreira, os pais cobram notas boas para manter o incetivo dado aos filhos, pois estão devidamente informados sobre as armadilhas que o futebol pode provocar.

Como sabe que não pode relaxar, Gabriel Rezende se disse propício a buscar uma graduação em administração. Apesar de gostar muito de Esporte ele declinou da possibilidade de trabalhar com Educação Física, uma atividade diretamente ligada ao meio.

Ele disse que contar com a figura do pai sempre ao lado tem as suas vantagens. “Ele passa confiança e sei que o maior sonho dele é que me realize profissionalmente. Por isso, nada pode me fazer desistir do meu sonho”, ressaltou Gabriel.

Com 15 anos, Ranieri sequer pensou qual carreira pretende seguir se não for a de jogador. Mas ele disse que a mãe Fabiana Damasceno, sempre faz questão de manter os pés dele fincados ao chão. “Uma mãe sonha muitas coisas para o filho, mas sei que me ver realizado vai satisfazer o desejo dela. Por enquanto, ainda não pensei em outra carreira, mas me mantenho firme nos estudos. Não gostaria de desiludir minha mãe, por isso me esforço para fazer tudo direito”, salienta Ranieri Damasceno.

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