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Campos

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Dácio Galvão [ [email protected] ]

A conversa correu amena por entre os serrotes da Vila Ida na antessala do estúdio de onde se pode enxergar pela porta aberta sabiás saltitantes no arvoredo no meio de uma manhã sem arrebol que prometia ser fria.

Passeando o olhar vão surgindo guitarras o maquinário característico e a ambientação de quem respira palavras sonorizadas em movimento, palavras fraturadas em prosa ou poesia. Um exemplar de EXpoesias e objetos poético da Caixa Preta. Cid Campos logo destila o exitoso espetáculo de fechamento da exposição REVER do poeta, tradutor, crítico e ensaísta Augusto de Campos, seu pai, último a arrebatar o prêmio Pablo Neruda, com a curadoria assinada por Daniel Rangel armado de meios como os vídeos 3D, colagens, esculturas, músicas, instalações, holografias. Puríssima metalinguagem. Desde sempre a produção do concretista não cabe só em livro.

Profundo manipulador de sons Cid se especializou em tratamentos sonoros pairando sempre na fronteira limiar da melodia e do experimento musical. É craque nessas artimanhas, tem talento como ninguém. Vai falando e remetendo ao grande final. Montou uma banda e estruturou o SOMPOESIA espetáculo que contou com ilustríssimas participações interpretativas poemáticas de Péricles Cavalcanti, Arnaldo Antunes, Tom Zé e Caetano Veloso e do próprio Augusto de Campos. Claro que esses artistas parceiros cantaram poemas do homenageado ou quando não letras que se relacionavam com a influência da poesia concreta. Na canção Sampa, de Veloso, poetizando a cidade de São Paulo, referencia a “dura poesia concreta de tuas esquinas”. Os ingressos não sobraram. Foram esgotados. Muita história no palco daqueles que escreveram com coragem e eterna rebeldia escancaradas no repertório artístico lutando para a conquista de liberdades e utopias. Sempre.

A conversa vai derivando para outro vértice projetando possibilidades de retomadas de trabalhos que realizamos através do selo Projeto Nação Potiguar. Poemas de vários autores potiguares entre eles Câmara Cascudo, Jorge Fernandes, João Gualberto Aguiar, Anchieta Fernandes, Francisco Ivan, José Bezerra Gomes e vários convidados recitando: Arrigo Barnabé, Tetê Espíndola, Tadeu Jungle, Lenora de Barros, Augusto de Campos… A colaboração de CC foi vital para o alargamento estético do dos CD’s produzidos. Falamos do repertório signíco dos ferros de marcar boi, caprinos e identificador de ribeiras provocando pesquisas artísticas e antropológicas em Ariano Suassuna, Oswaldo Lamartine e Virgílio Maia. A voltagem arbitrária das significações enquanto desenho e a complexa origem apontada em pesquisas em direções difusas como o parentesco no desenho de runas, de inscrições rupestres, somado ao feito transgressor do homem não letrado e campesino foi destilado naquele canto ali na urbe paulistana nos motivando para nova imersão temática como acontecera no poema Sertão Heráldico.

A leitura linguística do trabalho de Abraham Palatnik, de Raul Córdula como perspectiva futura de elaborarmos peças experimentais e a instalação Oca, que o multiartista Bené Fonteles, apresentará na próxima Bienal de São Paulo verbalizamos no rebate. Assim nesses confrontos estéticos de lógicas dominantes nos identificam e nos seduzem de graça.

Vamos chegando ao fim da manhã quando já tenho que me arrancar declinando do convite para o almoço. Antes vou ao banheiro e me deparo com Marcel Duchamp estampado em pôster acima do vaso sanitário sentado numa poltrona me olhando fortemente. Que grata surpresa! Comento o alegre impacto. – Foi do Augusto, me disse.  Aproveito e deixo um abraço para o pai e sigo no roteiro de outro compromisso menos estimulante e gerador de outras expectativas. Consulta médica! Rsrsrsrsrs.

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