Ramon Ribeiro
Repórter
Em meados de 2014 a cantora potiguar Antoanete Madureira iniciou uma investigação em cima do cancioneiro norte-riograndense. Seu objetivo era não apenas tomar conhecimento da riqueza poética e melódica escondida nas gavetas de vários compositores atuantes em Natal, como montar um repertório para apresentar ao vivo. Depois de quatro anos de pesquisa e de alguns shows, Antoanete reuniu um pouco das suas descobertas na forma de um disco, o primeiro da carreira, chamado “Virou Flor”. O trabalho foi disponibilizado gratuitamente no site da cantora (www.antoanetemadureira.com.br) e nas principais plataformas digitais no final de maio. Entre setembro e outubro, quando chegar o disco físico, a potiguar promoverá um show de lançamento.
Antoanete Madureira pesquisou raridades do cancioneiro local. De
Nivaldete Ferreira a Antônio Ronaldo, Romildo, Nagério e outros
Em sua pesquisa, cujo projeto era denominado Suave Potengi, Antoanete visitou diversos compositores em busca de seus acervos inéditos. No processo ela esmiuçou centenas de músicas, dentre trabalhos antigos e contemporâneos. Ela fez uma primeira filtragem que rendeu 80 canções para testar algumas junto ao público numa temporada de shows no Bardallos, no ano de 2016. Para o disco, a preparação começou no ano seguinte, em 2017, quando fechou o repertório em 13 músicas.
Dentre os compositores presentes no disco estão Antonio Ronaldo, Roberto Homem, Nagério, Lupe Albano, Nivaldete Ferreira, Samir Almeida, Babal, Romildo Soares, William Guedes e Franklin Mário. Franklin faleceu no dia 30 de maio depois de dois anos lutando contra um câncer de estômago. Ele e Antoanete estavam a três anos juntos.
“Franklin Mario é um dos maiores responsáveis por esse disco. Sete composições são dele ou contaram com a participação dele. As outras seis são de amigos e parceiros musicais. Através dele conheci Antônio Ronaldo, Roberto Homem, Babal, Samir Almeida, Jow Ferreira, Nivaldete. Ele deixou de legado musical pra mim a parceria com todos esses artistas incríveis”, comenta a cantora.
Disco traz riqueza poética e melódica escondida na obra de vários compositores potiguares
Antoanete produziu o disco de forma independente. Para dar vida às músicas ela contou com um time de músicos de destaque na cena natalense. Darlan Marley, na bateria, Ramon Gabriel, na percussão, Erick Firmino, no contrabaixo elétrico, Jubileu Filho, na guitarra e violão, e Eduardo Taufic no teclado e na direção musical. “Os arranjos são todos assinados pelo Taufic. É um amigo e músico excepcional. No disco todo conto com instrumentistas de primeira linha”, diz a potiguar, que além de cantora, é professora universitária. “Juntei dinheiro ao longo dos quatro anos de pesquisa para produzir esse disco. Foi o dinheiro mais bem pago da minha vida”.
A maior parte das composições foram escritas nos anos 2000. As mais antiga é a faixa título, “Virou Flor”, composta pelo poeta Antônio Ronaldo em 1976. Segundo Antoanete, as canções giram em torno de dois temas centrais: o universo da cidade, no caso Natal, e da vida, a partir de um olhar de ressurgimento e crescimento. Quanto expressar a capital potiguar, onde melhor pode se ver essa ideia, de acordo com a cantora, é na canção “A Cidade em Movimento”, composta em 1999, por Franklin Mário. A música, por sinal, foi inspiração para a arte da capa do disco, assinada pelo artista potiguar Carlos Sérgio Borges. Mas aspectos de Natal também podem ser vistos nas faixas “Suave Potengi”, feita por Antonio Ronaldo especialmente para o projeto, “Caravela Portuguesa”, de Roberto Homem, a partir da tese de Lenine Pinto de descoberta do Brasil pelo RN, e “Remanso Manso”, sobre o Rio Potengi, composta por Nivaldete Ferreira, única compositora mulher presente no disco.
Das suas descobertas na pesquisa, a música “Imperador do mundo”, composta em 1999 por Franklin Mário, foi uma das que mais lhe marcaram. “Essa música participou de diversos festivais pelo Brasil, chegando a ser premiada em Minas Gerais. É uma canção que fala de vida, a partir da vida de uma criança. Foi muito bem aceita nas apresentações do Suave Potengi. É uma espécie de hino à vida”, comenta a cantora, que se prepara para apresentar o trabalho ao vivo o quanto antes.