sábado, 20 de abril, 2024
25.1 C
Natal
sábado, 20 de abril, 2024

Candidatos tentam vincular imagem a Jair Bolsonaro

- Publicidade -

Luiz Henrique Gomes
Repórter

O uso de políticos nacionais nas candidaturas à Prefeitura de Natal nas eleições deste ano se destaca durante a propaganda eleitoral pelas menções diretas ao presidente Jair Bolsonaro por mais de um candidato. Sem partido desde que saiu do PSL no ano passado, Bolsonaro optou pela neutralidade no primeiro turno das eleições na maioria das cidades, mas isso não impede os candidatos de utilizarem a imagem do presidente na tentativa de ganhar votos. A estratégia não é nova e não se restringe ao atual presidente. O candidato do PT, Senador Jean, também planeja utilizar a imagem do ex-presidente Lula para aumentar a popularidade.
Jair Bolsonaro está sem partido e preferiu evitar vínculo direto com campanhas nas capitais
Nos dez minutos de propaganda eleitoral na televisão, o presidente Jair Bolsonaro é citado, de uma forma ou de outra, pelos candidatos delegado Sérgio Leocádio (PSL), coronel Azevedo (PSC) e coronel Hélio Oliveira (PRTB). Os dois últimos têm, respectivamente, 14 e 15 segundos de tempo na TV e aproveitam o pouco tempo para fazer menção direta a Bolsonaro ou para repetir bordões da campanha do então candidato nas eleições de 2018. “Sou Bolsonaro”, diz simplesmente o coronel Azevedo no fim da sua peça publicitária. O coronel Hélio Oliveira se utiliza de outra forma: inicia a propaganda com a frase “Deus, pátria e família” e finaliza com “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos.”

Dos três, o delegado Sérgio Leocádio (PSL) é o que possui mais tempo de televisão (1 minuto e 49 segundos). Com o programa mais amplo, ele explora os temas de combate à corrupção a partir da atuação com delegado da Polícia Civil e faz críticas diretas ao prefeito e candidato à reeleição Alvaro Dias (PSDB), mas não deixa de fazer menção ao presidente. Leocádio aproveita a associação dos números eleitorais por fazer parte do PSL, partido em que Bolsonaro se elegeu em 2018, e lembra no fim da propaganda eleitoral: “Você que votou 17 para presidente, vote 17 para prefeito.”

Os três disputam entre si quem é o “verdadeiro candidato de Bolsonaro”. Azevedo afirma no jingle de campanha que “a força de Bolsonaro em Natal é coronel Azevedo”; Hélio Oliveira mostra um vídeo caseiro em que o presidente Jair Bolsonaro o chama de prefeito em um encontro e deseja boa sorte; e Sérgio Leocádio reivindica para si a legitimidade de fazer o gesto das arminhas com a mão – marca que ficou conhecida durante a campanha de Bolsonaro em 2018 –  por ser delegado.

A estratégia de usar políticos nacionais populares para alavancar candidaturas é conhecida, mas a distribuição entre mais de uma candidatura de uma mesma cidade é nova. Como Bolsonaro não está em um partido e não declarou apoio explícito aos candidatos, a imagem dele não fica restrita ao uso de um partido específico, como exige a Justiça Eleitoral. Isso diferencia o que acontece, por exemplo, na utilização da imagem do Lula, restrita a candidaturas petistas ou da coligação que o partido faz parte. “A própria desarticulação política do presidente Jair Bolsonaro possibilita essa distribuição”, comentou o publicitário João Maria Medeiros.

Se, mesmo sem o apoio explícito, a estratégia utilizada pelos três vai ser eficaz para conquistar os votos, somente as eleições irão mostrar. Mas, caso seja eficaz, também resta a dúvida se a transferência de votos vai ser para um candidato ou dividida entre os três. Publicitários com experiências de campanha política divergem quanto a isso. Medeiros acredita que a distribuição será entre os três candidatos, impedindo de um deles sobressair por esse critério. O publicitário Arturo Arruda, por outro lado, acha que a possibilidade maior é a transferência ser concentrada. “Caso aconteça a transferência de votos, um vai ficar a frente dos outros. Já vejo isso acontecendo”, disse.

Candidato pretende intensificar uso da imagem do ex-presidente

A campanha publicitária do candidato Senador Jean (PT) vai utilizar a imagem do Lula, principal liderança do partido, na propaganda eleitoral das próximas semanas. Nos primeiros programas eleitorais, a presença do ex-presidente se restringiu às redes sociais do candidato petista. Na TV, os programas apostaram no uso de lideranças locais do partido para ganhar os eleitores. A equipe de comunicação do candidato ressaltou que não houve mudança na estratégia de utilizar lideranças nacionais para ganhar votos e que “se orgulha de suas lideranças nacionais”.

Historicamente, a imagem do Lula nas diversas campanhas petistas é comum. A estratégia é a de tentar a transferência de votos ao associar nomes como “o candidato do Lula”, mas tem uma diferença com relação ao fenômeno que acontece com o Bolsonaro nas eleições municipais de Natal este ano: a imagem e o uso é restrito ao PT ou a coligação que o partido compõe e não a diversos candidatos que disputam entre si.

Na campanha digital do Senador Jean, Lula aparece em vídeos e é mencionado em peças publicitárias postadas no Instagram. Um vídeo com a ex-presidente Dilma, outro nome nacional, também foi utilizado pelo candidato. Além dos dois, aparecem lideranças locais do partido. Na TV, as peças publicitárias mostram a deputada federal Natália Bonavides e o ex-deputado estadual Fernando Mineiro. A governadora Fátima Bezerra também deve aparecer durante a campanha.

O publicitário Arturo Arruda acredita que a diminuição do uso da imagem das lideranças nacionais está ligada a queda de popularidade do partido. O PT nega que houve mudanças de estratégia. “O Lula não é explorado na campanha porque a imagem dele e do PT, no geral, não está tão positiva quanto antes”, disse. “Vejo que a candidatura do PT aposta mais na apresentação da imagem dele com a associação a Natália Bonavides porque Jean Paul em si não é conhecido.”

Na avaliação de Arturo, o candidato petista não se utiliza tanto da imagem da legenda como fizeram candidaturas em eleições anteriores e perde com isso. As pesquisas mostram que o Senador Jean tem 2% das intenções de votos. “É um percentual abaixo do que o PT consegue em Natal, em torno de 10%. Isso pode ser tanto pelo desconhecimento quanto pela falta dessa associação direta dele com a legenda”, avaliou.

Para a equipe do candidato petista, as intenções de votos atuais fazem parte de um processo em que a população ainda está conhecendo o candidato. “A partir do momento em que esse fluxo ocorra [o candidato seja reconhecido], ele, naturalmente, crescerá nas intenções de voto. A campanha precisa ser avaliada em seu todo, portanto esse processo é natural”, disse.

Nas eleições municipais de 2016, a imagem de Lula já havia sido menos utilizada na campanha do então candidato do PT, Fernando Mineiro. No ano do impeachment da então presidente Dilma Rousseff, o PT enfrentava um desgaste na imagem que atingia também o ex-presidente. Isso foi diferente em eleições anteriores. Em 2012, Fernando Mineiro também foi candidato e mencionou o ex-presidente em suas peças publicitárias.

Neutralidade dificulta estratégia, dizem publicitários

Com experiências em marketing político, João Maria Medeiros acredita que a estratégia de associar a candidatura com um político nacional já foi eficaz, mas não é mais porque o perfil dos eleitores mudou. “O eleitor não busca mais o ‘candidato muleta’. Não é porque ele votou no Bolsonaro que ele vai votar em um candidato que está ligado ao Bolsonaro, ainda mais na situação em que o presidente não se envolve diretamente”, disse o publicitário, que não participa de nenhuma campanha nas eleições deste ano em Natal.

O publicitário Arturo Arruda, também com experiência em campanhas eleitorais e fora este ano, diverge da avaliação de que se trata de uma estratégia ultrapassada. Entretanto, concorda com Medeiros de que a mera associação ao presidente não transfere os votos. “É uma estratégia que funciona, mas para isso é preciso que essa figura nacional tenha empatia e se empenhe na transferência dos votos. Como o presidente optou por se manter neutro, essa transferência de votos com a associação se torna mais difícil.”

Uma pesquisa do Datafolha feita no dia 5 e 6 de outubro dá razão aos publicitários. A pesquisa perguntou a 1.092 eleitores de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Recife se votariam em nomes indicados por Lula ou por Jair Bolsonaro. Os resultados das quatro capitais mostraram que mais da metade dos eleitores não votariam em um nome indicado por nenhum dos dois líderes.

Para os candidatos que utilizam a imagem de Jair Bolsonaro, as menções ao presidente são naturais por fazerem parte de um “movimento bolsonarista” ou por terem uma “postura de vida” semelhante a do presidente. “Tenho direito de me alinhar com o sucesso do governo Bolsonaro, o qual ajudei a construir e lutar”, respondeu o coronel Hélio Oliveira (PRTB) ao ser questionado se acreditava que usar a imagem aumentaria os votos. À mesma pergunta, o coronel Azevedo (PSC) respondeu: “Sim, mas não só isso. [O uso da imagem] significa que fazemos parte do movimento ‘bolsonarista’”.

O delegado Sérgio Leocádio afirmou que a menção ao presidente Jair Bolsonaro faz parte de uma “admiração” e que considera legítimo o fato dos outros candidatos também fazerem alusão ao presidente.

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas